domingo, 30 de maio de 2010

O Hamlet das eleições de 2010

“ Há lógica na sua loucura”-
Shakespeare - Hamlet - Ato 2o, cena 2

Método na aparente loucura
...
Há método na aparente loucura do pré-candidato do PSDB. O fato de ter repetido as acusações levianas contra o governo de um país vizinho – e amigo, sim – do Brasil mostra que Serra acredita que pode ganhar votos com elas. Trata-se de um comportamento que revela traços interessantes da personalidade do pré-candidato e da estratégia de sua candidatura. Em primeiro lugar, mostra uma curiosa seletividade geográfica: em sua diatribe contra governos latino-americanos, Serra se esqueceu de acusar a Colômbia como “cúmplice do narcotráfico”. Esquecimento, na verdade, que expõe mais ainda o caráter leviano da estratégia. Trata-se, simplesmente, de atacar governos considerados “amigos” do governo brasileiro.
Em segundo lugar, mostra uma postura irresponsável do pré-candidato, tomando a palavra aí em seu sentido literal, a saber, aquele que não responde por seus atos. Antes de apontar o dedo acusador para o governo de um país vizinho, Serra poderia visitar algumas ruas localizadas no centro velho de São Paulo que foram tomadas por traficantes e dependentes de drogas. Serra já ouviu falar da Cracolândia? Junto com a administração Kassab, um governo amigo como gosta de dizer, fez alguma coisa para resolver o problema? Imagine Sr. Serra, 200 pessoas sob o efeito do crack gritando sob a sua janela, numa madrugada interminável… Surreal? Na Cracolância é normal. E isso ocorre na sua cidade, não na Bolívia. Ocorre na capital do Estado onde o senhor foi eleito para governar e trabalhar para resolver, entre outros, esse tipo de problema. Mas é mais fácil, claro, acusar outro país pelo problema, ainda mais se esse outro país for governado por um índio.
E aí aparece o terceiro e mais perverso traço da estratégia de Serra: um racismo mal dissimulado. Quem decide apostar na estratégia do vale-tudo para ganhar um voto não hesita em dialogar com toda sorte de preconceito existente em nossa sociedade. Acusar o governo de Evo Morales de ser cúmplice do tráfico, além de ignorar criminosamente os esforços feitos atualmente pelo governo boliviano para combater o tráfico, aposta na força do preconceito contra Evo Morales, que já se manifestou várias vezes na imprensa brasileira por ocasião das disputas envolvendo o gás boliviano. Apostando neste imaginário perverso, acusar um índio boliviano de ser cúmplice do tráfico de drogas parece ser “mais negócio” do que acusar um branco de classe média que sabe usar boas gravatas. Alguém com Álvaro Uribe, por exemplo…
E, em quarto, mas não menos importante lugar, as declarações do pré-candidato tucano indicam um retrocesso de proporções gigantescas na política externa brasileira, caso fosse eleito presidente da República. Mais uma vez aqui, há método na loucura tucana. Não é por acaso que essas declarações surgem no exato momento em que o Brasil desponta como um ator de peso na política global, defendendo o caminho do diálogo e da negociação ao invés da via das armas, da destruição e da morte. Como assinala José Luís Fiori em artigo publicado nesta página:
A mensagem foi clara: o Brasil quer ser uma potencia global e usará sua influência para ajudar a moldar o mundo, além de suas fronteiras. E o sucesso do Acordo já consagrou uma nova posição de autonomia do Brasil, com relação aos Estados Unidos, Inglaterra e França (…). O jornal O Globo foi quem acertou em cheio, ao prever – com perfeita lucidez – na véspera do Acordo, que o sucesso da mediação do presidente Lula com o Irã projetaria o Brasil, definitivamente, no cenário mundial. O que de fato aconteceu, estabelecendo uma descontinuidade definitiva com relação à política externa do governo FHC, que foi, ao mesmo tempo, provinciana e deslumbrada, e submissa aos juízos e decisões estratégicas das grandes potências.
As últimas linhas do texto de Fiori resumem o que está por trás da estratégia de Serra de chamar o MERCOSUL de “farsa”, de acusar o governo da Bolívia de cumplicidade com o tráfico, de criticar a iniciativa do governo brasileiro em ajudar a evitar uma nova guerra no Oriente Médio. Curiosa e tristemente, essa estratégia, entre outros lamentáveis problemas, sofre de um atraso histórico dramático. Para azar de Serra e sorte do Brasil e do mundo, a doutrina Bush chegou ao fim. No dia 27 de maio, o governo dos EUA anunciou sua nova doutrina de segurança nacional que abandonou o conceito de “guerra preventiva” como elemento definidor da estratégia da política externa norte-americana. Algum assessor com um mínimo de lucidez e informação bem que poderia avisar ao pré-candidato tucano das mudanças que estão em curso no mundo, especialmente do final da era Bush. Mas se ele decidiu abraçar por inteiro a agenda da direita no Brasil, na América Latina e nos Estados Unidos, faz sentido lutar pela restauração da velha ordem. Pode-se dizer, então, que, enfim, a direita achou um candidato à presidência do Brasil.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16642asil.

Após a “lógica do Hamlet das eleições 2010” vamos refinar nossa alma!

HAMLET
Título original: Hamlet
Duração: 235 minutos (3 horas e 55 minutos)
Gênero: Drama
Direção: Kenneth Branagh
Ano: 1996
País de origem: EUA

Sinopse
Após terminar seus estudos Hamlet (Kenneth Branagh), Príncipe da Dinamarca, retorna para o Palácio de Elsinore e encontra seu tio Claudius (Derek Jacobi) casado com Gertrude (Julie Christie), sua mãe. Bernardo (Ian McElhinney), Horatio (Nicholas Farrell) e Marcellus (Jack Lemmon), três amigos de Hamlet, falam a ele sobre um fantasma que parece ser seu falecido pai, que morreu há poucos meses. Hamlet acaba vendo aparição e a segue através do bosque. Ao encontrá-la, ela diz que precisa ser vingado, pois, apesar de se ter tido que o falecido monarca morreu devido à uma picada de cobra, a aparição afirma que a serpente que picou seu pai usa agora sua coroa e que, de uma única vez, tudo lhe foi tirado: a vida, a coroa e a rainha. Hamlet jura vingança e quando o rei e a rainha mandam vir amigos de Hamlet, para ver o que está com ele, o jovem príncipe assume um ar de louco e faz alguns atores representarem "A Morte de Gonzaga" que, com algumas modificações, fica bastante similar ao assassinato de seu pai. A reação de Claudius comprova que ele matou realmente o ex-soberano e a vingança agora é uma questão de tempo. Mas várias tragédias estão reservadas para Elsinore.
Fonte: Adoro Cinema

Tradução: Millor Fernandes
REI (ATOR): Você crê no que diz, mas sejamos serenos
É comum falarmos mais e fazermos menos
A intenção é apenas escrava da memória
Violenta ao nascer, mas transitória
Enquanto fruto verde só nos dá trabalho
E assim que amadurece cai do galho
È muito natural que nunca nos lembremos
De pagar a nós, o que nós nos devemos
O que por nós na paixão foi prometido
Terminada a paixão perde todo sentido
O sangue quente da dor e da alegria
Já trazem consigo a própria hemorragia
Onde a alegria mais canta e a dor mais deplora
Em um instante a dor canta e a alegria chora
O mundo não é eterno e tudo tem um prazo
Nossas vontades mudam nas viradas do acaso
Pois esta é uma questão inda não resolvida
A vida faz o amor, ou este faz a vida?
Se o poderoso cai, somem até os favoritos
Se o pobre sobe surgem amigos irrestritos
E até aqui o amor segue a fortuna, eu digo,
A quem não precisa nunca falta um amigo
Mas quem, precisando, prova um falso amigo
Descobre, oculto nele, um inimigo antigo
Voltando ao começo de tudo que converso
Desejos e fatos corem em sentido inverso
Por isso nossos planos nunca atingem a meta
O pensamento é nosso, não o que ele projeta
Assim tu crês que não terá outro marido
Crença que morre quando eu tiver morrido

Tchaikovsky - Hamlet Fantasy Overture - Part 1 TheWickedNorth

















1 comentários:

Maria,viajante do Universo de passagem pelo planeta Terra disse...

...A mixórdia do discurso – que se desmonta só aplicando o mesmo critério para falar da segurança em São Paulo – só é superada pela mixórdia moral de um candidato que adota como prática inverter em 180 graus o seu discurso em função de índices das pesquisas que contrata.

Serra não tem pudor algum em se amoldar ao que julga conveniente, porque é da natureza dos subservientes ter um cérebro e um caráter que se assemelha a estas “massinhas de modelar” infantis. Só que, ao contrário destas, isso é altamente tóxico para a sociedade, porque exalta a falta de princípios, o oportunismo, o carreirismo.

Mas saudemos o retorno de José Serra ao velho discurso de direita, de qualquer forma. Quando alguém tenta se eleger com primarismos, com preconceitos, com demagogia barata, dá-nos a chance de, no processo eleitoral, elevarmos o nível de consciência de nosso povo e, progressivamente, irmos tornando a sociedade brasileira imune a este tipo de picaretagem moral.

Serra é um homem devastado por seu próprio oportunismo.

Tijolaço