terça-feira, 1 de junho de 2010

A flotilha da paz e o louco navio israelense

A flotilha de Gaza leva Israel a um mar de estupidez
É claro que a flotilha de paz não traria paz, e que sequer chegaria a alcançar a costa de Gaza. O plano da ação incluía levar as embarcações para o porto de Ashdod, mas fomos de novo conduzidos pelo litoral da estupidez e do delito. Mais uma vez seremos retratados como aqueles que bloqueiam a assistência, mas também como os loucos que fazem de tudo para minar nossa própria posição. O coro começou a entoar canções de falsidade e mentiras. Estamos todos no coro, dizendo que não há crise humanitária em Gaza.
O artigo é do jornalista israelense Gideon Levy.
Gideon Levy - Haaretz

A máquina de propaganda israelense alcançou novos patamares em seu frenesi desesperançado. Distribuiu menus dos restaurantes de Gaza junto a informações falsas. Embaraçou a si mesmo ao entrar numa batalha pública fútil, que teria sido melhor jamais ter começado. Querem manter o ineficiente, ilegal e antiético bloqueio a Gaza e não permitir que a “flotilha de paz” atraque na costa de Gaza? Não há nada a explicar, certamente não a um mundo que jamais comprará a rede de explanações, mentiras e táticas.

Só em Israel as pessoas aceitarão esses produtos envenenados. Reminiscentes de um ritual de batalha de tempos antigos, o coro vibra sem fazer questões. Soldados brancos uniformizados estão prontos, em nosso nome. O porta-voz concede suas explicações enganosas em nosso nome. A cena grotesca dá-se às nossas expensas. E, virtualmente, nenhum de nós perturbou essa performance.

O coro começou a entoar canções de falsidade e mentiras. Estamos todos no coro, dizendo que não há crise humanitária em Gaza. Somos todos parte do coro que diz que a ocupação de Gaza acabou, e que a flotilha é um ataque violento à soberania de Israel – o cimento que ela carrega é para construir bunkers e o comboio foi financiado pela irmandade muçulmana turca. O sítio israelense a Gaza vai derrubar o Hamas e libertar Gilad Shalit. O porta-voz do ministro do exterior, Yossi Levy, um dos propagandistas mais ridículos, saiu de si ofuscando a tudo ao seu redor, quando proclamou que o comboio de ajuda dirigido a Gaza era uma violação do direito internacional. Certo. Exatamente.

Não é o bloqueio, mas a flotilha que é ilegal. Não foi suficiente distribuir menus dos restaurantes de Gaza através do Gabinete do Primeiro Ministro (incluindo o altamente recomendado Strogonoff ao creme de espinafre) e ostentar a quantidade de combustível que o porta-voz do exército israelense diz que Israel está embarcando. A operação de propaganda tem tentado nos vender e ao mundo a idéia de que a ocupação de Gaza acabou, mas em todo caso Israel tem a autoridade legal para barrar ajuda humanitária. Tudo o mesmo pacote de mentiras.

Só uma voz estragou um pouco a celebração ilusória: um relatório da Anistia Internacional sobre a situação em Gaza. Quatro em cada cinco residentes de Gaza necessitam de assistência humanitária. Centenas estão esperando a piora extrema do seu quadro para terem permissão de tratamento médico e 28 já terão morrido quando essa permissão for concedida. Isso a despeito de todas as declarações do porta-voz do exército israelense de que não há sítio a Gaza e há assistência. Mas quem se preocupa?

E as preparações para a operação também são reminiscentes de uma farsa particularmente divertida: o fervoroso debate no séquito de ministros. O desenvolvimento da unidade de Massada, a unidade de comando dos serviços da prisão que se especializa em penetrar as celas das prisões; os combatentes do comando naval, com salvaguarda da política especial anti-terror e da unidade canina do exército de Oketz; uma instalação especial para detenção foi instalada no porto Ashdod e o bloqueio eletrônico que bloquearia a transmissão da captura do navio e a detenção dos que estivessem a bordo.

E tudo isso diante de quê? Umas poucas centenas de ativistas internacionais, a maioria pessoas de consciência, cuja reputação a propaganda israelense tentou manchar. Eles são em sua maioria pessoas que se preocupam, o que é seu direito e obrigação, mesmo que o bloqueio não nos dissesse respeito de jeito nenhum. Sim, essa flotilha é de fato uma provocação política, e o que é uma ação de protesto senão uma provocação política?

E, enfrentando-os nos mares está o navio israelense de loucos, flutuando sem saber onde ou por que. Por que prender as pessoas? É como são as coisas. Por que um bloqueio? É como as coisas são. É como barrar Noam Chomsky de novo, só que dessa vez um acontecimento maior. É claro que a flotilha pacifista não traria paz, e sequer conseguiria chegar à costa de Gaza. O plano da ação incluía levar os navios até o porto Ashod, mas fomos de novo conduzidos pelo litoral da estupidez e do delito. Mais uma vez seremos retratados como aqueles que bloqueiam a assistência, mas também como os loucos que fazem de tudo para minar nossa própria posição. Se esse era um dos objetivos dos organizadores da flotilha de paz, eles o alcançaram ontem (30).

Cinco anos atrás, o renomado escritor peuano Mario Vargas Llosa, que é vencedor de um Jerusalem Prize, depois de terminar sua visita a Israel disse que a ocupação israelense estava chegando a uma fase grotesca. Ao longo do fim de semana, Vargas Llosa, que considera a si mesmo um amigo de Israel, estava presente para ver que essa fase, desde então, alcançou novos patamares do absurdo.
Tradução: Katarina Peixoto
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16657
Gaza Massacre in Pictures - December 28, 2008




A Palestina por uma brasileira
Por Victor
Uma brasileira dirigiu um documentário que está levando esperança aos palestinos pela via da resistência pacífica.
Budrus - 3 Minute Trailer

Autor: luizhenriquemendes(blog Luís Nassif)

Mundo precisa de diálogo, não tiros
Trecho do discurso do presidente Lula em visita à fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP), em que criticou a ação de Israel contra um barco com ativistas que tentava leva ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.
Judaísmo rejeita Sionismo


Dica de leitura
Para se conhecer mais sobre o sionismo ultradireita: “Por uma História profana da Palestina”, de Lotfallah Soliman, livro editado, no Brasil, pela Brasiliense, no ano de 1990.

6 comentários:

Maria,viajante do Universo de passagem pelo planeta Terra disse...

CARTA AO GOVERNO ISRAELENSE - por Silvio Tendler

Senhores que me envergonham:

Judeu identificado com as melhores tradições humanistas de nossa cultura, sinto-me profundamente envergonhado com o que sucessivos governos israelenses vêm fazendo com a paz no Oriente.Médio.

As iniciativas contra a paz tomadas pelo governo de Israel vem tornando cotidianamente a sobrevivência em Israel e na Palestina cada vez mais insuportável.

Já faz tempo que sinto vergonha das ocupações indecentes praticadas por colonos judeus em território palestino. Que dizer agora do bombardeio do navio com bandeira Turca que leva alimentos para nossos irmãos palestinos? Vergonha, três vezes vergonha!

Maria,viajante do Universo de passagem pelo planeta Terra disse...

Proponho que Simon Peres devolva seu prêmio Nobel da Paz e peça desculpas por tê-lo aceito mesmo depois de ter armado a África do Sul do Apartheid.

Considero o atual governo, todos seus membros, sem exceção, merecedores por consenso universal do Prêmio Jim Jones por estarem conduzindo todo um pais para o suicídio coletivo.

A continuar com a política genocida do atual governo nem os bons sobreviverão e Israel perecerá baixo o desprezo de todo o mundo..

O Sr., Lieberman, que trouxe da sua Moldávia natal vasta experiência com pogroms, está firmemente empenhado em aplicá-la contra nossos irmãos palestinos. Este merece só para ele um tribunal de Nuremberg.

Digo tudo isso porque um judeu humanista não pode assistir calado e indiferente o que está acontecendo no Oriente Médio. Precisamos de força e coragem para, unidos aos bons, lutar pela convivência fraterna entre dois povos irmãos.

Abaixo o fascismo!

Paz Já!

Silvio Tendler

Eva disse...

"Políticos ocidentais, covardes demais para salvar vidas"

Alguma coisa mudou no Oriente Médio, nas últimas 24 horas – e os israelenses, se se considera a resposta política extraordinariamente estúpida, pós-matança, não dão qualquer sinal de terem percebido a mudança. O que mudou é que o mundo, afinal, cansou-se das matanças israelenses. Só os políticos não têm o que dizer, hoje. Só os políticos estão calados. Nossos políticos não têm mais fibra, não tem espinha dorsal, são covardes demais, para tomar as decisões que salvam vidas. O artigo é de Robert Fisk.

Robert Fisk - The Independent

Eva disse...

A verdade é que os muitos, gente comum, ativistas, dêem-lhes o nome que quiserem, são os que hoje tomam as decisões que mudam o curso dos acontecimentos. Israel perdeu? A guerra de Gaza de 2008-09 (1.300 mortos) e a guerra do Líbano de 2006 (1.006 mortos) e todas as outras guerras e, agora, a matança da madrugada da segunda-feira significam que o mundo afinal decidiu rejeitar o mando de Israel? Não esperem tanto. Mas, sim, algo aconteceu.

Basta ler a desfibrada declaração da Casa Branca – que o governo Obama estaria “trabalhando para entender as circunstâncias que cercam a tragédia”. Condenação? Nem uma palavra. E pronto. Nove mortos. Mais uma estatística, na matança no Oriente Médio.

De fato, não, não é só mais uma estatística.

Em 1948, nossos políticos – norte-americanos e britânicos – atacaram Berlim. Uma população esfaimada (nossos inimigos, havia apenas três anos) estavam cercados por exército brutal, os russos, que tinham cercado a cidade. O levante do cerco de Berlim foi um dos momentos altos da Guerra Fria. Nossos soldados e aviadores arriscaram e deram a vida por aqueles alemães mortos de fome.

Eva disse...

Parece incrível, não é? Naqueles dias, nossos políticos decidiam; muitas vezes decidiram salvar vidas. Os senhores Attlee e Truman sabiam que Berlim importava, tanto em termos morais e humanos quanto em termos políticos.

Hoje? Gente comum – europeus, norte-americanos, sobreviventes do Holocausto – sim, sim, santo Deus! Sobreviventes dos nazistas! –, os que decidiram viajar até Gaza, porque seus políticos e governantes os abandonaram, falharam, fracassaram.

Onde estavam os políticos e governantes na madrugada da segunda-feira? OK, ok, apareceram o ridículo Ban Ki-moon, a declaração patética da Casa Branca e o caríssimo Sr. Blair, com cara de “profunda lástima e choque ante a tragédia de tantas mortes”. Mas… E Cameron? E Clegg?

Em 1948, claro, teriam ignorado os palestinos, não resta dúvida. Há aí, afinal, uma terrível ironia: o levante do cerco de Berlim coincidiu exatamente com a destruição da Palestina árabe.

Mas é fato irrecusável de que os muitos, gente comum, ativistas, dêem-lhes o nome que quiserem, são os que hoje tomam as decisões que mudam o curso dos acontecimentos. Nossos políticos não têm mais fibra, não tem espinha dorsal, são covardes demais, para tomar as decisões que salvam vidas. Por quê? Como chegamos a isso? Por que não se ouviu uma palavra saída da boca de Cameron e Clegg (dentre outros, claro)?

Eva disse...

Claro, também, sim, que se fossem outros europeus (ora essa! Os turcos são europeus, não são?) os metralhados naqueles barcos, por outro exército árabe (ora essa! O exército de Israel é exército árabe!), então, sim, haveria ondas e ondas de indignação e ultraje.

E o que tudo isso diz sobre Israel? A Turquia não é aliada muito próxima de Israel? E, de Israel, os turcos recebem o que receberam? Hoje, o único aliado que restava a Israel, no mundo muçulmano, fala de “massacre” – e Israel parece não dar qualquer importância ao que diga a Turquia.

Israel tampouco deu qualquer importância quando Londres e Camberra expulsaram os diplomatas israelenses, depois de Israel forjar passaportes britânicos e australianos, para, com eles, perpetrar o assassinato do comandante Mahmoud al-Mabhouh, do Hamás. Tampouco deu qualquer importância aos EUA e ao mundo, quando anunciaram a construção de novas moradias exclusivas para judeus em terra ocupada em Jerusalém Leste, durante visita de Joe Biden, vice-presidente dos EUA, aliado-supremo, a Israel. Se Israel não deu qualquer importância a esses aliados, por que daria alguma importância a alguém, hoje?

Como chegamos a esse ponto? Talvez porque já nos tenhamos habituado a ver israelenses matando árabes; talvez os próprios israelenses tenham-se viciado em matar árabes, até cansarem. Agora, matam turcos. E europeus.

Alguma coisa mudou no Oriente Médio, nas últimas 24 horas – e os israelenses, se se considera a resposta política extraordinariamente estúpida, pós-matança, não dão qualquer sinal de terem percebido a mudança. O que mudou é que o mundo, afinal, cansou-se das matanças israelenses. Só os políticos não têm o que dizer, hoje. Só os políticos estão calados.