quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Nove em dez violentadas não procuram ajuda médica imediata

Foto: Getty Images/44700.000000
Nove em dez violentadas não procuram ajuda médica imediata

Busca tardia impede que vítimas tenham acesso aos métodos mais eficazes para evitar gravidez

As mulheres que sofrem violência sexual resistem em procurar ajuda médica, mostra uma pesquisa inédita realizada pelo Hospital Estadual de São Paulo Pérola Byington. Um levantamento feito com 936 vítimas de estupro concluiu que 88,9% delas não procuram unidades de saúde especializadas imediatamente após o crime.

90% das vítimas de estupro não procuram ajuda médica imediata

A demora em recorrer aos médicos especializados em violência sexual – além de evidenciar o colapso enfrentado por estas mulheres – também diminui o leque de opções para evitar uma gravidez pós estupro. Caso procurassem orientações clínicas nos primeiros cinco dias após o estupro, seria possível o uso de anticoncepção de emergência (pílula do dia seguinte).


Depois deste período, pela legislação brasileira, estas mulheres têm garantido o direito de interromper a gestação por outros métodos, chamados de aborto legal. Ainda assim, de acordo com o estudo, 39% das vítimas não puderam fazer o procedimento pois estavam com tempo de gestação avançado (mais de 22 semanas ou com o feto pesando mais de 400 gramas).


“O dado sinaliza que o trauma faz com que a primeira reação das mulheres ainda seja a reclusão. Só depois, quando percebem a gravidez, é que elas passam a tomar atitudes e enfrentam o problema”, afirmou a psicóloga e mestre em Saúde Pública Daniela Pedroso, autora da pesquisa.

Pelos cruzamentos feitos pelo estudo, foi identificado que um ponto em comum das mulheres que procuram ajuda tardia: o agressor é um conhecido da vítima. Em 5,2% dos relatos, os autores eram vizinhos. O ex-parceiro foi o autor da violência em 3,5% dos casos e o padrasto em 3,4%. Entretanto, das mulheres que engravidam, 62% foram estupradas por um desconhecido.


O perfil traçado pelo Pérola apontou que a mulher vítima de abuso sexual que engravida tem idade média de 22,2 anos, cor branca (61,2%), solteira (76,3%), com ensino fundamental incompleto (37,4%) e com emprego formal ou informal (34,3%).


“Nos casos em que não houve aborto, em geral por demora na procura pelo atendimento, segundo apontou o estudo, os autores da violência eram conhecido, em sua maioria. Isso denota que a carga emocional faz com que as vítimas demorem mais para procurar ajuda”, afirmou Daniela.
Fonte:Portal IG

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