Mário Augusto Jakobskind
Morte às corporações gananciosas
Há vários indicadores de
que a crise econômica que assola a Europa e os Estados Unidos é mesmo grave e
pode levar ao início de uma nova etapa no modo de produção capitalista. Este
diagnóstico já foi admitido até pela insuspeita Miriam Leitão em sua coluna de
O Globo.
Com o título “O fim ou tudo de novo”, a colunista, defensora ferrenha de políticas econômicas que na prática resultaram no impasse atual do sistema, admite em um trecho da sua coluna de 6 de outubro que “depois de uma crise que se desdobra em ondas de aflições desde 2008 está na hora de as autoridades mundiais pensarem no fim do capitalismo como nós o conhecemos”.
Pois bem, em vez de ter
intitulado como intitulou o artigo, Miriam Leitão poderia ter dito “Marx tinha
razão” ou algo do gênero, mas aí seria demais para quem durante tanto tempo
defendeu exatamente políticas econômicas com ênfase para o enfraquecimento do
Estado e a hegemonia do Estado mínimo.
Em termos políticos, a
crise estrutural do sistema tem levado, como de outras vezes, governos a
socorrerem o setor financeiro e isso sempre em detrimento dos trabalhadores
assalariados. Os gregos, mobilizados nas ruas em protesto contra a opção de
arrocho posta em prática pelo governo socialista (epa!), que o digam.
Enquanto isso ocorria na
Grécia, na Itália, país europeu que verdadeiramente está à deriva, o presidente
do Conselho de Ministros, Silvio Berlusconi, além de não dar conta da situação
levando os italianos ao desespero, é metido a fazer piadas, sempre de mau
gosto, diga-se de passagem.
A última que relatam as
agências internacionais assinala que ele sugeriu a mudança do nome do seu
partido Força Itália para “Força Gnocca”, que no idioma italiano se refere
tanto as mulheres bonitas e chamativas como ao órgão sexual feminino. Já
imaginaram algum político brasileiro propondo a criação de um partido com o
palavreado similar ao utilizado por Berlusconi? Se fosse parlamentar estaria no
mínimo respondendo à Comissão de Ética. Mas com o “honorable” Berlusconi, que
depõe contra a Itália, fica tudo por isso mesmo.
Na última sexta-feira na
Itália, milhares de estudantes saíram as ruas para protestar contra os cortes
orçamentários para o ensino decididos pelo governo Berlusconi. Para se ter uma
ideia, nos últimos três anos, Berlusconi, que não quer deixar o poder de
jeito nenhum, cortou 8 bilhões de euros do orçamento para a
educação púbica. Pode-se imaginar as consequências disso.
Em Bruxelas, a polícia
belga deteve neste sábado (8) 500 manifestantes de várias nacionalidades que
preparavam um acampamento e já tendo em vista a realização de um grande ato no
próximo sábado (15) por uma “mudança global”.
No mesmo dia, o FMI
considerava que o governo grego está tímido na implementação da política
econômica de arrocho aos trabalhadores e exigia mais. O organismo internacional
não está nada satisfeito com a reação dos trabalhadores e quer uma linha de
ação ainda mais dura.
Em outras partes do
planeta, nos EUA, por exemplo, como relatou o Eliakim neste DR, os protestos se
intensificam em Wall Street, agora com a participação de sindicalistas e
veteranos de guerra, o que verdadeiramente seria inimaginável alguns anos
atrás.
Na América Latina, e em
outras partes do mundo, foram realizadas ações em 75 países em um movimento
denominado Jornada Mundial de Trabalho Decente, em defesa dos trabalhadores que
estão sendo ameaçados em função de políticas econômicas de favorecimento dos
banqueiros, responsáveis pela crise atual.
É sempre salutar quando
os trabalhadores em todo mundo se unem em defesa dos seus interesses, sobretudo
nos momentos, como o de agora, que as conquistas obtidas depois de muita luta e
mobilização estão mais do que ameaçadas. E fica cada vez mais claro que a única
resposta de quem está ameaçado em perder conquistas adquiridas é a mobilização.
E isso seja na Grécia, nos EUA, na França, no Brasil, no Chile etc.
A propósito do Chile, o
presidente Sebastián Piñera, cuja rejeição aumenta a cada dia, quer enfrentar
as mobilizações dos mais amplos setores com repressão, algo que os chilenos
conheceram durante os anos de chumbo do general Augusto Pinochet. Piñera quer
uma legislação mais rigorosa para impedir que os estudantes continuem lutando
em favor do ensino público e a não continuidade da mercantilização do setor.
Ao contrário do que já
existe em outros países, entre os quais a Venezuela, no Chile não há
possibilidade de o povo abreviar o mandato do presidente ou de outros políticos
através de um referendo convocado por um determinado percentual de eleitores
pedindo a realização da consulta nesse sentido.
As previsões não são
nada otimistas no país andino. Piñera não abre mão de aceitar o fortalecimento
da escola pública com, pelo menos, a redução dos lucros do setor privado na
área do ensino. Muito menos que o ensino volte a ser gratuito, como acontecia
no governo de Salvador Allende. Uma das bases de apoio de Piñera são os
empresários do setor de ensino, que tudo podem e muito mais.
Em suma: assim caminha a
humanidade. Não é à toa que daqui para frente as reações ao arrocho e socorro
aos bancos vão se intensificar. Quem viver verá.
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