Receita para derrubar ministro
Mário Augusto Jakobskind
Uma semana das mais
movimentadas aconteceu nestas plagas. No sábado, por exemplo, os brasileiros
ficaram sabendo que Lula está com câncer na laringe e já começou a especulação
sobre as perspectivas de participação política do ex-presidente, que continua bastante
influente. Aguarde-se o desenrolar dos acontecimentos.
O blog Brasil reproduziu
documentos do site WikiLeaks revelando que o global William Waack, figura
também de proa no famigerado Instituto Millenium, é informante do governo
estadunidense. O texto assinala que Waack foi indicado por membros do governo
dos EUA para “sustentar posições na mídia brasileira afinadas com as grandes
linhas da política externa americana”. Diogo Mainardi também aparece na lista
de informantes dos EUA, da mesma forma que o colunista da Folha de S. Paulo,
Fernando Rodrigues.
A TV Globo em nota
oficial negou a denúncia contra Waack classificando-a de “absurda”.
Mas desmentidos da Globo têm pouco valor, até porque a prática informativa da
Vênus Platinada fala mais do que qualquer desmentido.
No Ministério dos
Esportes saiu o seis para entrar o meia dúzia, ou seja, Aldo Rebelo no lugar de
Orlando Silva e com a agravante de que o novo titular da Pasta vem sendo
acusado pelos movimentos sociais de como relator do Código Florestal favorecer
o pessoal do agronegócio.
Para ter uma ideia de
quanto Rebelo é cultuado pelos grandes proprietários de terra basta mencionar o
comentário da senadora Kátia Abreu, também dirigente do Conselho Nacional de
Agricultura quando soube que o deputado do PC do B tinha sido nomeado para
ficar no lugar do camarada Orlando Silva: “Aldo Rebelo faz parte de um time do
bem! Parabéns ao governo pela escolha”. É o caso de perguntar: quem escala este
time mencionado pela porta-voz do agronegócio?
A novela dos Esportes
possibilitou à oposição de direita colocar as mangas de fora e procurar
desgastar o governo Dilma Rousseff. Convenhamos, é de uma hipocrisia sem
tamanho o deputado Antonio Carlos Magalhães e o senador Álvaro Dias se
proclamarem arautos da moralidade, quando se sabe que os respectivos partidos
que eles integram quando controlavam o governo federal não primavam
propriamente por práticas cristalinas, haja vista as privatizações das
estatais.
ACM aparece quase
diariamente nas telas da Globo vociferando contra o governo federal e pregando
a moralidade. Álvaro Dias, uma figura vinculada ao que há de pior em matéria de
reacionarismo no Estado do Paraná, não faz por menos. Como tanto o Partido
Democratas, a denominação atual do PFL, o que é uma piada, como o PSDB estão
completamente sem bandeiras, qualquer tipo de denúncia serve, mesmo as surgidas
a partir da revista Veja, uma publicação que prima pela manipulação da
informação e pela falta de credibilidade.
No fundo, bem lá no
fundo, Dem e PSDB continuam inconformados pelo fato de com o terceiro mandato
presidencial consecutivo encontrarem-se afastados do controle do Estado e
consequentemente sem possibilidade de abocanhar os cargos para os
correligionários.
A Revista Veja agora
também vinculada a capitais sul-africanos que apoiavam o apartheid, é linha
auxiliar dos partidos de direita que já estão de olho no embate eleitoral em
2014 quando Dilma Rousseff completará os quatro anos de mandato. A Editora
Abril também perdeu vantagens com o governo federal na área do livro didático.
Em compensação, no Estado de São Paulo, governado pelo PSDB desde muito tempo,
a história é bem outra. Ou seja, ganham muitos milhões de reais com os livros,
mas praticamente ninguém contesta o fato.
No caso de Orlando
Silva, a primeira matéria que apareceu na mídia foi via Veja, completamente sem
provas e que aqueceu os anais oposicionistas. O tal PM, de nome João Dias,
ficou de comparecer na Câmara dos Deputados para fazer mais denúncias,
mas na última hora acabou não indo, isso depois de um grande empenho da
oposição para que acontecesse o depoimento.
Enquanto a Polícia
Federal continua a aguardar provas concretas sobre a participação de Orlando
Silva no esquema de corrupção com as ONGs, a Folha de S. Paulo apareceu com matéria
tentando agora envolver um irmão de Aldo Rebelo nas denúncias sobre falcatruas
no Ministério dos Esportes. Soa realmente estranho o fato de a denúncia, com
base apenas no depoimento do PM delator, também sem provas, só aparecer depois
da nomeação de Aldo Rebelo.
Também soa estranha a
condenação de antemão de um acusado de corrupção, como o ex-ministro Orlando
Silva, só pelo fato do Supremo Tribunal Federal (STF) passar a cuidar das
denúncias. Isso não significa que já houve a condenação, como quer fazer crer a
mídia de mercado. Açodamento dessa natureza acaba desembocando no
fascismo.
Depois do episódio que
culminou com a demissão de Orlando Silva, já se pode pensar em um trabalho
jornalístico mais aprofundado. Sugestão de título: Receita para demitir um
ministro. Começa com matéria na Veja, fazendo dobradinha com a Época,
desmentidos daqui e dali, repercussão nos espaços midiáticos das Organizações
Globo, do Fantástico ao Jornal Nacional, e demais órgãos da imprensa
conservadora, sobretudo as revistas semanais, até alcançar o desgaste político
do denunciado.
Somam-se a isso as
convocações dos mesmos meios de comunicação de mercado em conjunto com as
Federações de Indústrias do Rio e São Paulo para atos públicos de combate à
corrupção, inclusive com vassouras verde amarelas distribuídas a granel, e o
jogo está feito.
Mas informações sobre o quanto o Brasil vem gastando com a dívida
pública, nem pensar. Afinal, tudo que compromete o modelo econômico e a
estratégia de favorecimento ao capital financeiro, a mídia de mercado
silenciará totalmente e se voltará para o varejo, de forma a produzir matérias
para iludir incautos. Para se ter uma ideia dos gastos mencionados, no ano
passado corresponde a 45% do orçamento brasileiro, que foi de 1,414 trilhão de
reais. Então, só para o pagamento dos juros e amortizações o total é de
635 bilhões de reais, o que corresponde a quase R$ 2 bilhões diários
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