domingo, 10 de julho de 2011

Quem é sua família? Para muitos, a resposta é complicada

Quem é sua família? Para muitos, a resposta é complicada

Barriga de aluguel, doação de esperma e pais do mesmo sexo trazem mudanças inesperadas para as árvores genealógicas e o cotidiano

do portal IG

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Foto: Stephanie Colgan/The New York TimesAmpliar

Mallory e Jamison são, biologicamente, meio-irmãos. Mas, em sua família, são primos

Laura Ashmore e Jennifer Williams são irmãs. Além desta parte, sua relação se torna mais complexa. Quando Ashmore e seu marido, Lee, descobriram há alguns anos que não podiam ter filhos, Williams se ofereceu para engravidar com o esperma de um doador e dar à luz uma criança para o casal. A bebê, Mallory, nasceu em setembro de 2007 e foi adotada pelos tios biológicos Ashmore e seu marido. Então as irmãs começaram a se perguntar: onde a menina fica na árvore genealógica?

“Para questões médicas, a mãe sou eu”, diz Williams. “Mas também sou sua tia”.

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Muitas famílias estão lidando com questões similares enquanto a “árvore familiar” atualmente começa a se parecer mais com uma floresta densa. Genealogistas há tempos definem as relações familiares com base nos laços de sangue ou casamento. Mas a composição da família muda, então muda também a noção de quem ganha um galho na árvore genealógica.
Algumas famílias agora se organizam sob dois históricos diferentes: genético e emocional. Algumas escolas, onde desenhar a árvore genealógica é uma tarefa de classe tradicional, decidiram abandonar a prática. Adriana Murphy, que dá aula de Estudos Sociais para turmas de sétima série,disse que pediu que os estudantes escrevessem uma história sobre algum aspecto de sua família no lugar de montar o gráfico.

Na Riverdale Country School, em New York, o exercício da árvore genealógica tem sido relegado às aulas de língua estrangeira, onde os estudantes podem praticar dizer “irmão” e “irmã” em espanhol ou francês. “Você tem que estar preparado para conversar sobre barriga de aluguel, doadores de esperma e pais do mesmo sexo se for falar de árvore genealógica em classe”, diz KC Cohen, que é do conselho da escola.

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Foto: Stephanie Colgan/The New York Times

Mallory e Jamison são biologicamento meio-irmãos. Mas, em sua família, são primos

Nos últimos seis anos, de acordo com o censo norte-americano, há menos lares formados por casados do que o contrário. E cada vez mais casais do mesmo sexo estão tendo filhos, seja através de barriga de aluguel, doação de esperma ou adoção. O California Cryobank, um dos maiores bancos de esperma dos Estados Unidos, afirma que cerca de um terço de seus clientes em 2009 eram casais de lésbicas, contra 7% de uma década atrás.

Elaborar uma árvore genealógica, no entanto, é mais que um exercício intelectual. Há implicações médicas e legais, em particular no que diz respeito a morte e herança. As famílias se preocupam mais com quem herda uma propriedade quando um parente biológico morre, diz Melinde Lutz Byrne, presidente da American Society of Genealogists.

Questões
Mas Williams e sua irmã têm outras questões a resolver. Williams, que tem uma companheira, teve um filho biológico, Jamison, 6, também concebido com esperma de doador. E as irmãs se perguntaram como descrever a relação entre Mallory eJamison, que são não apenas meio-irmãos biológicos, mas também primos. E onde o doador entra?


Depois de meses de discussão, elas chegaram a uma conclusão: “Mallory é minha filha e Jennifer é sua tia”, diz Ashmore, 38, que mora perto de sua irmã em Minneapolis. Em casa, Jamison às vezes chama Mallory de irmã. Mas na escola, diz Williams, 40, “ela é prima dele”. As duas decidiram que o doador de esperma não tem espaço na família.

Para algumas crianças, ter que explicar sua composição familiar pode ser complicado. “Isso pode causar sofrimento de maneiras inesperadas”, diz Peggy Gillespie, fundadora do Family Diversity Projects, um grupo de aconselhamento de educação familiar. Ela conta que, no ano passado, dois alunos do jardim da infância estavam brincando quando um menino, filho de mãe solteira, contou que tinha uma irmã mais velha. “Você não pode ter uma irmã; você não tem pai”,” Murphy se lembra de ouvir uma menina falando. O menino protestou: ele disse que conhecia seu doador de esperma, que, por sua vez, tinha uma filha.

E os doadores?
Sue Stuever Battel eBob Battel em breve terão quatro filhos. O mais velho, Addy, 8, foi concebido naturalmente; Dori, 5, via doador de esperma. Agora, estão adotando dois meninos. “Todos os nossos quatro filhos são 100% parte de nossa árvore genealógica”, diz Battel. “A conexão genética nunca importou”.


Mas a família Battel entende que suas crianças podem ter perguntas. Então eles prepararam dois tipos de livrinhos: um sobre a vida com os Battel, o outro sobre os pais biológicos de cada criança. Os filhos podem escolher que tipo de informação dividir com os outros.

O casal também discutiu sobre a possibilidade de incluir outras crianças nascidas do mesmo doador. Afinal, as crianças seriam meio-irmãos biológicos de Dori. Seu veredito: “Nós decidimos que eles não são meio-irmãos, mas irmãos de doação”, diz Battel. “Nós os respeitamos, mas eles não são parte da família”.

Foto: Stephanie Colgan/The New York TimesAmpliar

Rob Okun, que doou seu esperma para um casal de lésbicas e quis que as crianças soubessem quem ele era

Rob Okun, um editor de revistas de 61 anos, concordou em doar seu esperma para um casal de lésbicas há 16 anos. Okun já tinha dois filhos biológicos com a ex-mulher, e dois enteados da atual esposa. Ele não queria ser parte da criação das crianças nascidas de sua doação, mas queria que soubessem quem ele era.



O casal Patricia Kogut e Lynne Dahlborg concordou, e Kogut deu à luz Lucyna e Nathaniel. Dahlborg então adotou as crianças. “Existe a árvore genealógica e existe a estrutura cotidiana da família”, diz Kogut said. Ela descreve a sua como uma “família tripla”, que inclui ela mesma, Dahlborg e Okun.

Por muito tempo, no entanto, Okun se sentiu desconfortável com a conexão, principalmente porque isso não era aprovado por sua mãe. Só depois da morte dela, em 2004, ele considerou incluir as crianças em sua própria família. Agora, ele diz, “eu não faço distinção entre meus filhos, biológicos ou não”.

Por enquanto, Williams e sua irmã dizem que estão felizes por Mallory e Jamison terem uma ligação especial. Mas e se um dia as crianças quiserem se definir como irmão e irmã? “Acho que, por mim, tudo bem”, diz Ashmore, hesitante. “Mas vou ter que pensar sobre isso”.

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