Não se faz um Lula todos os dias
Mas na verdade conheci Lula antes, como morador da Lomba do Pinheiro. Organizamos um Fundo de Greve de apoio às greves dos metalúrgicos do ABC, fundamos um Núcleo de Base do PT e organizamos a Oposição Sindical dos trabalhadores da construção civil, à luz das lutas do ABC paulista.
Lula tem pelo menos duas grandes virtudes que sempre me chamaram a atenção.
Lula sempre soube ver na frente, antecipar-se aos fatos. Foi assim com as greves do ABC, em meio à ditadura, quando vislumbrou o enfraquecimento do regime, a possibilidade da abertura democrática, combinados com o empobrecimento dos trabalhadores. A partir da vivência, da prática e da realidade, enxergou o espaço para criar um partido dos trabalhadores. Ou a importância da formação política dos trabalhadores. O Sindicato dos Metalúrgicos sempre teve processos organizados de formação. Mais tarde, a criação do Instituto Cajamar, e depois do Instituto Cidadania. Assim foi a proposta do Fome Zero no início do seu governo, a aposta na candidatura Dilma, mulher, gestora competente. Ou, agora, ex-presidente, os olhos voltados para a América Latina e África.
Lula sempre teve e demonstrou um amor entranhado, primeiro e preferencial, pelos pobres, pelos fracos e oprimidos. A falta de emprego e de salário, não ter comida para pôr na mesa, a fome sempre foram seu indicador maior, seu norte. São inúmeras as histórias quando dirigente sindical, dirigente político, presidente. Como quando, depois de insistência de seu chefe de Gabinete, Gilberto Carvalho, cancelou todas as audiências para falar longamente com os hansenianos, jamais atendidos por ninguém, muito menos por um chefe de governo. Ou dos catadores e moradores de rua, com quem se encontra todos os anos em São Paulo dias antes do Natal.
Por isso, quando, na abertura da IV Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional em Salvador, Bahia, o presidente do Consea, Renato Maluf, e no encerramento o ministro Gilberto Carvalho mencionaram o nome de Lula, os mais de 2 mil delegados se levantaram e começaram a cantar emocionadamente o Lula-Lá de 89, que nunca mais esqueceram e nunca mais esquecerão.
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