Bristol (EUA) - É desanimador o panorama politico no momento
nos Estados Unidos. O candidato que lidera a campanha pelas primárias
republicanas, Rick Perry, do Texas, é um estudo em medievalismo: entre outras
coisas, o homem quer acabar com a Previdência Social, nega a evolução das
espécies, acredita que o mundo foi criado como está na Bíblia e orgulha-se de
ser o governador recordista em execuções, sendo que uma delas, ao que tudo
indica, de um inocente. É também famoso por ter querido proclamar o Texas um país independente.
No último debate entre
republicanos, o mediador perguntou a Ron Paul, representante do Tea Party, se
ele deixaria morrer uma pessoa doente que não teve dinheiro para comprar seguro
médico. Enquanto Ron Paul, um médico, gaguejava para encontrar as palavras
certas, a platéia (formada por republicanos, é claro), explodiu em gritos de
YES, YES!
Michelle Bachmann, outra
flor do Tea Party, culpa “os pecados dos homens” por manifestações da natureza
como furacões e terremotos, e inventou que uma vacina para prevenir o câncer
cervical “leva à loucura”, obrigando associacões médicas do país a surgirem com
desmentidos públicos. Assim comoRick
Perry, Michelle Bachmann declara que o governo deve fechar a Agência de
Proteção Ambiental e chama de mentirosos os cientistas que alertam contra as
mudanças climáticas pela queima de combustíveis fósseis.
O Census Bureau informou
que a pobreza entre a população americana chegou ao maior patamar dos últimos 52
anos. Quarenta e seis milhões e duzentos mil americanos vivem oficialmente na
pobreza.Como era de se esperar, o
grupo racial que tem visto a pobreza aumentar em maior número é o de negros,
com hispânicos em segundo lugar. Mais impressionante ainda é que a partir do
ano 2000 a disparidade entre os mais ricos e o mais pobres aumentou. A renda
média dos 10% mais pobres da população caiu em 12%, enquanto a renda média dos
restantes 90% caiu em apenas 1,5%. A renda dos 10% mais ricos aumentou. A renda
mais alta da população pobre foi atingida em 1999, último ano do governo
Bill Clinton.
Nesta terça-feira, uma
eleição especial para o Congresso no estado de Nova York, para preencher a vaga
deixada pela renúncia do democrata Anthony Weiner, foi ganha por um republicano
– que imediatamente declarou que vai se opor aos planos econômicos do
presidente Barack Obama.
Obama por sua vez mostra
cada vez menos capacidade de liderar o país. Anda de estado em estado pregando
seu novo projeto para resgatar a economia, mas estou convencido de que
vai novamente fracassar. Obama perdeu sua oportunidade ao deixar de
apresentar um plano realmente ousado para combater a
recessão quando assumiu o cargo em 2009. Procurou contemporizar, adotar meias
medidas, cortejar republicanos – e foi por eles sistematicamente repelido,
desrespeitado e ignorado.
Os republicanos, que por
filosofia não acreditam em agências governamentais, tiveram porém a desfaçatez
de abraçar com entusiasmo as revelações do Census Bureau (um órgão do governo
federal), para colocar toda a culpa da lamentável situação do país em Barack
Obama – como se George W. Bush, que levou a nação à ruína com guerras
desnecessárias e déficit público monstruoso, não tivesse sido presidente entre
2000 e 2008.
A verdade é que os
Estados Unidos vão descambando para a direita. Os fascistas do Tea Party acham
que os milhões de desempregados no país estão desempregados por serem
“vagabundos”, por quererem viver da caridade pública. Como vimos acima, acham que um pobre sem
recursos para pagar seguro médico particular deve morrer, não ser socorrido
pelo governo.
Depois que me mudei para
cá, em 1990, Gorbachev caiu, a União Soviética acabou e os Estados Unidos
assumiram sem contestação a posição de única super-potência mundial. Talvez o
sucesso tenha subido à cabeça dos americanos. Talvez eles não estivessem
preparados para tanto.
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