DILMA VAI À GLOBO, MAS NÃO É ENTREVISTADA
Não se pode chamar de entrevista os 12 minutos que a Globo exibiu ontem com Dilma Rousseff, assim como não se pode chamar o inepto casal William Bonner e Fátima Bernardes de jornalistas.
Também não digamos que foi um embate forjado ou uma armadilha, porque os oponentes eram fraquíssimos e seus subterfúgios em nenhum momento conseguiram embaraçar a lucidez da candidata do Partido dos Trabalhadores, do presidente Lula e da maioria do povo brasileiro.
Frustrados em seus sórdidos intentos, o casal globolálico acabou por repetir várias vezes as mesmas capciosas perguntas, sendo a primeira a já batida questão lugar-comum de se tentar colocar Lula como um “tutor” do governo Dilma. Queria o quê, casal global? Dilma aproveitou para afirmar a camaradagem amistoso-política com Lula.
“A minha relação política com o presidente Lula, eu tenho muito orgulho dela. Eu participei diretamente com o presidente, fui braço direito e esquerdo dele nesse processo de transformar o Brasil num país diferente, num país que cresce, distribui renda, em que as pessoas têm pela primeira vez, depois de muitos anos, a possibilidade de subir na vida. Então, não vejo problema nenhum na minha relação com o presidente Lula. Pelo contrário, vejo que até é um fator muito positivo, porque ele é um grande líder, e é reconhecido isso no mundo inteiro.”
Na sequência, o casal passou a insistir sobre a forma “difícil”, segundo eles, de Dilma tratar com as pessoas ao seu redor.
“Fátima, estava respondendo justamente isso. Eu acho que têm visões construídas a meu respeito. Acho que sou uma pessoa firme, acho que em relação aos problemas do povo brasileiro eu não vacilo, acho que o que tem que ser resolvido prontamente, nós temos que fazer um enorme esforço.”
O casal ficou fissurado na questão, chegando o rude e grosseiro Bonner, ao ser desmontado por Dilma, impedir de forma despótica que Fátima Bernardes (machistamente também, por esta ser sua esposa) concluísse uma pergunta, e bateu o pezinho a respeito de uma fala de Lula que ele descaradamente falseara.
Nisso, já se passara da metade da suposta entrevista, que se seguiu com uma questão na qual a Globotária bateu até em seus queridíssimos parceiros – Jader Barbalho, José Sarney e Collor -, por eles estarem aliados à candidatura Dilma. Logo a Globotária cobrando essa moralidade, ela que mantém vínculos midiáticos com os Barbalho e os Sarney. Mesmo quem não era nascido não esqueceu as tramas que ela fez contra Lula para Collor ganhar a eleição em 1989? Mas como os tempos são outros, Dilma, didaticamente, dialeticamente, deu uma aula de política para o casal venal.
“(…) Governar um país com a complexidade do Brasil implica necessariamente na sua capacidade de construir uma aliança ampla. O PT não tinha experiência de governo e agora tem. Nós não erramos e vou te explicar em que sentido: não é que nós aderimos ao pensamento de quem quer que seja. O governo Lula tinha uma diretriz: focar na questão social, fazer com que o país tivesse a oportunidade, primeiro, de um país que era considerado dos mais desiguais do mundo, diminuir a pobreza em 24 milhões. Um país em que as pessoas não subiam na vida elevou para as classes médias 31 milhões de brasileiros. Para fazer isso, quem nos apóia, aceitando os nossos princípios e aceitando as nossas diretrizes de governo, a gente aceita do nosso lado. Não nos termos de quem quer que seja, mas nos termos de um governo que quer levar o Brasil para um outro patamar.”
E Bonner, que não permitia mais que “sua mulher” falasse, continuou mordendo o próprio rabo, ao tentar entrar pela economia, comparando o crescimento menor do Brasil em relação a outros países da América do Sul e do Brics, acabando por abrir a brecha que tentara em vão tapar para que Dilma comparasse o governo Lula, que também é seu governo, com o de Fernando Henrique.
“Nós tivemos um processo no Brasil muito duro. Quando chegamos ao governo, a inflação estava fora de controle. Nós tínhamos uma dívida com o Fundo Monetário, que vinha aqui e dava toda a receita do que a gente ia fazer. Nós tivemos que fazer um esforço muito grande para colocar as finanças no lugar e depois, com estabilidade, crescer. Este ano, a nossa discussão é que estamos entre os países que mais crescem no mundo, estamos com a possibilidade de ter uma taxa de crescimento de 7% do Produto Interno Bruto. Sem fazer comparações, a queda da economia na Rússia no ano passado foi terrível. Criamos quase 1,7 milhão empregos no ano da crise.”
Com essa bobeada do machista, Fátima quis, mais uma vez com uma pergunta escolhida a bico de tucano, engabelar Dilma sobre o “resultado fraco” na área de saneamento.
“Porque nós vamos ter um resultado excepcional a partir dos dados da pesquisa feita em 2010. Talvez uma das áreas em que eu mais me empenhei foi área de saneamento, porque o Brasil investia menos de R$ 300 milhões no país inteiro. Hoje, aqui no Rio, na favela da Rocinha, que eu estive hoje, nós investimos mais de R$ 270 milhões. Nós lançamos o Programa de Aceleração do Crescimento, para o caso do saneamento, na metade de 2007. Começou a amadurecer porque o país parou de fazer projetos. Prefeitos e governadores apresentaram os projetos agora, em torno do início de 2008, e aceleraram. Eu estava vendo recentemente que nós temos hoje uma execução de obras no Brasil inteiro.”
E assim seguiu ao fim a entrevista, que só poderá ser chamada por esse nome pela parte de Dilma Rousseff.
Pelo casal simbiótico Bonner/Bernardes, foi uma pérola para os estudantes do curso de jornalismo estudarem sobre técnicas de como não se fazer jornalismo, pois não teve nenhuma relevância para o povo brasileiro, uma vez que não tocou sequer uma vez no programa de governo de Dilma. Quer dizer, tocou, porque Dilma soube como adiantar as respostas para outras questões relevantes, não se prendendo à capciosidade e limitação epistemológica dos entrevistadores.
*Trechos escolhidos no Amigos do Lula, onde você pode acessar a transcrição completa http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2010/08/dilma-9-x-0-bonner-no-jornal-nacional.html
Fonte: Afinsophia
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