Mas, agora, X. não pode nem sequer ver as personagens Valéria e Janete. Ela acusa um advogado de 46 anos de atacá-la sexualmente em um trem no metrô, às 18h40 do último dia 14 (sexta-feira).
"A gente que trabalha sabe o empurra-empurra que é pegar o metrô na ida e na volta, e ainda por cima no horário de pico. Aí, eles põem essa brincadeira ridícula. Só quem já sentiu na pele a humilhação de ter um sujeito se esfregando contra o seu corpo sabe a tristeza que é. Tem gente que acha engraçado, mas eu, se pudesse, tirava do ar", disse X. sobre o quadro do "Zorra Total".
Ela tem 1,59 metro e é muito magra --resultado da dieta sem carne que segue desde criança, quando assistiu a um documentário sobre matadouros.
X. saía do trabalho no centro de São Paulo, depois de uma jornada de nove horas, rumo a sua casa, em Itaquera (zona leste). Trajava calça jeans e blusa de mangas compridas.
Nesse trajeto, a chamada linha 3-vermelha do metrô apresenta densidade máxima (10,9 pessoas por metro quadrado no horário de pico). É a mais congestionada do sistema paulistano.
Desespero
Segundo X., o assédio iniciou-se tão logo ela entrou no vagão lotado, com o advogado se encostando em seu corpo.
"Eu cheguei a pensar que fossem outras pessoas que estivessem empurrando. Eu tentava me esquivar e ele vinha. Eu saía e ele vinha. Toda hora. Eu tinha ainda a preocupação com a bolsa, para não roubarem. Então, uma hora, não tive mais para onde ir, porque ele colocou as mãos nos ferros de cima e me apertou com o corpo.
Um rapaz de 24 anos, comerciário, que estava no mesmo vagão, flagrou o instante em que X. desmaiou: "Ao olhar para trás, ela viu o pênis do advogado fora da braguilha da calça do terno.
Gritos
"Eu fiquei travada, eu parei, eu não tive reação. Sei lá o que estava passando pela minha cabeça." Assim a moça descreveu a espécie de blecaute que sofreu.
Foi o jovem comerciário quem segurou as portas do vagão na estação Belém, para que X. fosse retirada, e que, aos gritos, chamou a segurança do metrô, que impediu o advogado de seguir viagem tranquilamente.
"O homem alto e engravatado saiu do trem ainda com tudo para fora, o cinto solto e a braguilha aberta", disse o rapaz na Delpom (Delegacia de Polícia do Metrô).
X., que pretende tornar-se psicóloga, só chorava. "Por ele ter saído do jeito que saiu e por mim, porque eu sou mulher. Eu nunca imaginei que fosse acontecer isso comigo, um monte de gente perto. Muita vergonha, nossa.
X. continua pegando o metrô para ir e voltar do trabalho. Não mais do mesmo jeito, contudo: "Nossa, eu estou parecendo louca. Fico olhando para trás o tempo todo. Tenho cisma de alguém atrás de mim. Se tem um homem atrás de mim, eu saio. Eu não consigo evitar", conta.
X. vai marcar uma consulta com a psicóloga da empresa em que trabalha.
Resposta
A Central Globo de Comunicação não quis responder às críticas feitas ao quadro "Metrô", do programa "Zorra Total", em que a personagem não se importa de ser assediada no vagão, e informou que não vai alterar em nada o seu conteúdo.
O advogado acusado por X., Walter Dias Cordeiro Junior, 46 anos, não quis falar com a reportagem, que o procurou no apartamento em que vive, na Freguesia do Ó (zona norte da capital).
Pelo interfone da portaria do condomínio, ele disse que tinha sido aconselhado por seus advogados a não se pronunciar à imprensa. Pediu, entretanto: "Escreva apenas que eu afirmo minha inocência".
Cordeiro Junior ocupava desde 2002 cargo de corregedor da Corregedoria-Geral da Administração, vinculada diretamente ao governador de São Paulo. No primeiro dia útil subsequente à sua prisão e ao indiciamento sob a acusação de violência sexual mediante fraude, foi desligado da Corregedoria.
Como corregedor, ele havia sugerido ao Metrô que avaliasse a anulação de um processo de licitação que foi questionado em outubro de 2010, após reportagem do jornal "Folha de S.Paulo".
O Metrô informou que, em 2011, registrou, em média, 0,9 ocorrência de segurança pública (qualquer tipo) para cada milhão de passageiros transportados.
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