terça-feira, 6 de julho de 2010

Ignorantes da vida e do nosso tempo!

Ontem ouvindo e lendo "não estou defendendo o Bruno, MAS a Eliza Samudio não "era" flor que se cheirasse...", conclui que as normalinas ainda existem e temo que sobreviverão, enquanto a hipocrisia imperar.


Normalinhas

As garotas tradicionais que todo mundo gosta de ver em São Paulo, risonhas, pintadas, de saias de cor e boinas vivas. Essa gente que tem uma probabilidade excepcional de reagir como moças contra a mentalidade decadente, estraga tudo e são as maiores e mais abomináveis burguesas velhas.Com um entusiasmo de fogo e uma vibração revolucionária poderiam se quisessem, virar o Brasil e botar o Oiapoque perto do Uruguai. Mas D.Burguesia habita nelas e as transforma em centenas de inimigas da sinceridade. E não raro se zangam e descem do bonde, se sobe nele uma mulher do povo, escura de trabalho.

A gente que as vê em um bandinho risonho pensa que estão forjando algumas coisa sensacional, assim como entrarem em grupo na Igreja de S. Bento, derrubar altar, padre estoia, sacristia...Nada disso. Ou comentam um tango idiota numa fita imbecil ou deturpam os fatos escandalosos, de uma guria mais sincera, em luta corporal com o controle cristão. Agrupam-se para abandoná-la. A camarada tem de andar sozinha...É uma imoralidade...Ao menos se fizesse escondido...É isso mesmo o que elas fazem.Eu que sempre tive a reprovação delas todas; eu que não mentia, com as minhas atitudes, com as minhas palavras, e com a minha convicção; eu que era uma revolucionária constante no meio delas, eu que as aborrecia e as abandonava voluntariamente enojada de sua hipocrisia, as via muitíssimas vezes protestar com violência contra uma verdade, as via também com o rosto enfiado na bolsa escolar e pernas reconhecíveis e trêmulas subirem a baratas impassíveis para uma garçoniére vulgar.

Ignorantes da vida e do nosso tempo! Pobres garotas encurraladas em matinés oscilantes, semi-aventuras, e clubes cretinos

A variadas umas pelas outras, amedrontadas com a opinião, azoinando preconceitos e corvejando disparates, se recalcam as formadoras de homens numa senda inteiramente incompatível com os nossos dias. E vão estragar com os ensinamentos falsos e moralistas a nova geração que se prepara. É caso de polícia!

O governo como bom revolucionário que se diz, devia intervir com uma dezena de grilos numas visitinhas pela casa corruptora.Com uma dúzia de palmadas elas se integrariam no verdadeiro caminho.

Acho bom vocês se modificarem pois que no dia da reivindicação social que virá, vocês servirão de lenha para a fogueira transformadora.

Se vocês, em vez de livros deturpados que leem, e dos beijos sifilíticos de meninotes desclassificados, voltassem um pouco os olhos para a avalanche revolucionária que se forma em todo o mundo e estudassem, mas estudassem de fato, para compreender o que se passa no momento, poderiam com uma convicção de verdadeiras proletárias, que não querem ser, passar uma rasteira nas velharias enferrujadas que resistem e ficar na frente de uma mentalidade atual como autênticas pioneiras do tempo novo.

Vocês também querem que nem os seus coleguinhas de Direito, trocar bofetões comigo?

Pagu, O Homem do Povo, número 8, segunda-feira, 13 de abril de 1931

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