domingo, 13 de março de 2016

A pior, a mais sórdida chamada para a manifestação de hoje

A pior, a mais sórdida chamada para a manifestação de hoje

O que estamos fazendo com nossas crianças??








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O UNIFORME BRANCO DA BABÁ



O UNIFORME BRANCO DA BABÁ


Eu realmente não queria escrever nada sobre o dia de hoje, mas está difícil. Alguns jornais estão problematizando a questão da indignação coletiva com a família flagrada na Visconde de Pirajá e não compreendem o auê gerado pela foto. Como, de um modo geral, esse pessoal parece ter matado as aulas de História, eu explico:
Antes das grandes revoluções burguesas , era regra, no Antigo Regime, que as famílias vestissem seus criados com uma libré reproduzindo as cores ou brasões das suas casas senhoriais para informar aos comensais convidados que aquelas pessoas apenas serviam a seus senhores, não compunham a família. Com as revoluções burguesas e a ascensão do pensamento iluminista, este costume foi sendo abandonado paulatinamente, visto que não existiam mais súditos , mas sim cidadãos, juridicamente iguais em seus direitos. Como exemplo, basta observar que nos inúmeros filmes e seriados americanos que infestam nossa tevê, os trabalhadores domésticos não trajam fardamento algum que os distingam das famílias que os empregam. No Brasil, o processo de acumulação de capital foi bastante diferente e baseado no trabalho escravo , quando a Revolução Industrial já estava em pleno curso na Europa; a própria Proclamação da República não representou ruptura com os liames senhoriais e aristocráticos da sociedade. O senhor de escravos jamais foi derrubado ou enfrentado no Brasil . E, como aprendemos com pensadores tão diferentes como Jacob Gorender, Darcy Ribeiro , Gilberto Freyre ou Sérgio Buarque de Holanda, seu pensamento e modo de relação social está presente e ativo nas relações de poder dentro ( e fora ) do mundo do trabalho. Por isso, o uniforme branco é ainda a bata do escravo, a libré senhorial: pq nem todos somos iguais e, esta é, ainda que inconsciente, uma forma de ilustrar esta diferença e dizer, como nas antigas casas senhoriais do Antigo Regime ,que aquela pessoa não faz parte da família. 



Laurindo Gustavo é professor de Literatura 
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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos, estudante carioca evitou que linchamento tivesse consequências mais graves

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos, estudante carioca evitou que linchamento tivesse consequências mais graves
A carioca Mikhaila Gutierrez Copello, de apenas 22 anos, acaba de receber o Prêmio de Direitos Humanos, a mais alta condecoração do governo brasileiro a pessoas e entidades que se destacam na defesa, na promoção e no enfrentamento às violações dos Direitos Humanos em nosso país.
Mikhaila foi agraciada na categoria Enfrentamento à violência, que compreende a atuação relacionada à garantia do direito à segurança cidadã, bem como as ações de enfrentamento à violência institucional, ao crime organizado e às situações de violência e de maus-tratos a grupos sociais específicos.
No dia 7 de maio de 2014, Mikhaila realizava uma entrevista para a pesquisa que realiza como estudante da UFRJ quando presenciou o linchamento de um homem acusado de roubar um celular, intervindo logo em seguida para evitar uma execução pública no bairro da Freguesia, em Jacarepaguá (RJ).
“Eu estava fazendo a entrevista e de repente ouvi um ‘pega ladrão’. Em um primeiro instante eu tive aquele impulso de me proteger, mas segundos depois percebi que estava acontecendo um linchamento a dois, três metros de mim, e eu vi uma atrocidade acontecendo: um homem já esfacelado, levando chutes e pontapés”, relembra.
A reação de Mikhaila foi proteger o acusado, gerando revolta entre os transeuntes. “As pessoas diziam ‘ele mata por menos que um celular’, mas eu revidava que eles também matariam por menos que um celular. Ao mesmo tempo que eu estava nervosa, chorando, aquela situação me dava mais força para argumentar e defender aquele homem”, afirma.
A premiada defende que o ciclo da violência só pode ser quebrado com atitudes em que o ser humano seja protegido, qualquer que seja a situação. “Aquela atitude representa toda uma ideologia que eu fui cercada a minha vida inteira, e isso vem da educação. Eu não esperava ser tão bem vista por esse tipo de atitude tão polarizadora, ou seja, defender a vida de um assaltante, e na verdade eu não estava reconhecendo ele como o grande causador dos nossos problemas, e sim uma vítima também”, diz.

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Sindicato repudia ofensa do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) a jornalistas da EBC



Sindicato repudia ofensa do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) a jornalistas da EBC

O Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro vem a público repudiar a agressão praticada pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) contra duas jornalistas da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Na última segunda-feira (15) o parlamentar dirigiu-se às repórteres com frase semelhante a que o colocou nos noticiários: “Você merece ser estuprada? Você merece ser estuprada? Estou perguntando. Responda”, disse a uma delas, durante entrevista.
No áudio, descrito abaixo, a pergunta do deputado “Você merece ser estuprada?” é repetida de forma a intimidar, desestruturar e prejudicar o livre exercício profissional de ambas, afrontando também a liberdade de imprensa, nesta situação. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio condena tal declaração e esclarece que a violência sexual tem efeitos devastadores na saúde de qualquer pessoas.
O sindicato encaminhará o áudio e a transcrição do ocorrido à Comissão de Direitos Humanos e Liberdade de Imprensa da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), para a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, para a Procuradoria-Geral da República (PGR) e para a Comissão de Ética do Congresso Nacional, que já abriu processo contra o deputado Jair Bolsonaro por quebra de decoro parlamentar.
Às vésperas dos 20 anos da Conferência Mundial sobre os Direitos Mulher e no mês de aniversário dos 66 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, é inadmissível que um representante do parlamento, em hipótese alguma, estimule práticas de violação de direitos.
Esta não é a primeira vez que o deputado se dirige de maneira depreciativa a mulheres jornalistas. Em abril, Bolsonaro chamou uma repórter da Rede TV de “idiota” e “analfabeta” ao ser questionado sobre a ditadura no país. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal representa a vítima.
Entenda o caso
Na tarde da última segunda-feira (15/12), o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) diplomou os candidatos eleitos em 2014, em cerimônia no Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. No evento, deputados estaduais do Psol levantaram cartazes com a frase “A violência contra a mulher não pode ter voz no Parlamento”.
A manifestação dos deputados se refere ao episódio em que o parlamentar disse que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque “ela não merece”. Após o protesto, os jornalistas procuraram o deputado Bolsonaro para que ele pudesse dar a sua versão sobre o episódio.
Íntegra do áudio:
Jair Bolsonaro: Então estão [vocês da imprensa] sendo parciais comigo. Ela [Maria do Rosário] recebeu o catraco que ela mereceu naquele momento.
Repórter 1: Você acha que alguém merecia isso?
Jair Bolsonaro: Não, inclusive… [Olhando para mim] Você merece ser estuprada?
Repórter 1: [Silêncio]
Jair Bolsonaro: Você merece ser estuprada?
Repórter 1: [Silêncio]
Jair Bolsonaro: Estou perguntando! Responda!
Repórter 1: Eu não tenho que responder, não sou eu que tenho que responder isso.
Jair Bolsonaro: Não pera aí, eu estou perguntando para você. Então, não queira colocar palavras na minha boca.
Repórter 2: Alguém merece?

Jair: Eu estava discutindo a questão da maioridade penal no caso do Champinha, que estuprou em rodízio uma jovem de 16 anos e depois a matou. Ela [Maria do Rosário] foi lá para defender o Champinha, e ainda me chamou de estuprador, e agora eu sou réu? Lá não é colégio de freira, lá não tem santo, ela não pode ser santa, nem o seu Marcelo ‘Frouxo’ passar por babaca aqui nesta Casa. Foi o papel que ele fez, de babaca.

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"Eu era escrava sexual dele", diz mulher que atirou 12 vezes no ex

"Eu era escrava sexual dele", diz mulher que atirou 12 vezes no ex

Ana Raquel Santos da Trindade vive com medo mesmo depois da morte do homem


"Eu era escrava sexual dele", diz mulher que atirou 12 vezes no ex Léo Cardoso/Agencia RBS

Ana Raquel Santos da Trindade, 29, saiu da cadeia, mas ainda vive trancada com medo atrás das grades da casa que foi cenário do pior momento de sua vida. Nem mesmo o reforço no muro com cerca elétrica e um portão de ferro foram suficientes para impedir que seu ex-namorado, Renato Patrick Machado de Menezes, 35, entrasse no local para agredir, estuprar e ameaçar Ana, até o último dia 16 de novembro, quando a mulher disparou 12 vezes contra o ex. Nove tiros acertaram o comerciante  35 anos, que morreu duas semanas depois no hospital. 

A massagista ainda não tem a menor ideia de como será a vida daqui para frente. Durante os 24 dias em que esteve presa, Ana pensou várias vezes em tirar a própria vida, mas recebeu forças das outras detentas, que a aplaudiram quando deixou a cadeia. No retorno para casa, recebeu inúmeras mensagens de apoio pelas redes sociais, e pedidos de ajuda de mulheres que sofrem de violência sexual e doméstica.

 — Não me sinto uma heroína. Só queria viver em paz, lembrei de todas as ameaças contra o meu filho, tudo que ele já nos fez passar — disse. 

Soltura ocorreu por decisão unânime 

A 2ª câmara criminal concedeu por unanimidade o alvará de soltura no dia 9 de dezembro, porém com medidas cautelares. Ana Raquel precisará comparecer semanalmente em juízo, e também está proibida de se ausentar de Florianópolis. O advogado da massagista, Lídio Moises da Cruz, explica que os desembargadores entenderam que a Ana não representa perigo à ordem pública, por isso ela ganhou o direito de responder em liberdade.

— Ela ainda está indiciada por tentativa de homicídio, mas agora que o homem morreu o Ministério Público deve trocar a denúncia quando receber o atestado de óbito. No decorrer do processo vamos provar que ela agiu para se defender. Todos os fatos mostram isso, os mais de 20 boletins de ocorrência e já conversei com um delegado que estava concluindo um processo para pedir uma medida restritiva contra ele pouco antes disso acontecer — explicou Lídio. 

Em um papel higiênico na prisão, Ana Raquel escreveu um carta relatando o drama que viveu. Segundo ela, desde o ano passado, era tratada como uma escrava sexual do comerciante. 

Contraponto 

A reportagem tentou localizar algum familiar de Renato, porém não obteve sucesso. Segundo Ana Raquel, ele relatava ser do Mato Grosso, e teria sido rejeito pela mãe na infância. Atualmente ele vivia em São Paulo, e vinha com frequência para Florianópolis atrás de Ana.  

Confira a entrevista:

Hora _ Como vocês se conheceram? 

Ana Raquel Santos da Trindade : Eu trabalhava com massagens tântricas. É um tipo de massagem que trabalha com a energia sexual da pessoa. Infelizmente, muita gente confunde com prostituição, mas não é. O Renato entrou em contato comigo para trabalhar com ele em Curitiba (PR), disse que estava montando uma nova equipe por lá. Ele foi me buscar na rodoviária e, depois, sumiu por uns três dias. Quando ele voltou, primeiro, disse que ia fazer uma massagem em mim. E confiei, em princípio, ele era o meu chefe. Não imaginava que ele estava drogado e que eu seria estuprada. Fui dopada, trancada no quarto, lembro dele em cima de mim tendo relações comigo. E ele não era o único. Várias vezes, ele trazia alguns amigos que pagavam para ele para ter relações comigo. Eu estava fraca demais para conseguir reagir.

Hora _ Você não tentou fugir? 

Ana _ Tentei fugir várias vezes de lá, em uma ocasião ele chegou a agredir um taxista enquanto eu tentava entrar no táxi. Ele me ameaçava. Ameaçava matar a minha família, o meu filho. Várias vezes, pedi para me matar, mas ele dizia que eu estava dando lucros para ele. Quando eu me comportava, ele deixava eu ligar para o meu filho uma vez por dia e mandava eu entrar no Facebook e colocar alguma coisa para as pessoas acharem que eu estava bem. Tudo monitorado por ele. Passei a colaborar. Eu era a escrava sexual dele. Então, ele fez eu me relacionar com ele ou mataria o meu filho. Quando consegui voltar para Florianópolis, ele veio atrás de mim. Em seis meses me mudei 11 vezes, até vir para esta casa. 

Hora _ Por que ele fazia isso com você? 

Ana _ Ele achou um jeito fácil de ganhar dinheiro: fazer as terapeutas sexuais, como nós chamamos quem trabalha com massagem tântrica, se prostituírem. Eu não aceitava isso. Como eu sabia que ele estava metido com isso, ficava me ameaçando. Via ele enrolar as terapeutas. Ele manipulava as pessoas. Elas tinham de fazer as massagens, e ele começava a segurar o dinheiro, só entregava se elas fizessem programas. Sei de várias que foram estupradas por ele, mas ele as fazia pensar que era culpa delas. Eu muito vezes senti isso. porque tinha pena, ele contava que havia sido rejeitado pela mãe na infância, e eu acabava cedendo as investidas. Ele dizia que queria casar comigo, mas sempre queria ter relações sexuais, e com várias mulher. 

Hora _ Você teve de se prostituir outras vezes? 

Ana _ Teve uma vez que ele me vendeu por R$ 3 mil. Cheguei no hotel, e o cliente já estava esperando. Disse que queria o serviço porque eu estava sendo bem paga. Comecei a chorar e acabei comovendo o cliente. 

Hora _ Por que você resolveu comprar uma arma? 

Ana _ Quando consegui voltar para Florianópolis, ele veio atrás de mim. Em seis meses me mudei 11 vezes, até vir para esta casa. Coloquei a cerca elétrica ele estragou. Uma semana antes do meu aniversário, em outubro, ele quebrou a chapa de ferro do portão da minha casa e entrou por baixo dele. Fazia cinco minutos que eu tinha colocado o meu filho na van da escola. O Renato achou que eu estava com o meu namorado em casa. Quando vi, ele tinha arrombado a porta e estava apontando a arma para mim. Me joguei no chão. Ele estava transtornado, foi pela casa inteira, mas o meu namorado não estava lá. Ele me ligava 100 vezes por dia, me mandava fotos minhas e do meu filho tiradas de longe, para mostrar que eu estava sendo vigiada. Cinco dias depois, consegui a arma.

Hora _ A sua mãe falou que você comprou a arma porque pretendia se matar. Era essa a sua intenção? 

Ana _ Eu já tinha tentado me matar várias vezes. Não aguentava mais o que estava acontecendo, viver sempre com medo. Tentei tomar remédios, cortar os pulsos. Não queria viver trancada dentro de casa com ele me ameaçando. Mas acho que não teria coragem de me matar com uma arma. O que eu queria com ela era me defender. Porque, a maior parte das vezes, ele ameaçava o meu filho para eu ir para a cama com ele, e duas vezes tentou me esfaquear na frente do meu filho. 

Hora _ Você sabia manusear uma arma, tinha feito alguma aula de tiro? 
Ana _ Nunca. 

Hora _ E como você acabou atirando nele? 
Ana _ Ele chegou na minha casa junto com a minha mãe, que ficou esperando no carro. Temos um relacionamento complicado, e minha mãe queria eu ficasse com ele. Ele começou a se masturbar e veio para cima de mim. Eu disse que não queria e que tinha nojo dele. Ele botou o dedo na minha cara e disse que ia me matar, mas que, antes, ia matar o meu filho e o meu namorado, porque queria me ver sofrer. Eu guardava a arma embaixo do colchão. Eu não tinha intenção de atirar. Mas ele veio para cima de mim, e eu atirei. 

Hora _ Foram 12 tiros. Por que tantos disparos?

Ana _ Eu nunca tinha atirado na minha vida. Dei o primeiro tiro, e ele saiu correndo, então, comecei a atirar sem parar. Muitos questionam por que recarreguei a arma, mas, se não tivesse recarregado, quem estaria morta agora seria eu.

Hora _ A sua intenção era matá-lo?

Ana _ Na hora, veio na minha cabeça tudo o que eu passei, toda a raiva do que ele estava fazendo para mim por quase dois anos. Porque não fui estuprada só uma vez. Ele me deixou presa em um quarto, me amarrou, me drogou, fui um tipo de escrava sexual dele. Na minha cabeça, não imaginava que ele ia morrer. Fiquei paralisada, chamei a polícia.

Hora _ E quando você soube que ele morreu?

Ana _ Eu estava na cadeia. Foi meu irmão que me contou. Foi um alívio, mas ainda estou com medo. Às vezes, parece que ele vai entrar na minha casa de novo. Estou respondendo em liberdade, mas estou com medo. Ele tinha colocado capangas atrás de mim. Ainda tenho medo, por mim e pelo meu filho. Todo o dinheiro que eu tinha guardado gastei agora com o advogado. Penso que quando tudo isso passar quer viver em paz com meu filho.

Hora _ Você saiu aplaudida da prisão. Por quê? 

Ana _ Como dizem, eu balancei a cadeia. As presas gritavam, aplaudiam sem parar. Tanto quando eu cheguei quanto quando eu saí. Na prisão, conheci uma mulher de Curitiba que conhecia o Renato e contou que viveu a mesma história e que outras mulheres também tinham sido vítimas dele.


.Diário Catarinense