quarta-feira, 6 de julho de 2011

Governo Dilma não tem um projeto nacional e popular, diz Stédile

Governo Dilma não tem um projeto nacional e popular, diz Stédile




BRASÍLIA – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) vai engrossar os atos populares programados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) para esta quarta-feira (06/07) em todo o Brasil. A intenção é tentar reacender a chama das lutas sociais no país, que teriam sido abandonadas pelos partidos políticos. 

“Na eleição de 2010, percebemos que as propostas das centrais sindicais eram mais avançadas do que a dos partidos”, diz o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile. “E muito mais avançadas ainda do que o programa da candidata Dilma”, completa.

Para Stédile, este tipo de mobilização é necessário para pressionar o governo Dilma Rousseff a adotar um “projeto de desenvolvimento nacional” que atenda os interesses dos trabalhadores.

Abaixo, o leitor confere a íntegra da entrevista exclusiva concecida por Stédile à Carta Maior.

Por que o MST decidiu unir-se à CUT na mobilização?
 
O MST apoia todas as lutas sociais do povo brasileiro. E ficamos muito contentes quando a CUT nos procurou com seu programa de mobilização. Realizamos reuniões com os demais movimentos socais, da Via Campesina e urbanos, para que todos, de alguma forma, pudéssemos nos somar a essa jornada. O movimento sindical é a principal força organizada da classe trabalhadora brasileira. E por isso tem muita responsabilidade para a retomada das lutas sociais e para conseguir, através das mobiliações, arrancar da classe dominante as melhorias das condições de vida para todo povo.
Do ponto de vista do MST, qual a reivindicação mais importante a ser lançada nas mobilizações?
A CUT tem apresentado uma pauta muito importante que interessa à base dela mas tambem a toda classe trabalhadora. Nós do MST e da Via Campesina temos nossa pauta específica que tem alguns pontos emergenciais, como anistiar as dívidas dos pequenos agricultores no Pronaf [Programa Nacional de Agricultura Familiar], acelerar o assentamento de 80 mil famílias acampadas e implementar programas estruturantes de distribuição de renda e desenvolvimento no meio rural.
A pauta geral divulgada pela CUT parece "à esquerda". O MST acha que está faltando quem defenda, no cenário político, uma agenda com esta característica?
Estamos enfrentando um enorme desafio: os partidos políticos ditos de esquerda não têm conseguido apresentar programas da classe trabalhadora. Como fruto da derrota dos países do leste, da crise ideológica e da ofensiva do capital, os partidos priorizaram a luta institucional e se descaracterizaram do ponto de vista ideológico e de classe. Basta ver a forma como os parlamentares votam em questões que interessam aos trabalhadores, no Congresso. Na eleição de 2010, percebemos que as propostas das centrais sindicais eram mais avançadas do que a dos partidos. E muito mais avançadas ainda do que o programa da candidata Dilma.
O governo Dilma está precisando ser puxado mais para a esquerda?
O governo Dilma é resultado de uma composição de classes sociais, diversas e até antagônicas, que foi possível e necessária para ganhar as eleições frente ao projeto neoliberal representado pelo [tucano José] Serra. No entanto, falta ao governo Dilma um projeto de desenvolvimento nacional a partir dos interesses populares. Administrar o Estado, para que haja crescimento econômico com distribuição de renda, é insuficiente como projeto de nação. 

Qual projeto o MST defende? 


Um projeto de desenvolvimento que seja nacionalista, justo socialmente, ambientalmente sustentável e hegemonizado pela ótica dos interesses populares. Mas isso não depende da vontade do governo ou dos partidos de sua base. Será necessário um verdadeiro mutirão social para construir uma unidade de forças em torno deste projeto e isso leva tempo. Esperamos que esta jornada seja apenas o incío da retomada de muitas mobilizações.



Vi na Carta Capital

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