domingo, 25 de setembro de 2011

Paulo Moreira Leite: Guru da crise fala em crescer, crescer, crescer…

Paulo Moreira Leite: Guru da crise fala em crescer, crescer, crescer…



O economista Nouriel Roubini virou uma espécie de guru obrigatório da crise economica desde que anunciou com razoável antecedencia a quebra de 2008.
Não foi o único mas foi o mais incisivo.

Roubini voltou a profetizar que a economia mundial voltar a rondar o abismo tempos atrás, quando surgiram os primeiros e ainda leves sinais de catástrofe nos países desenvolvidos.

Com apelido de doutor Catástrofe, não recebeu a devida intenção. Em artigo publicado hoje na Folha, Roubini oferece oito idéias para evitar uma nova recessão, risco que está em todos os radares.

As 8  idéias podem ser resumidas a uma só: crescimento. Ele quer estímulo para os países em dificuldade. Defende a elevação do crédito para quem não tem e alerta que mesmo os países cuja economia agora funciona bem não devem ser conduzidos a uma política de austeridade, pois isso iria comprometer a recuperação dos que se encontram em dificuldade. 

Diz que os países emergentes não podem perder o ritmo e devem ser auxiliados em caso de necessidade.

Contra os profetas da austeridade, do controle de gastos, que adoram levantar o espantalho do déficit como a grande prioridade do momento, Roubini diz que o problema é outro. Explica que não é a inflação mas a falta de demanda, que diminui o consumo, aumenta o desemprego, diminui as receitas dos governos, numa grande bola de neve negativa.

Sua receita não é daquele tipo que pede sacrifício apenas aos mais pobres e desamparados.

Instituições em dificuldade devem ser socorridas para não quebrar e países em dificuldade para honrar seus compromissos devem ter o direito de reescalonar suas dividas. Empregos devem ser protegidos para que o consumidor volte às compras.

Roubini sequer é o primeiro a fazer sugestão neste caminho. O Premio Nobel Paul Krugmann bate na mesma tecla desde os primeiros sinais da crise grega, em maio de 2010. Outro Premio Nobel, Joseph Stiglitz, não tem dito outra coisa.

Na edição da semana anterior, a revista Economist fez um editorial longo e detalhado lembrando que a hora é tão urgente e tão grave que as autoridades economicas deveriam dedicar-se a um único problema: garantir a volta ao crescimento.

Roubini será ouvido, como Paul Krugman, Joseph Stiglitz e a Economist não foram?

O  problema, como sempre, é o caráter essencialmente irracional da economia de mercado.

Não faltam idéias técnicas para consertar a economia. Falta uma visão política para dobrar aquelas forças que ganham com a crise e tem uma disposição irracional de ampliar suas  receitas mesmo nas horas mais difíceis na certeza de que irão ganhar um pouco mais. Isso ocorreu em 1929, repetiu-se em 2008 e pode repetir-se agora. Todo mundo sabe que os países pobres da Europa não irão suportar os sacrifícios impostos, o risco de contaminar economias saudáveis até ontem é imenso mas, mesmo assim, prossegue-se numa política que tem o abismo como horizonte.

Paul Krugman observou que no momento até a vaidade profissional dos economistas que passaram os últimos meses como advogados de políticas classicas de austeridade,  atrapalha uma compreensão clara da crise.  Fanáticos pela economia de mercados, eles eram os fiadores do mundo irracional e e irresponsável que levou ao abismo de 2008. Correm o risco de serem questionados pelos fatos mais uma vez, pouco tempo depois.
Os remédios básicos para enfrentar a crise estão nos manuais de economia. Os economistas que se encontram no comando da economia mundial puderam estudar a crise de 1929 na universidade e até fizeram trabalhados acadêmicos sobre ela, como Ben Bernanke, o presidente do FED americano.

Como tantos de sua geração, nos Estados Unidos e fora dele, Bernanke está longe de aplicar o que sabe e o que já ensinou.  Tem feito uma política timida e errática no banco central americano,  responsável pela desmoralização que permite ao Tea Party republicano fazer chantagens contra toda tentativa de arrumar a economia antes da eleição presidencial do ano que vem.

A questão é quebrar  resistencia do mercado financeiro, agravada pela presença de governos conservadores na Europa e de uma equipe desfuncional no comando dos EUA. A crise chegou a um ponto tão sério e tão grave que não pode ser vencida sem um sacrifício real daqueles setores habituados a ganhar sempre.  E este é o ponto difícil, numa economia onde o mercado financeiro possui clientes e serviçais em tantas partes.

Esta é a dúvida.


Na Época

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