por Arísia Barros
A moça de pele clara à espera do elevador acendeu seu sorriso mais bonito ao nos ver chegar-quatro mulheres negras- e gentilmente nos cedeu passagem e chamou outro elevador que a levou.
O elevador era enorme, mas o medo da moça em estar em um ambiente fechado com quatro mulheres negras era bem maior.
Éramos quatro mulheres negras e rapidamente reinterpretamos o gesto gentil da moça branca que temeu a proximidade com o que para ela- representa o “desconhecido”.
Estávamos na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em um território denso de valores fundados na linguagem etnicista aliada a questão econômica.
O racismo é um viajante do tempo, com dentes afiados subverte a linguagem da igualdade, da pátria mãe, da lei maior do país.
Segundo a organização do Seminário Nacional: "A Mulher e a Mídia 8 Racismo e Sexismo na Mídia: Uma Questão ainda em Pauta”, ocorrido de 29 de dezembro a 01 de dezembro, na Cidade Maravilhosa “as acomodações são muito confortáveis e o lugar é muito lindo”.
Incontestável a beleza do hotel e da circunvizinhança, medonha é a face do racismo que desnudou-se sem o mínimo pudor.
O racismo causa mal estar, azia, ânsias de vômito e uma dolência na alma. Expõe as dores de uma democracia brasileira mal engendrada e a ânsia voraz de uma justiça verdadeira.
Uma justiça que vá além da subjetividade!
O racismo institucional naturaliza o racismo do individuo, aquele que pensa o lugar do negro na periferia da história.
No outro dia, como reprise de novela, ao entramos no elevador, nos confrontamos com um senhor branco elegantemente vestido que mal conseguiu disfarçar o susto abrupto ao nos ver, e como não tinha para onde correr, enterrou-se num silêncio sem respiração, encolhendo-se na distância de contatos.
Éramos quatro mulheres negras, eu, de Alagoas, a Mônica Aguiar, de Belo Horizonte, uma da Bahia e outra do Paraná e vivenciamos o imperativo do racismo nas terras de Cabral, abençoada pelo Cristo Redentor.
A viagem ao Rio de Janeiro ampliou um continente de possibilidades para que como multidão anônima, possamos exercitar a cultura do poder.
O poder do discurso que busca desmobilizar as barreiras estruturantes que, cotidianamente, reinventa modos e maneiras para nos escravizar, como uma pré-estabelecida geografia.
O Brasil, com certeza, é um país racista.
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