O tom da cobertura jornalística
Quem será o Capitão Nascimento em Brasilia? A direita e o “BOPE para todos”
Logo depois da eleição, a “Veja” estampou na capa o Capitão Nascimento de “Trope de Elite 2″ (ainda não vi ofilme – que me dizem ser muito bem feito; mas a questão não é o filme). A “Veja” destacava Nascimento comoo “primeiro super-herói brasileiro, e afirmava: “ele é incorruptível, implacável com bandidos e espanca políticos corruptos”. Trata-se de um ótimo programa de direita, resumido em 3 frases! É a UDN atualizada.
A recente campanha de Serra mexeu com os piores instintos da sociedade brasileira: moralismo, conservadorismo, religião no centro da disputa. Foi derrotada. Mas teve mais de 40% dos votos. Mostrou que há um caldo de cultura para o avanço da direita (como indicam as recentes demonstrações de preconceito contra nordestinos, contra esses “miseráveis” que compram carros, contra gays e negros). A capa de “Veja” é a continuidade desse processo.
Nos últimos dias, os brasileiros acompanham com preocupação o que ocorre no Rio. A ação policial tem um lado positivo: parece indicar que os bandidos estão encurralados pela política de UPPs do governo fluminense, e por isso teriam partido para o confronto aberto. O que pode indicar que as UPPs seguem na direção correta. Mas deixo isso pra quem entende mais de segurança pública.
O que me preocupa é outra coisa: o tom da cobertura jornalística. É um “prende e arrebenta” sem fim. Ninguém para pra pensar em nada. A cobertura é de uma “guerra”. E na guerra você escolhe um lado e pronto. Sobre isso, Luiz Eduardo Soares escreveu um artigo magistral em seu blog. Vale ler.http://luizeduardosoares.blogspot.com/2010/11/crise-no-rio-e-o-pastiche-midiatico.html
O discurso da ordem a qualquer custo parece avançar. A direita que baba mostrou as garras na campanha eleitoral. E segue a exibi-las agora, cada vez mais afiadas. Não contesto a ação da polícia, nem caio na besteira de pedir moderação diante de traficantes armados até os dentes. Não é isso. Mas será que tudo se resolve assim, no estilo Capitão Nascimento escolhido pela “Veja”?
Parece que há amplos setores da sociedade interessados em vender a idéia de que o Brasil só tem jeito com “porrada e ordem”. É a direita que avança – vem aí o programa “BOPE para todos”, ou “Meu BOPE, Minha Vida”.
A turma da esquerda gosta de falar que é preciso disputar hegemonia. É fato. É assim que se trava a disputa a nas modernas democracias. Mas hegemonia não se disputa só na política propriamente dita. É no dia-a-dia, no discurso, nos valores. Se o discurso dominante passar a ser esse – do Capitão Nascimento – não é de se espantar se em 2014 (ou antes disso, por que não?) tivermos a direita clamando pela “ordem a qualque custo”: um BOPE nacional para traficantes, para o MST, para grevistas, para sindicalistas – para “desordeiros” em geral.
Claro que há um meio do caminho. O governo do Rio pode ganhar essa parada, e depois estender programas sociais aos morros dilacerados pelo confronto. Seria uma vitória da civilização contra a barbárie. Mas tenho dúvidas. Parece-me que os valores de esquerda – justiça, respeito, solidariedade – estão na defensiva agora, apesar da recente vitória eleitoral. Por que será? talvez porque a centro-esquerda tenha ganho a eleição sem levantar suas bandeiras de forma aberta.
É preciso travar o debate contra o obscurantismo. Até porque já tem jornalista (?) pedindo que o BOPE “limpe” o Congresso Nacional. Eu cheguei a duvidar que fosse verdade, mas o tal do Marcelo Tas escreveu isso no twitter aqui. http://twitter.com/marcelotas?from_source=onebox
Fonte:Escrevinhador
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