Xico Sá
São muitos os momentos em que o homem é fraco como macho, parceiro, marido, amante etc. Mas em uma ocasião, em especial, essa fraqueza masculina desonra de vez as calças e põe a nu a mais pura covardia amorosa.
É quando a mulher é presa, detida, encarcerada.
O marido some.
Nada de visita.
Mesmo que ela carregue na barriga um filho com o seu sangue.
Um filho condenado desde o ventre, um Raskolnikov involuntário no presídio feminino do Complexo Penitenciário do Carandiru.
“Leite e Ferro”, documentário da diretora Claudia Priscila que estreou hoje no cinema em SP, revela essa falência do macho ao narrar a rotina de detentas que geraram seus meninos em um presídio.
O leite de uma amamentação vigiada, o ferro da punição, em muitos casos, injusta. O homem que se ausenta, o Estado-macho presente para vigiar e punir da forma mais perversinha. Escrota é a palavra.
Bebê no colo, uma mãe presidiária recorda a crueza de um policial desmamado:
“Você está grávida, amarrada a uma grade no chão frio? E eu com isso, quem mandou você abrir esse bucetão?"
Mesmo com um tema tão cruel, o filme consegue, com extrema delicadeza, tratar da ausência de carinho dos homens, como se as mulheres não esperassem por isso mesmo.
O cara em fuga e o homem-da-lei do Estado a dizer, qual um Luiz XIV de França, “o macho c´est moi”, o macho sou eu.
Você, amiga, que se espantou ao ler recentemente sobre grávidas algemadas durante o parto em São Paulo –a dor da gente às vezes sai no jornal!- terá no filme mais um documento que prova a crueldade como método permanente, não apenas um caso isolado.
A excelente reportagem de Eliane Trindade, na versão impressa da Folha, junta-se ao documentário de Cláudia Priscila como marcos sobre a indecência dos homens, sempre com uma quedinha para o medievalismo, mesmo no ano da graça de 2011.
“Leite e Ferro” está em exibição no Unibanco Arteplex Frei Caneca (sala 4) em dois horários: 15h e 20h20. O cronista recomenda.
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