domingo, 4 de dezembro de 2011

Sem Sócrates, um mundo cada vez mais careta




Sem Sócrates, um mundo cada vez mais careta



Sócrates planejava jogar golfe - praticar esporte em contato com a Natureza - ter duas filhas - Valentina e Carolina, para juntar-se a Gustavo, Marcelo, Eduardo, Marcos, Junior e Fidel - e participar de programas contra o álcool, em quem, após duas internações no hospital, passara a reconhecer um inimigo e mortal e não mais o alegre companheiro de toda a vida. Não conseguiu. Morreu hoje de cirrose.
É importante resistir aos clichês e dizer o triste, a tragédia de maneira bem dura. Sócrates não há mais. Nada daquele papinho de que foi para o céu formar uma dupla de meias com Didi, ele nem gostaria disso. É hora apenas de dizer que um dos grandes está morto. Ah, também não vale cair na hipocrisia de unir sua morte à conquista corintiana que deve se concretizar algumas horas depois de sua morte. O Doutor nao tem nada a ver com esse Corinthians de Ronaldo e Andrés. Esse é o poderoso, é o mainstream. Sócrates é a contestação, o underground. "Não sou benquisto no Corinthians", disse Sócrates à revista ESPN há pouco tempo. É lógico. Ele não andaria com Ricardo Teixeira de um lado para outro.
Por mais que Luis Paulo Rosenberg bole alguma frase para colocar na camisa do Corinthians hoje, e por mais sincera que seja a homenagem, Sócrates não gostaria dela. Ele era de outra turma.
Lamentar a partida de um gênio do esporte do povo é importante, mas a verdade é que Sócrates não fazia mais falta dentro de campo. É lógico, estava aposentado há tanto tempo..... Ele fará falta como cidadão. "Quero continuar incomodando, essa é minha missão", nos disse na mesma entrevista. O passe preciso de calcanhar já era uma lembrança. A ela, logo vai se juntar outra. A do cidadão indignado, sempre pronto a denunciar o lado torto da vida.
Sócrates, da Democracia Corintiana, Sócrates das Diretas Já, necessário dizer, era um anacronismo nesse país de situação sem sonhos e de oposição sem bandeiras. Sócrates, gênio de 82, era algo estranho a esse futebol de evangélicos, de cordeirinhos, de gente sempre buscando o sucesso, do "se dar bem".
Agora, a banda dos contentes pode tocar mais à vontade. Aquele gênio que apontava o dedo e dizia que aquilo estava desafinado, morreu. E o Brasil fica um pouco mais careta.

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