Por Aurélio Garcia* para Sobretudo News
A Sra. Myrian Rios deixou a vida de atriz e decidiu seguir a carreira de entretenimento setorial, voltada a um seleto grupo de pessoas, como Deputada Estadual. No seu discurso em 08 de Fevereiro deste ano, após a posse, ela inicia sua apresentação com grande carga religiosa e logo equivale escolha religiosa à escolha sexual[1]. Chama a atenção essa comparação, pois vale ressaltar que palavras como escolhaou opção determinam uma relação completamente diferente daquela expressa pela terminologia orientação sexual. Isso demonstra que, ao professar uma postura combativa a preconceitos sexuais, a Deputada tem em mente que o direcionamento de um indivíduo é uma decisão na qual os impulsos biológicos que geram atração por um, outro, ou ambos os gênero são irrelevantes; ou que, mesmo os anseios sendo relevantes, o indivíduo talvez devesse contrariar sua própria curva de desejo normal para viver uma conduta com a qual não se identifica (apesar de não ser doença, ou conduta criminosa).
A citação inicia uma repúdia ao material do kit-gay das escolas, e nem é o foco argumentar se o material é adequado para a faixa etária ou não; mas a ideia apresentada por ela de que as crianças não estão preparadas para vê-lo acoberta um preconceito latente. Como? Ao considerar que uma criança pode ser influenciada pelo material, e que ela acabe vivendo uma experiência homossexual por conta do mesmo, o sub-texto aí é que ela está errada de experimentar. Se uma criança na faixa etária de 7-10 beija infantilmente outra criança do gênero oposto é, em geral, bonitinho e pueril; mas se o mesmo acontece com uma criança do mesmo gênero as reações comprovam que o preconceito está lá. Se alguém pensou em dizer que o problema com o conteúdo do material é a exposição da criança à troca de carícias seria necessário rever uma série de materiais dispostos na mídia, considerando que qualquer pessoa tem acesso a isso em seu formato heterossexual.
Da mesma forma que há mais coisas veladas no discurso da deputada, o presente texto pretende utilizar essa discussão anterior como gancho. A opinião de Myrian importaria menos se ela não fosse uma representante do povo; mas sendo, o peso dessas declarações é mais delicado pelo fato de abrir uma porta perigosa entre a condução dos uma visão de mundo individual e de formulação de políticas públicas. Como bem disse o Deputado Henrique Afonso[2], que é homem religioso e político simultaneamente, isso só se torna um problema na medida em que a premissa do Estado é ser laico, e não privilegiar uma visão religiosa sobre as demais. Todo indivíduo que representa o povo já o faz com um mapa mundi mental, não é uma exclusividade dos representantes que expressam sua fé, mas quando há uma filiação religiosa específica que se impõe sobre questões coletivas há a necessidade de atenção.
A emenda apresentada pela Deputada, aprovada em Assembléia em novembro[4], determina que os moradores do Rio de Janeiro (independente de suas escolhas religiosas) contribuirão por meio de seus impostos para a Jornada Mundial da Juventude, que faz parte de um projeto do movimento da Renovação Carismática ligado à Igreja Católica – serão R$ 5 milhões do orçamento de 2012 que o governo do Estado deverá gastar, caso haja sanção do Governador até amanhã (22/12/2011). Esse dinheiro está sendo gasto numa jornada ideológica-religiosa, a vinda do Papa em 2013, em detrimento de necessidades básicas. Opção é o que não falta: saúde, educação, investimentos públicos que tragam retorno de médio ou longo prazo; mas aparentemente esses problemas podem ser resolvidos se o Papa vier ao Rio em 2013 e, abençoar mais uma vez a cidade que, segundo o dito popular, já foi agraciada por Deus.
Pelo menos na época das missões o dinheiro gasto saiu do bolso dos colonizadores … ou não? Quem sempre pagou pelas faustuosas celebrações da fé católica? A História, mais uma vez, parece se repetir cheia de ironias.
Tweet
0 comentários:
Postar um comentário