quinta-feira, 5 de maio de 2011

Intolerantes, vocês vão ter que engolir mais essa

Não me contenho: CHUPA BOÇALNARO

Intolerantes, vocês vão ter que engolir mais essa 


Ao arquivar a denúncia de um jogar de futebol contra um dirigente em 2007, o juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho sugeriu que se o jogador fosse homossexual, “melhor seria que abandonasse os gramados”. Disse também que “quem se recorda da Copa do Mundo de 1970, quem viu o escrete de ouro jogando (…) jamais conceberia um ídolo ser homossexual”. Também proferiu que: “Não que um homossexual não possa jogar bola. Pois que jogue, querendo. Mas forme seu time e inicie uma Federação”. Por fim, arrematou o seu naco de besteiras dessa forma: “Cada um na sua área, cada macaco no seu galho, cada galo em seu terreiro, cada rei em seu baralho. É assim que penso”.
Apesar da influência de grupos religiosos contrários a mudanças, mais cedo ou mais tarde, leis serão alteradas no Brasil para garantir dignidade, estender direitos e combater preconceitos.
A importante decisão desta quinta (5) do Supremo Tribunal Federal em reconhecer a união civil de casais do mesmo sexo é um passo a mais, não o derradeiro. O problema é que essa caminhada está sendo bem lenta quando, em verdade, deveria correr rápida para dar tempo às pessoas que hoje vivem de desfrutarem uma nova realidade
Como já escrevi aqui, é um absurdo que a essa altura da história nossa sociedade ainda esteja discutindo se deve ou não universalizar direitos. Que, de tempos em tempos, gays sejam espancados e assassinados nas ruas só porque ousaram ser diferentes da maioria. Que seguidores de uma pretensa verdade divina taxem o comportamento alheio de pecado e condenem os diferentes a uma vida de inferno aqui na Terra.
Consciência não tem a ver com classe social – a diferença um olho roxo deixado pela covardia de homens pobres ou ricos está apenas no preço da maquiagem usada para escondê-lo. Consciência não se aprende na escola, nem é reserva moral passada de pai para filho. Consciência tem a ver com a vivência comum na sociedade, a tentativa do conhecimento do outro, a busca por tolerar as diferenças.
O Congresso Nacional que, por vez ou outra, transpira as mais bizarras formas de preconceito através de seus Bolsonaros, é fruto do tecido social em que está inserido – e sim, a sua esbórnia que ganha as páginas policiais, digo, de política, é um reflexo de nós mesmos.
Pois, na prática, uma (não) decisão tomada pelo Legislativo (que transfere, vez ou outra, para o STF o papel de garantir dignidade às minorias) tem em seu âmago o mesmo preconceito das piadas maldosas contra gays ou dos pequenos machismos em que nós (e não me excluo disso) nos afundamos no dia-a-dia. O que difere é o tamanho do impacto, não sua natureza.
Coloquemos a culpa na herança do patriarcalismo português, no Jardim do Éden e por aí vai. É mais fácil justificar que somos determinados pelo passado do que tentar romper com uma inércia que mantém homens, ricos, brancos, heterossexuais em cima e mulheres, pobres, negras e índias, homossexuais em baixo.
No final, será uma escolha entre a barbárie da intolerância e a civilização. Que vença, por fim e o mais breve possível, a tolerância.

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