Jaguar: Out no Rock in Rio

Jaguar: Out no Rock in Rio

Eu diria que o rock é uma doença degenerativa que deu no jazz. Vamos supor que um vírus contaminou Louis Armstrong e ele, na fase mais aguda, tivesse se transformado no Elvis Presley, com topete glostorado, lantejoulas, pélvis giratório e tudo. Como medida cautelar, estarei hoje refugiado na Serra, a cem quilômetros de distância e a mil e duzentos metros acima da Cidade do Rock. Enquanto 700 mil fãs estiverem balançando os braços como algas amestradas, estarei no meu esconderijo ouvindo meus discos.

Miles Davis em vez da Ke$ha (o charme, digamos assim, da moça, é dar cusparadas de uísque e jogar camisinhas em cima da plateia), Anita O’Day no lugar de Katy Perry, Gerry Mulligan em vez de Rihanna, e por aí vai.

Xícara de chá na mão, dentro uma bebida da mesma cor; toda vez que escrevo que bebi um uísque, um sujeito envia e-mails furiosos me xingando de cachaceiro. Essa ditadura do politicamente enche o saco mas também desconcerta. Evangélicos também estão contra: “Quem vai ao Rock in Rio não tem Deus no coração”. E agora? Não vou lá, nem tenho Deus no coração. Sobrou até para o Drummond, coitado, como vi na coluna do Joaquim: botaram ao lado da estátua dele, no banco em Copacabana, clones de Freddie Mercury, Elton John, Rihanna e Stevie Wonder. Como se não bastasse terem posto o poeta sentado de costas para o mar.

Desses gringos todos o único que já vi, ao vivo e em cores, é a vovó Elton John, há 35 anos, num show em Londres, quando fui com uma turma de coleguinhas da imprensa a convite do uísque Grants. Achei ótimo. Mas imagino que ele não deve se sentir muito à vontade no meio daquele bando de guris esquisitos. Uma curtição as exigências feitas pelos roqueiros para o respectivos camarins, reveladas pelo Bruno Astuto. Em contraste com champagne Krug (R$ 900 a garrafa) do Guns’n’Roses, modestos sacos de pipoca do Elton John. Agora as pergunta que não quer calar: o que o Milton Nascimento está fazendo no meio desse pessoal? 

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