sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A trégua de Natal

A trégua de Natal 


Mauro Santayana 



Mesmo nas guerras mais duras, é comum, no Ocidente cristão, que haja uma trégua no Natal, ainda que limitada a algumas horas. Na política, atividade que existe exatamente para impedir as guerras sangrentas, esses dias de fim de ano induzem à interrupção dos embates, retóricos ou não, e é normal que os adversários se congratulem mutuamente. Ainda que seja pelos ritos de cortesia, impera a ideia de que somos iguais, portadores da mesma humanidade daquele rapaz de Nazaré, que maravilhava, quando menino, os doutores do templo e conduzia multidões pela força de sua doutrina — a de absoluta igualdade entre todos os homens.
Mas não devemos confiar muito em que a paz prevaleça nas próximas horas. Há sempre o perigo de algum desatino. Já tivemos fins de ano encharcados de sangue inocente — e não foram poucos.
É de se recordar que havia, no fim de 2008, uma trégua entre Israel e os palestinos de Gaza, quando, às 11h30 do dia 27 de dezembro, o governo de Tel-Aviv iniciou o bombardeio da cidade. Era a hora em que a maioria da população se encontrava nas ruas, por ser sábado, e em que menos se esperava uma ação dessa natureza, porque o sábado é sagrado para os judeus. Em quatro minutos caíram mais de cem bombas sobre o centro de Gaza. As revelações posteriores trouxeram mais susto do que as imagens das explosões, transmitidas em tempo real pela televisão. Os agressores usaram munições especiais, à base de tungstênio, e não hesitaram em usar fósforo branco contra a população civil.


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