Depois dizem que não dá
para morar no Rio por causa da violência. Porque no Rio não se pode
andar nas ruas, porque no Rio os arrastões pegam todo mundo em túneis e
avenidas, porque no Rio as balas perdidas atingem inocentes a toda hora. Tudo bem,
ninguém discute. Mas não dá para esconder que a violência em
São Paulo está igual ou pior que a carioca.
Pelo andar dos
acontecimentos a terra da Garoa está fazendo jus ao nome de suas principais
vias de acesso à cidade chamadas de Marginais, quando o assunto é
criminalidade. A quantidade de ocorrências policiais é tanta que chega a não
caber nas primeiras páginas de sites e jornais de papel. São tantos e tão
diferentes os tipos de crimes que deixam qualquer um com medo de andar pelas
ruas da maior metrópole da América Latina.
Em agosto último, estava
eu aguardando a mala na esteira do aeroporto internacional de São Paulo,
quando fui abordada por um senhor de cabeça branca que me perguntou qual tipo
de relógio eu estava usando e se portava bolsa ou bagagem que chamasse a
atenção com laptop dentro. Respondi que não, que não estava usando nada
“de marca” como o pessoal costuma dizer no Brasil.
O tal senhor
pediu-me desculpas pela abordagem, mas que, ao me reconhecer e sabendo que moro
fora do Brasil, sentiu-se na obrigação de me avisar de um novo golpe na praça.
Ele contou-me que
andava a pé em uma rua movimentada dos Jardins, quando um homem se aproximou,
sorridente, e deu-lhe um abraço como só grandes amigos se dão. Nesse abraço,
ele já sentiu o cano de uma arma em suas costas, enquanto o “amigo” sorria e
lhe dizia entredentes para sorrir também e fingir que o conhecia. A cena durou
menos de um minuto, e o “amigo” saiu levando carteira, relógio e a
bolsa com o laptop. E ainda se despediu sorrindo e falando “aparece lá em
casa”.
Esse é apenas mais um
golpe entre tantos que os paulistanos e inocentes turistas têm que enfrentar no
dia a dia violento e perigoso nas ruas da capital paulista. Que o diga o
turista francês, agredido sem nenhuma razão na tradicional Rua Augusta.
Por volta das duas da
manhã, enquanto atravessava a rua com dois amigos, saindo de um
restaurante, o francês sentiu uma pancada tão forte no rosto que pensou ter
batido num poste. Mas não foi nada disso. Ele foi agredido por alguém que
usava um “soco inglês” que lhe deixou sangrando com uma fratura que
mereceu uma cirurgia de emergência Hospital das Clínicas. O agressor
desapareceu e o pobre francês acha que, pela gratuidade da agressão, deve ter
sido confundido com um homossexual, o que, segundo a polícia, é
perfeitamente possível, pois há muitos outros casos de agressão desse tipo,
registrados na mesma área, a maioria deles praticados pelos chamados
“skinheads”, sempre com motivação homofóbica.
O turista francês
comentou que, antes de ir à São Paulo, passou pelo Rio de Janeiro,
onde circulou por ruas de grande movimento, passou perto das favelas cariocas e
áreas pobres da cidade e não teve nenhum problema. Foi tê-lo numa região
paulista considerada de classe alta e com fama de ser bem
policiada. Ironia do destino?
Bem, mas pra terminar a
coluna, não os casos de violência que são intermináveis, li a história de
um outro homem que, ao passar pela portaria do prédio onde mora, no Morumbi,
foi rendido por um bando de assaltantes que realizava naquele momento um
arrastão nos apartamentos. O porteiro e os moradores que passavam eram
levados para um quartinho no andar térreo, como manda o figurino desse tipo de
assalto, que virou rotina nas duas principais metróploes brasileiras.
Mas o interessante nessa
história, é que o morador resolveu ir à delegacia de polícia dar queixa do
roubo, do qual ele e os demais moradores tinham sido vítimas. Em conversa
informal com os policiais que estavam de serviço, nosso personagem ouviu deles
o conselho mais absurdo e bizarro que poderia imaginar:
“O senhor deveria se mudar do Morumbi, é um bairro muito perigoso
e quase todos os dias tem assalto ou nas ruas ou nos prédios”.
Chama o ladrão, chama o
ladrão...
No DiretodaRedação
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