sábado, 26 de novembro de 2011

Por que a Globo é a Globo


Por que a Globo é a Globo


Paulo Nogueira



Fui almoçar ontem no centro de Londres com um jovem executivo de uma multinacional que tem uma verba de publicidade bilionária. Ele trabalha na área financeira, e é apaixonado por mídia. Está na faixa dos 30 anos, e por ser quase que um nativo da Era Digital ele no momento está num grupo que analisa tecnicamente o retorno financeiro da publicidade digital.
Sua empresa quer investir mais na internet em 2012, mas quer pisar em solo firme. Daí a análise.
Ouço-o com atenção. É um cara inteligente. Deve ir longe na vida corporativa.
Falamos sobre o Brasil, e ele me conta uma história exemplar.
“Uma amiga minha que trabalha num portal brasileiro me disse que o que atrasa o avanço da publicidade digital no Brasil é a Globo”, ele me diz. Está comendo com gosto. A fome talvez tenha se acentuado pelo esforço que ele fez ao ir do escritório para o restaurante numa das bicicletas que a prefeitura de Londres colocou à disposição das pessoas. Meia hora pedalando.
“Como assim?”, quero saber.
“Os anunciantes vão colocar anúncios nas novelas, no futebol, no Fantástico etc, e a Globo dá de graça espaço nos seus sites. A agência volta dizendo para o anunciante que fechou um grande negócio com a Globo. Mas para a concorrência digital, a começar pelo UOL, é a morte.”
Dou risada comigo mesmo.
Um executivo americano certa vez disse que se você vê um concorrente se afogando deve colocar um esguicho em sua boca e abrir no máximo. Parece ser este o espírito que Roberto Marinho colocou na cultura na Globo. É conhecida a história de quando Bloch, da agonizante Manchete, ligou desesperado em busca de socorro para Roberto Marinho e este o fez esperar interminavelmente apenas para dizer não. Era uma vendeta pessoal por causa de um assunto irrelevante.
O que é tragicômico é que, enquanto a Globo usa quando pode o esguicho, a concorrência a promove loucamente publicando matérias intermináveis sobre preciosidades como as novelas e o Big Brother. É como se você fornecesse as balas que acabarão vindo contra você.
Não admira que a Globo tenha, sozinha, mais da metade do bolo publicitário do Brasil.

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