quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"Sem governo não há sexo"

Senadora socialista flamenga Marleen Temmerman - "sem governo não há sexo"


Socialista encara com humor as ineficientes tentativas de se formar um governo no país


Paula Resende, do R7


A senadora socialista flamenga Marleen Temmerman, também médica ginecologista respeitada na comunidade científica, surpreendeu a Bélgica com um apelo nacional: nada de sexo até que os líderes políticos cheguem a um acordo para formar, de uma vez por todas, o novo governo.


Antes de resolver o problema, para a senadora a abstinência sexual é uma forma bem humorada de se tratar de um assunto incômodo para o país. A Bélgica alcançou o Iraque nesta quinta-feira (17) em número de dias sem ter uma coalizão para escolher seu líder: 249.
Também caminha a passos largos para, no próximo dia 29 de março, alcançar o recorde mundial de 289 dias sem ter um governo definido, marco igualmente iraquiano.
Sobre todos esses recordes, a situação política, o clima nas ruas e, claro, a greve de sexo, Marleen falou ao R7 da Bélgica, por telefone.
R7 - Por que o país ainda não tem um presidente?
Marleen Temmerman - Quantas horas tenho para responder? [risos]. É difícil de explicar, mas o caso é que estamos há muitos dias sem um governo e, nos últimos anos, já vínhamos com dificuldades para formar um. É um país lindo, mas temos muitas diferenças entre nós, na língua, economia e cultura. Não estamos mais nos ouvindo e concordando entre nós. Também há dificuldades de manter o debate no âmbito racional. É a melhor forma que posso resumir essa situação complexa.
R7 - Acha que a Bélgica vai ultrapassar o recorde do Iraque [de 289 sem governo]?
Marleen - Receio que sim. Há quem esteja trabalhando duro para que isso se resolva, eu tenho esperança, mas sinceramente não sei...
R7 - Essa comparação é motivo de vergonha?
Marleen - Sim, se comparar com Iraque ou com qualquer outro país por não conseguir formar um governo é motivo de vergonha, com certeza.
R7 - Como senadora, a senhora defende que o país seja um só ou que deve dividir entre Flandres e Valônia?
Marleen - Acredito que nunca devemos dividir a Bélgica em duas partes. Esse é um país bom, rico, não só financeiramente, mas culturalmente. É interessante ter esse multiculturalismo, poder aprender uns com os outros. Temos que trabalhar juntos, nos conhecermos melhor e, assim, vamos todos nos fortalecer e crescer em uma unidade.
R7 - Como está o clima nas ruas com a falta de governo? 
Marleen - Todo mundo está cansado de tudo isso, de saco cheio e suplicando por um governo. Alguns estão muito chateados, principalmente os jovens. Outros estão se tornando céticos, apolíticos, estão acusando os líderes de não estarem fazendo o seu trabalho, que é achar uma solução. Tem também outro grupo que está engajado, mas resolve fazer piadas e humor com a situação. Querem fazer com que as pessoas riam um pouco.
R7 - Como surgiu a ideia da greve de sexo?
Marleen - Não é minha ideia, devo admitir. Estava trabalhando no Quênia no começo de janeiro e fiquei sabendo que as mulheres de lá resolveram protestar contra a falta de governo, após as eleições de 2009, convocando uma greve de sexo entre as parceiras dos políticos. Em duas semanas, o impasse estava resolvido, e as mulheres estavam super orgulhosas. Achei essa história fantástica e mais tarde escrevi um artigo para um jornal com o título Nada de sexo por um governo. É legal fazer as pessoas rirem e falarem sobre outra coisa que não a frustração da crise política.
R7 - Isso pode funcionar?
Marleen - Não espero que isso resolva o problema, é só algo engraçado.
R7 - Como foi a reação dos políticos?
Marleen - Parte ficou brava, achou algo idiota, dizendo que aquilo era algo sério. Eles não conseguiram captar o humor. Mas a maioria estava rindo também, acharam uma ótima história.
R7 - Qual a sua expectativa sobre as negociações?
Marleen - Eu realmente não sei e cada vez mais pessoas também estão nessa mesma incerteza. A gente tem esperança...

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