sábado, 6 de agosto de 2011

Maria da Penha nele! “Ele me agredia mesmo eu estando grávida”



Maria da Penha nele! “Ele me agredia mesmo eu estando grávida”


Rachel Duarte no Sul21


Paula (nome fictício) é uma jovem mulher de classe média, com um bom emprego e uma educação privilegiada. Fugindo à regra da maioria das vítimas de violência doméstica, que são de classe social baixa, ela é mais uma das muitas brasileiras agredidas pelo companheiro. Depois de viver seis anos com o homem que amava e ter sofridos agressões verbais, psicológicas e físicas, está há um ano separada e criando a filha gerada em meio a conflitos e agressões. “Me separei a um mês de ganhar meu bebê. Ele me agredia mesmo eu estando grávida. Por temer o risco à minha filha que busquei ajuda”, conta.
Há oito meses sem o marido, Paula conta que a vida está melhor mas que ainda gosta do ex-companheiro. “Apesar das agressões, ele tinha qualidades”, afirma, em conversa com o Sul21.Ela reconhece que, não fosse a gravidez, inesperada, ela não teria tomado coragem para sair de casa e terminar o relacionamento. “Eu não tive coragem de processá-lo pelas agressões. Tinha medo dele não reconhecer a minha filha por causa do processo. Então, só entrei com pedido de pensão”, revela.
Além de duvidar da paternidade da criança e exigir um exame de DNA, o ex-companheiro de Paula não evitava os xingamentos e o cerceamento da liberdade da mulher, além das agressões, quando bebia. “Ele bebia todos os dias, me chamava de p. e outras coisas horríveis. Me ameaçava também, mas depois nem lembrava. Ele não conseguia lidar bem com a morte de uma pessoa próxima”.
Foi na internet que Paula conseguiu encontrar o serviço que seria o passaporte para uma nova vida. Buscou o Centro de Referência da Mulher do Rio Grande do Sul e contou seu caso. “Chega uma hora que tu precisa de alguém que te escute e te diga o que tu podes fazer. Os parentes e amigos cansam de ouvir e dizem que a gente que não quer sair da relação. Eu tinha medo e por isso procurei ajuda”, conta. “É difícil para mim”.
Antes de procurar o CRM, Paula foi até a Delegacia da Mulher, mas lá não teve a compreensão sobre o tipo de violência que sofria. “Foi muito frio, impessoal. Não tinha lesões, então não tive muito que fazer. Cheguei a registrar ocorrência, mas não abri processo. Temos que ter um acompanhamento a mais, com orientação psicológica”, defende.
A advogada Rudineia de Souza, que atendeu Paula, recorda do caso e diz que o atendimento teve que ser mais firme com ela, uma vez que envolvia o nascimento de uma criança. “Quando tem em risco outra vida, como era o caso, temos que intervir”, afirma. Apesar de estar próximo da realidade de mulheres vitimadas como Paula e as outras 20 que atende em um dia, Rudineia disse que, apesar da Lei Maria da Penha e do trabalho dos demais atores do sistema de proteção às mulheres, são elas que devem dar o basta na violência. “Não podemos agir por elas, temos que dar condições, apoio, orientação, mas o tempo e a decisão é de cada uma”, salienta.

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