sexta-feira, 1 de abril de 2011

Carta pede para Dilma cumprir decisão de Corte da OEA

Reproduzo artigo da ISTOÉ Independente


Carta pede para Dilma cumprir decisão de Corte da OEA

Wilson Tosta

Uma carta aos três Poderes da República para exigir o cumprimento da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) que condena o Brasil por violações cometidas na repressão à Guerrilha do Araguaia foi divulgada hoje no Rio de Janeiro.

O documento, com mais de 600 assinaturas, foi enviado aos presidentes da República, Dilma Rousseff; do Senado, José Sarney (PMDB-AP), da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), e do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso; e ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. O texto começou a receber adesões em outros países das Américas na última semana e tinha lançamento previsto para evento de entrega da Medalha Chico Mendes pelo Grupo Tortura Nunca Mais na capital fluminense.
"Infelizmente, a sentença (do caso Gomes Lund e outros contra o Brasil) não foi cumprida pelo governo, que continua com um discurso como se cumprir sentença no sistema interamericano fosse self service", disse Beatriz Affonso, diretora de programa para o Brasil do Centro Pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil). Ela afirmou que o País é "absolutamente contraditório" quando acena com uma nova política de direitos humanos no plano internacional, mas se recusa a apurar seus próprios problemas no setor. "Não dá para dizer para os outros que a ditadura deles não é razoável, mas que a nossa pode".
A carta foi articulada por pessoas e entidades que trabalharam no processo do caso da Guerrilha de Araguaia, ocorrida nos anos 1970. Recebeu, em 30 dias, 661 assinaturas, sendo 175 de familiares de mortos ou desaparecidos políticos e ex-presos e perseguidos políticos, 102 de entidades da sociedade civil, nacionais e internacionais, e 384 de intelectuais, juristas, acadêmicos, artistas e defensores de direitos humanos.
Segundo Beatriz, a coleta vai continuar: a ideia é que, a cada 100 firmas acumuladas em cada uma dessas três categorias, o documento seja novamente encaminhado aos chefes de Poder, para exigir o cumprimento da sentença. Uma versão do texto em espanhol começou a circular internacionalmente entre ONGs de outros países em Washington. "Cada organização vai começar a colher assinaturas em seu país", disse ela.
O processo da Guerrilha do Araguaia foi movido pelo Cejil, pelo Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro (GTNM-RJ) e pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos de São Paulo (IEVE). Pela sentença, publicada em 14 de dezembro de 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Brasil por não ter investigado, processado e punido os envolvidos no desaparecimento forçado de pelo menos 60 militantes políticos durante a ditadura militar no País, assim como por não ter esclarecido as circunstâncias em que ocorreram as violações.
Determinou ainda que a Lei de Anistia brasileira não pode ser usada para impedir a investigação e punição dos crimes contra direitos humanos. O Supremo Tribunal Federal (STF), porém, já considerou que a lei é válida para perdoar torturadores da ditadura.

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