terça-feira, 8 de novembro de 2011

Por dentro do ônibus onde estão detidos alunos da USP



Por dentro do ônibus onde estão detidos alunos da USP

Estudantes negam bombas caseiras e quebradeira e passam o tempo com livros, frutas e pão com mortadela


Após mais de 10 horas de detenção, os estudantes da Universidade de São Paulo (USP) que estão em ônibus nos fundos do 91º Distrito Policial querem se defender. O iG entrou em um dos dois carros, onde estão 35 jovens – alguns permanecem dentro da delegacia depondo. Alimentados com pão com mortadela, frutas e água, eles leem livros que julgam inspiradores e afirmam que a polícia foi truculenta.
Foto: Agência EstadoAmpliar
Aluno detido em ônibus empunha livro
Sentado no banco do motorista do ônibus, está o chileno Felipe, de 23 anos, que diz ter vindo do Chile apoiar os colegas brasileiros e, como eles, não quer se identificar corretamente. “Nome para quê? Estamos presos todos juntos aqui, a nossa fala é uma só. Universidade não é lugar de polícia”, diz um deles, com um ponto rosa choque pintado na testa. “É a nossa revolução rosa”, explica. Um outro está todo vestido com a mesma cor.
Eles negam que tenham quebrado quadros e móveis dentro do prédio da reitoria. Afirmam que cuidaram de tudo e que não saíram antes porque a reitoria havia esticado o prazo para que deixassem o prédio até quarta-feira, quando haveria outra rodada de negociação. Segundo eles, as garrafas com panos que apareceram nas imagens feitas após a desocupação e sugerem bombas caseiras foram plantadas. “Ninguém ali é ingênuo de pensar que dava para enfrentar a polícia, é um insulto a mídia pensar isso.”
Segundo eles, quando a polícia chegou a maioria dormia e foi acordado com o barulho da “quebradeira” de portas e vidros. Os estudantes dizem que todos que estavam no local foram detidos além de uma equipe que estava do lado de fora filmando para um documentário.



Depois da madrugada agitada e sob o sol quente, alguns dormem no ônibus, mas não há lugar para todos deitarem, então a maioria continua alerta. Com eles, há livros como Lutando na Espanha, de George Orwell. “É uma luta de armas contra livros, querem impedir as ideias com opressão”, afirmam. As obras são erguidas nas poses para foto. Mais de 20 jornalistas, além de advogados e políticos estão no meio do caminho entre cerca de 150 outros estudantes que protestam na rua e 40 policiais que os mantêm do lado de fora da delegacia.
Na USP
Os livros também foram a estratégia usada em uma manifestação contra a polícia militar em frente à reitoria  na Cidade Universitária. Denis Dias Ferreira, de 61 anos e aluno do 4º semestre de Letras, levou um livro de Roberto Piva e leu poesia para os homens da Tropa de Choque que guardavam a porta do prédio. Um grupo de meninas distribuiu flores.
Enquanto isso, o calor forte aumentava o fedor das fezes deixadas pela cavalaria na madrugada. A professora do Departamento de Psicologia, Maria Luisa Sandoval Schmidt, foi até o local protestar contra a força policial dentro da USP. “Não sei exatamente o que ocorreu na madrugada, mas sempre fui contra a presença da PM aqui dentro e continuo sendo. Nossos alunos não podem ser tratados assim, são estudantes, temos que conversar.”
Os estudantes ocuparam o prédio da reitoria no dia 2, depois de uma assembleia que havia decidido pela desocupação de outro edifício, da Faculdade de Filosofia. As manifestações começaram quando três alunos foram detidos fumando maconha.
A fiança dos estudantes foi fixada em um salário mínimo (R$ 545) para cada estudante e o grupo faria uma votação para ver se pagavam para todos, ou esperavam um habeas corpus.


No IG

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