Vera Magalhães (Folha de S. Paulo, 08/11/11) noticia que, “mergulhados numa profunda crise de identidade desde a derrota sofrida na eleição presidencial do ano passado, os principais dirigentes do PSDB começaram ontem a discutir uma nova agenda para o partido”. Entretanto, lendo sua cobertura de um seminário promovido no Rio pelo Instituto Teotônio Vilela, vinculado ao PSDB, em que economistas e intelectuais tucanos fizeram sugestões para um novo programa partidário, parece-me que os tucanos não estão em “crise de identidade”, mas sim querem apresentar em nova roupagem sua velha roupa colorida.
Lembrou-me a canção “Velha Roupa Colorida” de Belchior, interpretada por Elis Regina:
“Você não sente nem vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era jovem novo
Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer”
Ela argumenta que “o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso propôs até uma nova bandeira, sugerindo que os tucanos adaptem o slogan de campanha do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para se reapresentar aos eleitores. Em vez de “Yes, we can” (“Sim, nós podemos”), os tucanos deveriam adotar como lema “Yes, we care” (“Sim, nós nos preocupamos”). “O que falta é carinho, é atenção”, disse o ex-presidente ao justificar sua proposta: “Temos de ser o partido que se preocupa com as pessoas, com seu bem estar”. Mas não é o mesmo esnobe uspiano de Higienópolis falando em inglês para o povão brasileiro? Ele convence ao dizer que se preocupa com essa “gente diferenciada”?!
A proposta que mais entusiasmou os tucanos foi apresentada pelo ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida, que defendeu sua velha “tese”: o fim do crédito subsidiado oferecido por bancos públicos, como o BNDES. Segundo Arida, seria uma maneira de acelerar a queda da taxa básica de juros, porque derrubaria a demanda agregada, e elevar a remuneração da caderneta de poupança e de fundos administrados pelo governo, como o FAT e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, porque amarraria o custo desse crédito direcionado para infra-estrutura e habitação de interesse social à taxa de juros de curto prazo (Selic), enterrando de vez a TJLP – taxa de juros de longo prazo.
Com o fim dos subsídios, as taxas de juros cobradas pelo BNDES e por outros bancos públicos seriam elevadas para níveis mais próximos das taxas cobradas pelos bancos privados, reduzindo a demanda pelo crédito oficial e liberando os recursos públicos para outras finalidades. Exato, para os bons negócios dos bancos privados de que ele é conselheiro! Quer usar, novamente, dinheiro público para gerar lucro privado!
“O governo tem de agir em nome do bem comum, e não favorecer o lobby dos tomadores de recursos subsidiados”, afirmou Arida. “Bem comum”, hum… FHC considerou a proposta “revolucionária”! Podes crer… O senador Aécio Neves (MG), que pretende se lançar candidato à Presidência da República em 2014, prometeu estudar a ideia e transformá-la em projeto de lei. Este promete…
O ex-presidente do BC Armínio Fraga defendeu a redução dos atuais 38 ministérios pela metade. “É preciso limitar o número de cargos de confiança, evitar essa farra dos cargos, que é vergonhosa, e deixar que o Estado volte a ser para a Nação, e não mais a serviço de um partido”, disse, arrancando aplausos da plateia. Lógico, todos eles se consideram super competentes, a “jeunesse dorée” da Gávea!
O ex-governador José Serra (SP), que perdeu as eleições presidenciais de 2002 e 2010, propôs que a ideia seja encampada e que se estabeleçam critérios técnicos para o preenchimento de cargos em comissão. “Não falo em concurso ou em acabar com cargos de confiança, o que engessaria o sistema. Mas em estabelecer padrões de qualificação para cada cargo”, afirmou. Tipo “só gente parecida com ele”. Existe alguém na face da terra?
A disputa interna pela candidatura à Presidência em 2014 foi o pano de fundo do seminário do ITV realizado ontem, no Rio. Os dois virtuais candidatos do partido, Aécio Neves e José Serra, acabaram ganhando espaço para falar, fora da programação original. Serra tinha avisado que não participaria do evento, pois só voltaria de Londres ontem. Mas diante da evidência de que o seminário viraria, assim, palco exclusivo para Aécio, antecipou a volta. Mas eles não mudam! Serra passará nova rasteira no Aécio, querem ver? Aguardem…
Sem saber do retorno de Serra, dirigentes do PSDB convidaram Aécio para “apresentar” o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Quando o paulista apareceu, por iniciativa de Aécio, foi convidado a discursar.
O mineiro falou como candidato e lançou até um esboço de slogan, ao dizer que o PSDB deveria propor um “choque de profissionalização da gestão”. Original, não?Covas falou em “choque de capitalismo” em 1989. Choque de gestão no Governo Aécio em Minas Gerais foi torrar R$ 1,6 bilhão em nova sede administrativa lá perto dos Confins e não reformar o Estádio Independência para o lazer do povo. Resultado: meu time será desclassificado!
Mas a obsessão do Serra com o PT continua. “No momento em que o PT abdica de ter uma agenda, cabe a nós propor alternativas.” Pego de surpresa, Serra leu um artigo que pretendia publicar em seu blog e criticou a gestão petista. Disse que o governo Dilma Rousseff vive “a reboque de escândalos” e propôs a realização de um seminário com tema corrupção. É monotemático – e não engana mais o eleitorado.
O QUE QUEREM OS TUCANOS
Avalie se houve alguma mudança na atitude anti Estado e anti Povo. Continuam propondo o corte de direitos sociais!
PRIVATIZAÇÕES
O economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central do Brasil, defendeu a retomada das privatizações e a abertura da economia.
MINISTÉRIOS
O ex-presidente do Banco Central do Brasil, Armínio Fraga, propôs o corte dos ministérios à metade. O mesmo deve ser feito com cargos de confiança.
JUROS
O ex-presidente do Banco Central do Brasil, Pérsio Arida, propôs acabar com o crédito subsidiado do BNDES e de outros bancos públicos e aproximar a taxa de juros que eles cobram das do mercado.
INVESTIMENTOS
Fraga e o economista Armando Castelar sugeriram aumentar a taxa de investimento público. Para Castelar, ela deve passar dos atuais 2,1% do PIB para algo em torno de 5%, cortando gastos correntes.
EDUCAÇÃO
O sociólogo Simon Schwartzman propôs investir mais na qualificação de professores e na melhoria da qualidade de ensino no país.
APOSENTADORIAS
Os tucanos sugerem a Reforma da Previdência, com revisão das pensões por morte e da aposentadoria integral do setor público, além de rediscutir a idade mínima para aposentadoria, considerada muito baixa.
SAÚDE
Sugestão de André Médici, economista com atuação na área de saúde, prevê ressarcimento pelo SUS dos que usam o sistema tendo plano privado de saúde.
Outra letra de Belchior, “Como Nossos Pais“, cantada por Elis Regina, expressa também a “crise de identidade dos tucanos”:
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais…
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais…
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando…
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando…
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem…
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem…
Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal…
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal…
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais…
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Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais…
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