quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Fotógrafo denuncia: Um grupo de 13 policiais me agride pelo simples fato de eu ter feito uma fotografia

Fotógrafo denuncia: Um grupo de 13 policiais me agride pelo simples fato de eu ter feito uma fotografia

Yan Boechat



Neste ano estive em diversos confrontos entre a população civil e as forças de segurança, em diferentes países. As mais violentas que acompanhei, inclusive, não se deram no Brasil. Quando estive na Tunísia, em fevereiro, fazendo uma reportagem sobre os dois anos do início da Primavera Árabe, o líder da oposição local, o advogado Cokri Belaid, foi assassinado. Sua morte mergulhou o país em uma semana de protestos, os mais violentos desde a queda do ditador Ben Ali. Foram dias e dias de embates ferozes pelas ruas de Túnis. Lá, como aqui, fotografei todos os acontecimentos, de perto, e nenhum policial fez, sequer, menção de me agredir.

Poucas semanas depois, já no Egito, fazendo a mesma reportagem, a absolvição de policiais, que mataram dezenas de manifestantes em Alexandria um ano antes, fez com que a população voltasse às ruas para protestar contra o presidente Mursi, que poucos meses depois cairia. Foram noites e noites de confrontos extremamente violentos entre centenas de jovens e as forças de segurança nas imediações da Praça Tahrir. Em Alexandria e em outras cidades, naquela semana, mais de uma dezena de manifestantes foram mortos. Novamente, nenhum policial me agrediu.

É óbvio ser incorreto afirmar que nesses dois países que mal conhecem a democracia e não compreendem a noção que nós temos do Estado de Direito, a polícia não seja violenta. Ela é, muito. Mas foi aqui, no Brasil, no meu país, onde existem leis que me protegem, em que a minha profissão é defendida por quem está no poder, onde a imprensa, em menor ou maior grau, é, sim, livre, que fui agredido por tirar uma fotografia.

Ontem fui espancado por um grupo de 13 policiais. Me agrediram com chutes, socos e cassetetes porque fotografei dois policiais batendo de forma covarde em um dos voluntários do GAPP, o Grupo de Apoio aos Protestos Populares. Foi uma agressão gratuita, que tinha como único objetivo me intimidar e impedir que eu praticasse o saudável e fundamental ato de registrar as coisas que acontecem em uma manifestação pública

Sou um jornalista com mais de 15 anos de carreira. Já atuei em alguns dos principais veículos de comunicação do país. Já estive, a trabalho, em países que não prezam exatamente pela liberdade de imprensa, como Irã, Afeganistão ou Angola. Já fui intimidado, mas nunca espancado por forças de segurança do Estado.

Sempre pautei meu trabalho pela seriedade e pela ética que rege minha profissão. Em todas as manifestações assumo única e exclusivamente o papel de observador, de repórter, mesmo, em algumas circunstâncias, tendo a certeza de que injustiças são praticadas diante de mim, seja pelo lado da polícia, seja pelo lado dos manifestantes que, como os policiais, muitas vezes também se excedem. Seja aqui, seja em qualquer lugar do mundo.

E, sim, eu gosto de estar perto da ação, tenho prazer em assistir ao vivo, com meus olhos, o desenrolar da história.

A agressão que sofri ontem, por sorte e pelo capacete que uso nos momentos de embate me deixou apenas marcas, mas foi extremamente grave pelo que ela representou. Fui agredido pela única razão de estar com uma câmera na mão diante do abuso de poder de um representante das forças de segurança. Minha carteira da Federação Nacional dos Jornalistas, que ampliei e colei em uma antiga credencial para expor, ainda mais, minha condição não foi nenhum impedimento para que o soldado da Polícia Militar iniciasse a agressão.

Foi tudo rápido. Ele bateu no rapaz, me viu fotografando e disse:

-- Não me fotografa, filho da puta.

Tentei mostrar minha carteira da Fenaj e gritei:

-- Estou trabalhando.

Ele levantou o cassetete e, antes de me acertar pela primeira vez, disse:

--Eu também

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