Da série: Generalizar não é legal:Ayres Britto elogia padre Gilvander por sua defesa da união homoafetiva
BRASÍLIA - Relator do processo que reconheceu a união estável de casais gays, o ministro Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal (STF), elogiou a coragem do padre mineiro Gilvander Moreira, da Ordem dos Carmelitas, em falar sobre o tema polêmico. O padre enalteceu a decisão do STF , defendeu a constituição de famílias homossexuais e afirmou que parte da sociedade é preconceituosa, intolerante, hipócrita e cínica. Ayres Britto considerou a postura de Gilvander atual e moderna:
- Quanto ao conteúdo humano, contemporâneo e mentalmente arejado da opinião do padre, só tenho que me congratular com ele e parabenizá-lo pela coragem e lucidez.
Entre os ministros do STF, há uma preocupação em tirar da decisão do tribunal qualquer conotação religiosa e até humanística, classificando-a como técnica e constitucional. A decisão, segundo Ayres Britto, seguiu preceitos técnicos:
- O Supremo fugiu de uma interpretação meramente literal. E o fez pela unanimidade de seus membros. Até porque a interpretação meramente literal é muitas vezes o modo mais eficaz de tornar a Constituição ineficaz.
O ministro Marco Aurélio reconheceu que a manifestação do padre pode ampliar ainda mais a discussão sobre o tema:
- É uma voz que parte do segmento religioso. Portanto, não deixa de ter uma ressonância muito grande.
Há receio de que carmelita sofra sanções da Igreja
O posicionamento do padre da Ordem dos Carmelitas foi festejado por representantes da comunidade gay e até por setores ligados ao catolicismo no país. Para todos, Gilvander teve coragem ao enfrentar a Igreja, mostrando coerência com o que pregam as doutrinas cristãs. Ao mesmo tempo, a avaliação é que, infelizmente, Gilvander deverá sofrer sanções que podem inibir outros religiosos progressistas de se manifestar publicamente sobre questões polêmicas.
"Existem milhões de exemplos de quanto a igreja errou em diversos assuntos, com represálias e perseguições"
O ativista Beto de Jesus, do Instituto Edson Neris, que trata de assuntos ligados aos homossexuais, disse que aplaude de pé as declarações:
- Tiro o chapéu e aplaudo de pé porque ele teve compromisso não apenas com as estruturas hierárquicas da Igreja, mas com o Evangelho.
Segundo Jesus, são muitos os padres, freiras, pastores e outros envolvidos com a Igreja, católica ou não, a favor do movimento gay. Ele lamentou as sanções que provavelmente Gilvander receberá da Igreja.
- Existem milhões de exemplos de quanto a igreja errou em diversos assuntos, com represálias e perseguições contra pessoas que se manifestaram contra a hierarquia. Ele (Gilvander) deve sofrer sanções, mas mostrou a gays e lésbicas católicos que há vozes dissonantes na igreja.
Para uma das coordenadoras do Grupo de Católicas pelo Direito de Decidir, Valéria Melki Busin, a posição do padre mostra que há posicionamentos individuais que confrontam a "ditadura religiosa".
- Ser católico não é ser como o Papa, porque há várias doutrinas católicas. O catolicismo não é essa coisa monolítica como muitos pensam - diz ela, para quem a manifestação pública do padre Gilvander é também excepcional. Assim como Jesus, Valéria também acredita que sanções deverão ser aplicadas a ele.
O presidente da ONG Casarão Brasil, Douglas Drumond, também considerou inaceitáveis alguns dogmas impostos pela Igreja, os quais, diz ele, ferem princípios do Evangelho: - A Igreja precisa abrir espaço para todos os tipos de pensamento, é isso que ajuda a fazer uma sociedade mais justa e democrática.
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