quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Uauuu: Voto das mulheres foi crucial para vitória de Barack Obama

Uauuu: Voto das mulheres foi crucial para vitória de Barack Obama

Ópera Mundi


Mulheres em luta pelo direito ao voto no início do século XX. Foto: Whatcom Museum of History and Art
O apoio das mulheres foi crucial para garantir um segundo mandato a Obama, que recebeu 55% dos votos femininos, enquanto Mitt Romney teve 43% deles. Nesta eleição, o poder de influência das mulheres sobre a política do país ficou evidente em diversos momentos, especialmente quando seus direitos e dignidade não foram respeitados por candidatos em seus discursos – incluindo Romney. A reação feminina era quase imediata, repercutindo na imprensa e obrigando políticos a se explicarem publicamente sobre suas declarações.
Nas eleições deste ano, as mulheres ganharam ainda mais importância no Senado com a vitória em dez estados, com destaque para Wisconsin, que elegeu a primeira senadora publicamente lésbica do país, a democrata Tammy Baldwin. Ao todo, são 20 mulheres ocupando cadeiras naquela casa do congresso norte-americano.
Mulheres fazendo leis
Se a influência feminina na sociedade ainda está longe de ser percebida com o peso que tem por muitos políticos norte-americanos, há mais de três décadas ela já é o pilar dos trabalhos da The Women’s Foundation of California, entidade não governamental responsável por dar suporte técnico e financeiro a diversas associações dedicadas aos direitos e interesses das mulheres.
Um dos projetos de maior impacto do grupo é o Women’s Policy Institute, programa de treinamento criado há cerca de uma década na Califórnia para formar mulheres legisladoras. A cada ano, o instituto capacita de 25 a 35 mulheres de diversas comunidades para que sejam capazes de criar projetos de políticas públicas e transformá-los em lei. ”Treinamos essas pessoas para conhecerem o processo de criação de políticas públicas e serem capazes de trabalhar com a implementação de leis que tenham impacto na vida das mulheres. Queremos que haja uma mudança profunda na vida das pessoas, e que essas mulheres tenham voz em Sacramento (capital da Califórnia)”, diz Judy Patrick, presidente da Women’s Foundation of California e uma das criadoras do Women’s Policy Institute.
Em entrevista concedida a este blog, Judy conta como é feito o trabalho do grupo, quais são seus pilares, a importância de se ter mulheres trabalhando na criação de políticas públicas e, o mais importante, as conquistas do WPI: 16 leis aprovadas na Califórnia  graças ao trabalho e influência do sexo feminino.
Qual o principal desafio para as mulheres da Califórnia atualmente?
Eu diria que é a segurança econômica. Os níveis de pobreza, especialmente entre mães solteiras, cresceu bastante nos últimos cinco anos. Elas continuam a receber menos do que os homens. As mães solteiras são obrigadas a sustentar suas famílias com praticamente nenhum recurso se não estiverem recebendo suporte do governo. Precisamos criar políticas públicas que dêem mais segurança econômica a essas mulheres.
De que maneira as mulheres podem resolver esse tipo de problema?
Há três formas de essas mulheres atuarem na esfera pública: votando, sendo eleitas para cargos públicos e advogando em causas públicas.
Quão difícil é trabalhar com a aprovação de leis na Califórnia?
Depende da lei. Há leis que custam muito dinheiro; outras precisam ser introduzidas para apreciação diversas vezes antes de ser aprovada e assinada.
Onde é usado esse dinheiro?
Vou te dar alguns exemplos: um dos problemas na Califórnia é que não temos lugares para que pais e mães deixem seus filhos quando saem para trabalhar. Nessa lei específica, usamos o dinheiro para treinarmos famílias de baixo orçamento para se tornarem provedores de cuidado diário para crianças. Outra lei requeria um conhecimento sobre a educação sexual nas escolas. O custo dessa lei foi o monitoramento das escolas para saber o que estavam ensinando nesse sentido. Em outra lei tentamos fazer com que pessoas condenadas por crimes graves pudessem ter acesso a food stamps (nome popular para programa do governo federal que oferece alimentação a pessoas de baixa renda). Nos Estados Unidos, 90% do custo dessa ajuda é federal, e os demais 10% ficam com o estado. Então o custo dessa lei foram os 10% restantes.
Quais os pilares desse programa de treinamento?
Há vários pilares. Um deles é que acreditamos que as pessoas próximas ao problema estão mais aptas a trabalhar na solução dele. Outro é que precisamos usar técnicas de aprendizado próprias para adultos, e adultos aprendem novas habilidades por meio da ação, aprendem fazendo. As pessoas, nesse programa, aprendem trabalhando no processo legislativo. Outro pilar é escolher um projeto de lei com o objetivo de aprender. Por exemplo: se você quer tentar passar uma lei que provavelmente vai ser rejeitada num primeiro estágio, sem chances de ir para as demais instâncias, você não terá aprendido muito. Ou seja, temos que escolher algo que seja realizável.
Outro pilar é: ninguém cria legislação sozinho. Esse é um trabalho colaborativo e você precisa trabalhar bem em conjunto com outras pessoas. Nesse projeto, as pessoas trabalham em times, e uma peça legislativa não evolui se você não tem uma grande variedade de pessoas trabalhando nela. Esses pilares são adaptáveis para outras realidades, seja a de uma outra cidade, de outros países.
Como essas mulheres entram em contato com legisladores e políticos?
Na Califórnia isso é muito fácil. Em primeiro lugar, você tem que acreditar no que está fazendo. Depois, há um desejo muito grande dos constituintes em envolverem-se no processo de criação das leis. Uma das coisas que fazemos desde o princípio é nos encontrarmos com diversas pessoas que estão no poder para pedir conselhos a elas. Hoje, nós convidamos essas pessoas a darem palestras aos participantes do curso e elas vêm. Pensando estrategicamente, precisamos construir essas relações, aprender a negociar com essas pessoas e resolver o problema. Me lembro de uma mulher que participou do programa de treinamento e, quando teve um encontro com uma dessas pessoas de poder, começou a acusá-la de não fazer o que devia ser feito. Essa pessoa simplesmente fechou-se ao diálogo. Depois, foi explicado à mulher em treinamento que ela precisava ser vista como alguém disposta a encontrar soluções, a trabalhar junto. Tinha que ser capaz de fazer o legislador trabalhar para ela. Hoje essa mulher é líder onde atua.
Você acha que mulheres pensando em políticas públicas para mulheres são mais eficientes do que homens pensando essas mesmas políticas?
Não quero estereotipar ninguém, mas é fato que as mulheres entendem melhor as necessidades de outras mulheres, e que as mulheres tendem a ouvir mais que os homens. No geral, os homens não entendem as necessidades femininas no mesmo sentido em que elas próprias. Por isso acho importante ter mais mulheres em cargos públicos, seria algo bom não apenas para nós, mas para todo mundo. O que sabemos é que quando as mulheres representam um terço ou mais do corpo político de alguma instância pública, o diálogo é melhor, mais rico, há menos hostilidade, as pessoas sentam para conversar e discutir política, o debate e as políticas públicas são melhores.
Que tipo de progresso já houve na Califórnia, em termos de políticas públicas, desde que o trabalho de vocês teve início?
Já conseguimos aprovar 16 leis , muitas delas com impacto muito positivo na vida das mulheres. Por exemplo: antes do nosso trabalho, se uma mulher na Califórnia estivesse na prisão, ela poderia ser algemada mesmo quando estivesse grávida. Nossa equipe trabalhou em duas leis, uma sobre o uso da algema em si e a outra falando sobre como as mulheres deveriam ser algemadas se estivessem sendo transportadas da prisão para o tribunal ou de uma prisão para outra. Outra lei que impacta muito é a que obriga empresas de cosméticos a colocarem em seus rótulos os ingredientes de cada produto. Uma das maiores mudanças, no entanto, é que temos cerca de 200 mulheres comprometidas em fazer parte do processo legal de criação de políticas públicas. No último ciclo de recursos públicos, o governador da Califórnia propôs cortes severos nos já pequenos recursos oferecidos às mulheres que dependem de programas sociais. Nosso trabalho e o de outros grupos foi essencial para fazer com que ele recuasse dessa decisão.
Que política pública relacionada às mulheres você acha que deveria ser implementada pelo novo presidente o quanto antes?
Assumindo que nós vamos manter o Obamacare (reforma no sistema de saúde idealizada por Obama e parcialmente aprovado até o momento), diria que a próxima coisa a se fazer seria aprovar o American Jobs Act (pacote de medidas do governo federal destinado a criar empregos). O AJA foi introduzido para apreciação, mas não se moveu por conta de divergências entre os partidos. Isso seria um grande avanço para todos, mas principalmente para as mulheres que pudessem estar empregadas.

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