segunda-feira, 2 de abril de 2012

O samba do machista

O samba do machista

por Talita R da Silva no Jardim de Lilith

Que namorado fofo... Esta tira é parte da série Samira e o machismo do Paulito

Os homens machistas são pessoas muito interessantes de se analisar, dado o fato de agirem mais como objetos do que propriamente como seres humanos capazes de empatizarcom a subjetividade alheia. Talvez, seja um traço de sociopatia. Talvez, reflita apenas a atitude de alguém que não teve de lutar por seu espaço na sociedade, uma vez que sempre pertenceu ao lado privilegiado da moeda. Todavia, certamente, é a atitude de quem tem certeza de que o mundo está de ponta cabeça, já que ele não concentra mais todo o poder de liderança, apenas pelo fato de ter nascido homem, branco e manter relações heterossexuais.
No fundo, todo machista é ressentido perante à mudança. Ressente-se porque a mulher, que ele escolheu, não o escolheu. Ressente-se porque a faculdade, que ele acha que merece tê-lo como discente, exige vestibulares. 

Ressente-se porque o emprego, que ele acha que deveria ser seu, exige a realização de testes psicológicos e de aptidão. Enfim, o machista age como um homem profundamente ressentido porque, nessa nova ordem, ele precisa dedicar-se muito mais para atingir seus objetivos. Apesar de sabermos que a meritocracia ainda não é uma realidade, dada a existência de favorecimentos sociais inerentes, o machista acredita, piamente, que o mundo está conspirando contra ele.

Como assim, a mulher pode se negar a estar na presença de um homem como ele? Como ela pode preferir outro? Como ela pode ousar escolher?
Eles têm razão em odiar os novos tempos, porque, se fossehá algumas décadas atrás, um homem branco e com propriedades não precisaria se fazer interessante para ser desejado, bastaria bater um papo com o papai patriarca e ele teria a mulher de seu desejo. Ele poderia ser feio, ridículo e ainda assim exigir uma mulher com traços invejáveis. Ele poderia ser estúpido e grosseiro e, ao mesmo tempo, exigir que a mulher tivesse atitudes gentis. 

Ele poderia ser absolutamente egoísta e obrigar sua esposa a agir de forma abnegada e altruísta. Enfim, antes do feminismo, não vivíamos relações de simetria. As mulheres eram obrigadas a aceitar as relações que os homens escolhiam, da forma como lhes parecia agradável. Por isso, machistas odeiam o feminismo. Sim, assumo que somos nós as culpadas por eles perderem boa parte de suas regalias! E espero que percam todas elas! Porque, apenas quando não houver mais privilegiados, estaremos aptos para construir um Estado verdadeiramente democrático.

No entanto, a maior parte dos machistas já se deu conta que buscar privilégios, a qualquer custo, não é nem um pouco saudável e, felizmente, estão sendo, cada vez mais, combatidos socialmente. Mas, e se fosse apenas uma piada?

Ah, o carinha não é machista, só faz piadas machistas. Ele até pode estar tentando (não conseguindo) mudar, mas as feministas parecem não ter senso de humor e sempre pegam no pé desses coitados.

Fico com tanta pena dos machistas em redenção que, agora mesmo, quase fui surpreendida por uma lágrima de crocodilo... Veja-se um exemplo de situação embaraçosa, alguns alunos do curso de direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) resolveram criar um manual do calouro descontraído, uma piada para relaxar o ambiente (sobretudo, para os garotos...), cuja temática era "como se dar bem na vida amorosa utilizando a legislação brasileira", uma "brincadeirinha" que ensinava, dentre outras coisas, que o homem deveria exigir o cumprimento de certas atitudes, como "ela vai ter que dar tudo de uma vez".

Claro que o homem exigir sexo sem ter conquistado isso é seu direito legal, confere? Não! Mas, sinceramente, o que mais me constrange em casos semelhantes não é um babaca metido a engraçaralho escrever e praticar esse tipo de (péssimo) humor, mas que eles se juntem para elaborar esse tipinho de "brincadeirinha". Fico imaginando a cena:

_Essas mulheres estão causando danos ao meu patrimônio pessoal. Meu bilau fica lá todo iludido (por mim mesmo), mas quando chega a hora H (H de homem, ok?), como eu sou um juquinha mesmo, elas me deixam na mão, literalmente. Vamos fazer um manual explicativo, utilizando nosso pré-juridiquês, para obrigá-las a nos proporcionarem sexo? Porque você sabe que a gente tem de apelar a segundas instâncias para conseguir sexo...

_Claro, Juquinha! Deve haver mais confrades na mesma situação "penal" que nós.
E aí, eles lançaram esse primor de obra literária, contendo oito páginas. Em seguida, muitasfeministas já estavam apontando os perigos desse tipo de brincadeiras. Poxa, não se pode mais nem brincar com a violência sexual nesse país, que as feministas já pegam no pé desses coitados. Eu quase os compreendo. Só preciso perder mais metade do meu cérebro, que eu chegarei nessa lógica que culpa quem aponta o preconceito e não quem o comete.
E é por isso que digo que o samba do machista é algo a ser apreciado por tod@s nós, sempre com muito bom humor. Afinal, ninguém aqui quer ser chamada por senhores ressentidos historicamente de feminazi mal-comida, não é mesmo?

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