sábado, 10 de dezembro de 2011

Minha empregada preta é como se fosse da família - afirma a publicitária quase branca.

Minha empregada preta é como se fosse da família - afirma a publicitária quase branca.

por Arísia Barros
Era para ter sido um exercício intelectual na busca de descobrir caminhos estratégicos para intermediação entre a realidade do país racista de Cabral e a publicidade como ferramenta de descontração desses mesmos valores estigmatizadores do racismo e sexismo. Era para ser, mas não foi.
O processo discursivo da publicitária, “quase” branca, palestrante da mesa de número três sob o tema Raça e Gênero na Publicidade: Onde Estão os Limites Éticos? foi um dos tantos que esteve apoiado no ideário das gentes privilegiadas pelas condições hierarquicamente conquistadas e herculanamente, defendidas desde os tempos de Cabral.
A lógica da pluralidade étnica do país miscigenado não foi compreendida em toda sua dimensão
O Seminário Nacional em questão foi o "A Mulher e a Mídia 8- Racismo e Sexismo na Mídia: Uma Questão ainda em Pauta”, ocorrido de 29 de dezembro a 01 de dezembro, no Rio de Janeiro.
Segundo a organização: ”Cento e quarenta participantes de 25 estados foram selecionadas, por critérios previamente definidos e amplamente divulgados, dentre as mais de quinhentas inscrições. São representantes dos movimentos de mulheres e de mulheres negras, e ainda jornalistas, gestoras de programas, pesquisadores, estudantes, dentre tantas outros representantes de instituições organizadas para trazer à tona esse debate”.
Produzido pelo Instituto Patrícia Galvão, o Mídia 8 sofreu uma considerável perda de legitimidade pela flagrante ausência de uma geração de interpretes negros, principalmente a militância e especialistas do Rio de Janeiro, com vivência, conhecimentos científicos e militantes, para estabelecer a dinâmica da multipluralidade nos diálogos.
O dialogo do protagonismo negro e das possibilidades que permite a compreensão das leis antirracistas como mecanismos legítimos de intervenção nos meios e modos de ação do racismo, transformando-o.
A representação negra dos estados foi mínima.
Fomos a única representante do estado de Alagoas
Em se tratando de um Seminário sobre a democratização da comunicação e transmitido em tempo real, o não acesso à internet no local impossibilitou a produção de notícias para blogs e outros veículos de comunicação.
Discutir comunicação sob a ótica do racismo e sexismo exige ir além dos lugares comuns e como o Mulher e Mídia  caminha para nona edição vale a pena lançar mão do caráter revisionário sobre este último, ocorrido no Rio de Janeiro.
É também urgente que o Instituto Patricia Galvão disponibilize, em seu site, todos os diálogos construídos no Mídia 8.
E que no próximo não tenhamos que lidar com a construção de diálogos como o da publicitária quase branca:
-A minha empregada preta está a muito tempo conosco. É como se fosse da família e um dia perguntei a ela se sofria discriminação no nosso prédio e ela me respondeu: Não, senhora, pois sempre soube onde é o meu lugar.
É ácido o humor do racismo!


1 comentários:

Anônimo disse...

"Ó, eu dou tudo pra minha empregada".

Sei... menos o que ela tem direito.
@GersonCarneiro