Uma menina iraquiana de 12 anos é obrigada a se prostituir nos subsolos de Bagdá, enquanto os guardas privados norte-americanos fazem uma coleta de poucos dólares e fazem fila. As moças são recrutadas no Leste Europeu com a promessa de um trabalho como doméstica em Dubai e depois dali são desviadas e segregadas ao coração do Iraque. As garçonetes dos restaurantes chineses de Kabul, por trás das luzes vermelhas, escondem o segredo que todos conhecem.
Aquaro - La Repubblica (IHU On-line)
Matéria publicada em português no IHU On-line
O último horror das "guerras gêmeas" que Barack Obama herdou de George W. Bush tem o rosto das mulheres exploradas em nome daquele outro ídolo que divide o altar com o dinheiro: o sexo. Mas oito anos depois do início da guerra contra o terror, o balanço dessa batalha é ainda mais magro: zero a zero. As ordens do presidente eram retumbantes como as proclamações da vitória que não chegava.
É severamente proibido que os contratantes ou funcionários do governo se tornem responsáveis pelo tráfico sexual nas zonas de guerra. Qualquer um que se torne responsável pelo tráfico sexual será suspenso do cargo. Quem for surpreendido em tráfico sexual será denunciado às autoridades. Os resultados? "Não há nenhum processo aberto", diz a ex-detetive do Human Rights Watch, Martina Venderberg. "Enfim, não há vontade de fazer com que se respeite a lei".
A vergonha foi descoberta por uma investigação do Center for Public Integrity, publicada neste domingo pelo Washington Post. E os contratantes da ex-Blackwater acabaram sob acusação: o grupo privado já tristemente famoso pelos massacres de civis no Iraque. A empresa goza de uma fama tão ruim que, para voltar a trabalhar hoje, mudou de marca e se chama Xe Service.
Um ex-guarda conta que não quer revelar o nome por medo de represálias: "Eu mesmo vi guardas mais velhos recolherem dinheiro, enquanto moças iraquianas, dentre as quais meninas de 12 e 13 anos, se prostituíam". O guarda diz também que denunciou tudo ao seu superior, mas que "nenhum procedimento foi tomado: me entristece só de falar nisso".
De fato, quem não se entristece é a porta-voz da ex-Blackwater, Stacy De Luke, que, no Washington Post, nega "com força essas acusações anônimas e sem provas: a política da empresa proíbe o tráfico humano".Claro.
O caso das trabalhadores do leste que pensam em voar para Dubai e acabam no Iraque foi descoberto por uma jornalista freelancer. Aqui, a organização era muito mais acurada. Um verdadeiro tráfico organizado por subcontratantes que trabalham para o Exército e para o Exchange Service da Aeronáutica: nome que deveria indicar o escritório que se ocupa de organizar o serviço de restaurantes, mas que evidentemente também se ocupa de outras coisas. Assim que aterrizam, as pobrezinhas são privadas do passaporte. Há também um preço para o resgate: 1.100 dólares. Uma quantia enorme, visto que se prostituem por poucos dólares.
A fábrica do sexo é ainda mais sólida no Afeganistão. Lá, há quatro anos, uma centena de chinesas foram libertadas em uma série de blitzes que, ao invés do Talibã, atingiram os bordéis. Mas o tráfico continuou. Com a "aquisição" de uma mulher por 20 mil dólares, um empresário do ArmorGroup, a empresa que, até pouco tempo atrás, se ocupava da segurança da embaixada norte-americana em Kabul, se orgulhava de poder organizar um tráfico rentável. A investigação que iniciou rapidamente chegou ao altos níveis do FBI. Mas parou por aqui.
Os federais defendem que não tiveram meios suficientes. Nas zonas de guerra, enfileiraram-se cerca de 40 agentes, mas eles já têm muito a fazer ao se ocupar de fraudes e corrupção. Mas os ativistas dos direitos humanos têm uma outra explicação: a verdade é que as autoridades preferem fechar um olho. Diz Christopher H. Smith, deputado e autor de uma lei antitráfico, para a crônica republicana: como é possível tolerar que essa gente possa explorar as mulheres com o dinheiro que nós pagamos? Eis uma outra herança da qual Obama deverá se ocupar.
Tradução: Moisés Sbardelotto
Que outros horrores se escondem nas guerras?
Conhecendo um pouco o Afeganistão
Shinwaray lawangeena
Pashto song post by Zagham
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📨 Modo Avión: Entre la magia y el arte
Há 44 minutos
5 comentários:
Afeganistão: Relatórios secretos vazam e revelam conflito brutal
Afeganistão: quadro sem retoques (1)
25/7/2010, Guardian, UK (editorial)
Tradução Caia Fittipaldi
A névoa da guerra é excepcionalmente densa no Afeganistão. No momento em que se dissipa, como hoje, com a publicação, pelo Guardian, de excertos de relatos secretos de militares dos EUA, revela-se paisagem muito diferente daquela a que nos habituamos. São relatos de guerra escritos no calor da hora e mostram um conflito no qual reinam a mais brutal confusão e todos os desacertos, sem qualquer plano ou projeto. Há muitas diferenças entre o que mostram esses documentos e a guerra organizada, bem embalada, da versão ‘pública’ dos comunicados oficiais e dos flashes necessariamente resumidos de jornalistas incorporados à tropa.
No material agora publicado há mais de 92 mil relatórios de ações dos militares norte-americanos no Afeganistão entre janeiro de 2004 e dezembro de 2009. Os arquivos foram distribuídos por Wikileaks, website que publica material não rastreável de várias fontes. Em colaboração com o New York Times e Der Spiegel, o Guardian trabalhou durante semanas nesse oceano de dados, até extrair deles a textura oculta e as histórias de horror humano que são o dia a dia da guerra.
Esse material teve de ser tratado como o que é: um relato contemporâneo ao conflito. Alguns dos relatórios de inteligência não têm fonte confirmada: alguns dos aspectos da contagem do número de mortes entre civis não parecem confiáveis. São relatos – classificados como secretos – enciclopédicos, mas incompletos. Foram removidas do que adiante se lê todas as informações que ponham em risco a segurança dos soldados, de informantes locais e de agentes colaboradores.
ler mais em http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/afeganistao-documentos-antes-secretos-revelam-conflito-brutal.html
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Guerra do Afeganistão: um enigma e quatro hipóteses
A Guerra do Afeganistão se transformou numa incógnita para os analistas políticos e militares. Hoje está claro que os Talibãs não participaram dos atentados de 11 de setembro, nos EUA, e eles estão cada vez mais distantes da Al-Qaeda e das redes terroristas cuja liderança e sustentação estão sobretudo, na Somália, no Yemen, e no Paquistão.
José Luís Fiori
“Whenever western leaders ask themselves the question, why are we in Afghanistan, they come up with essentially the same reply: “to prevent Afghanistan becoming a failed state and haven for terrorists”. Yet there is very little evidence that Afghanistan is coming stable. On the contrary, the fighting is intensifying, casualities are mounting and the Taliban are becoming more confident.”
Gideon Rachman, Financial Times, 26 de junho de 2010
Ler na íntegra em:
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4722
AS MULHERES NA GUERRA (1939-1945)
Claude Quétel
Larousse do Brasil,
248 págs., R$ 49,90
Este é um livro de fotografias que vale tanto ou mais por seu conteúdo, expresso no extensivo ensaio de Claude Quétel dividido em quatro partes. O francês olha com acuidade a questão feminina no entreguerras, fazendo anotar as coisas difíceis de serem lembradas ou ditas, demonstrando-as nos retratos em branco e preto, dramáticos e documentais.
As mulheres alemãs e austríacas, ressalta Quétel, obtiveram a igualdade cívica com os homens no final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, antes das francesas. Na década de 1930, intuindo que os nazistas as favoreceriam, essas alemãs se enfileiraram maciçamente ao Partido Nacional-Socialista, que no entanto jamais deixaria de expor sua misoginia. “Lutando contra o comunismo, a universidade, a cidade grande ou ainda o jazz, lutam, não somente mas também, contra a emancipação da mulher”, raciocina o pesquisador. “Um racismo a mais.”
Após a Primeira Guerra, ele diz, as mulheres europeias se viram ignoradas em sua visibilidade e existência. Mas durante aquele conflito dos anos 1910 fora muito diferente, já que elas atuaram nas enfermarias e na artilharia de obuses. “Em sua imensa maioria, contudo, as mulheres haviam retornado ao lar, para cumprir apenas seu piedoso dever de viúvas de guerra.”
É em sua ação na resistência ao nazismo, no presídio, nas sessões de educação física, em casa com os filhos, nos campos e nas fábricas, manipulando a vaidade nos ateliês, entretendo os soldados com seu canto ou mesmo mortas durante sua militância, como aconteceu à russa Zola Kosmodemianskaia, ao enfrentar os alemães de 1941, antes de completar 20 anos, que elas aparecem neste livro, uma reflexão e um raro feito.
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