Quando o Let’s Pense surgiu para defender uma educação não sexista, não pensamos somente em escolas, professores e livros didáticos. Isto porque o processo educativo envolve não só os centros educacionais, mas também a casa, a família, a rua, classes, etnias e culturas que convivem no planeta. Envolve homens e mulheres. Na maioria das vezes muitos acham justas tais lutas, mas não entendem o impacto em suas vidas.
Por Giordana Moreira
Fonte: Let's Pense
Vejamos alguns aspectos da educação que recebemos e reproduzimos cotidianamente. Segundo o Informe Brasil gênero e educação - produzido no marco da Campanha Educação Não Sexista e Anti Discriminatória, as mulheres estão avançando, em quantidade, na formação escolar em comparação aos homens. Representam cerca de 55% da população com nível superior completo (graduação) e superaram os homens em obtenção de títulos de doutorado a partir de 2004. No entanto, quando se trata dos níveis mais elevados de escolarização (pós-graduação), as mulheres respondem por apenas 43% do total de pessoas com mais de 16 anos de estudo. Há uma falsa impressão que na educação o problema do sexismo está resolvido. Tornam-se até doutoras, mas não estão no topo do conhecimento. Mesmo com este avanço na permanência na escola, em números absolutos, as mulheres ainda constituem a maioria dos analfabetos com mais de 10 anos de idade no país. Segundo a Unesco as mulheres representam dois terços dos 796 milhões de adultos analfabetos do planeta. No Paquistão, por exemplo, a mulher precisa de autorização para ir á escola.
E estas que ingressam na escola encontram uma situação delicada. Uma pesquisa realizada pela ECOS (2008), aponta que nos currículos dos cursos de pedagogia e de licenciatura de todo o território nacional os temas relacionados à sexualidade e às relações sociais de gênero não estão presentes de maneira significativa na maioria dos cursos de graduação que são responsáveis pela formação de professores. A sexualidade nas políticas de educação aparece sempre vinculada à saúde, à prevenção de doenças, a violências e à gravidez e não como dimensão inerente à vida humana. Pesquisa realizada pelo Instituto Sedes Sapientae, em parceria com o Unicef (2009), revela a dificuldade das escolas em abordar e encaminhar casos de violência de gênero e sexual que ocorram tanto em seu interior como nos espaços familiares. Muitas vezes, em decorrência da falta de compreensão sobre a complexidade da problemática, as escolas acabam contribuindo para que as vítimas sejam ainda mais penalizadas. Formar um cidadão livre de preconceitos e de discriminações não é tarefa somente da escola, mas faz parte da realidade do/a educador/a enfrentá-la.
Nos livros didáticos encontramos poucas mulheres, e em geral brancas, citadas como construtoras da História da humanidade. Apesar de terem contribuído para a evolução da civilização para além de gerar e educar filhos é fácil encontrá-las nas páginas dos livros em ilustrações na cozinha ou cuidando da família em ambiente doméstico. No próprio dicionário a definição de Mulher é: esposa, quando casada, senhora. E do Homem: a espécie Humana, varão (respeitável). Estudamos a História e aprendemos a vida por uma perspectiva do homem branco.
Essa perspectiva é agressivamente reforçada por toda nossa vida através da mídia e da indústria. As revistas femininas ensinam culinária, decoração, moda e beleza. Incluíram para a mulher moderna relações de trabalho e sexo: _ Seja prática, cozinhe mais rápido para sobrar tempo de se depilar; _ Realize fantasias masculinas, você até pode gostar! A publicidade vende massivamente o corpo da mulher como fonte de diversão para o homem, possível de ser consumido, como um carro novo. A indústria de cosmético lucra com padrões de beleza de pele jovem, cabelos lisos e corpo magro.
Essa cultura sexista prejudica mulheres em todo o mundo, consequentemente afetando também os homens, pois em todos os momentos as relações de gênero estão presentes e influenciadas pela educação que aprendemos e reproduzimos sem questionamentos, principalmente quando não enxergamos as desigualdades. Mas quando tomamos conhecimento podemos escolher entre reproduzir ou transforma – lá para uma sociedade livre.
Fontes:
Informe Brasil gênero e educação – produzido no marco da Campanha Educação Não Sexista e Anti Discriminatória. O trabalho é desenvolvido pela organização Ação Educativa, com colaboração da organização Ecos – Comunicação e Sexualidade e do CNRVV – Centro de Referência às Vítimas de Violência do Instituto Sedes Sapientiae/SP.
www.educacion-nosexista.org
Cartilha Por uma educação Não sexista – Casa da Mulher Trabalhadora (CAMTRA)
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