domingo, 10 de abril de 2011

Quem tem coragem de dizer que armas são capazes de proteger?

Quem tem coragem de dizer que armas são capazes de proteger?

País precisa rever urgentemente sua postura em relação à regulação e controle de armas

A tragédia de Realengo entrará para a história do País pela sua dimensão dramática - até agora são 12 crianças vítimas fatais mais o atirador - mas também pela sua natureza. Uma situação similar foi vivida em 1999, quando um ex-estudante de medicina atirou contra o público de um cinema, matando três pessoas e ferindo outras. Mas esse tipo de tragédia não é comum no Brasil.

*Paula Miraglia

Estamos diante de uma nova modalidade de violência urbana e de uma nova categoria para o nosso já vasto repertório de medo e insegurança. Até o momento, pouco se sabe com precisão sobre o atirador, suas motivações e o contexto do crime.

É fundamental que a polícia avance na investigação para desfazer equívocos e não alimentar a onda de boatos que foi instantaneamante gerada, que pode reiterar esteriótipos e atrapalhar futuras estratégias de prevenção.

Mas em meio a tantas dúvidas, um fato foi imediatamente reconhecido pela polícia: o revólver 38, usado no ataque, era originalmente uma arma legal, comprada há 18 anos e roubada posteriormente.

A trajetória de uma arma legal ao mercado ilegal e à vitimização de inocentes era um dos elementos mais difíceis de serem explicados durante a campanha pela proibição do comércio de armas em 2005. Ontem, o Brasil conheceu esse caminho da maneira mais dramática possível.

O resultado do referendo, que não aprovou o veto à comercialização, somada à ação agressiva do lobby das indústrias de armas, deixou pouco espaço para a discussão sobre a regulação e controle de armas.
Ontem ( 10/04/2001), no entanto, vimos como o País precisa rever urgentemente sua postura em relação ao tema.

Quando a congressista norte-americana Gabrielle Giffords foi atingida na cabeça, durante um tiroteio no Arizona, em janeiro deste ano, os Estados Unidos testemunharam a volta do debate sobre controle da armas no país. A mídia, o Congresso e a sociedade civil organizada enfatizaram a necessidade de revistar a legislação. Infelizmente, a mobilização em torno do assunto foi minguando para ser finalmente abandonada semanas depois.

Não podemos deixar que o mesmo aconteça no Brasil. A sociedade civil tem acúmulo suficiente para recolocar a questão de forma contundente e madura. Vejamos quem, no Congresso Nacional, vai cumprir seu dever, retornar a essa pauta e enfrentar a sempre atuante “bancada da bala”. Devemos isso à vida das crianças assassinadas.
Durante o debate que antecipou o referendo das armas, um argumento comum dos pró-armas era que elas existem para proteger o cidadão de bem. Uma arma legal matou 12 crianças numa escola municipal no Rio de Janeiro. As armas não estão aí para proteger ninguém

* Antropóloga analisa segurança pública, justiça e cidadania
Fonte: Portal IG

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