Um Natal desigual
Nessa semana tive que desocupar um armário do meu antigo quarto, na casa dos meus pais. O móvel foi atacado por cupins e também já não era sem tempo de eu rever toda aquela papelada, acumulada durante quase três décadas de existência.
Provas do colégio, anotações das faculdades (no plural mesmo), revistas e jornais antigos. Tudo fora, para o catador que passa esporadicamente na rua.
Dias depois, um dos porteiros do prédio me encontra e diz que achou R$ 10,00 em um dos sacos. Falo a ele não precisava devolver, nem contava com aquele dinheiro. Ele agradece e resolve se justificar:
– Eu achei melhor dar uma olhada para ver se não ia nada errado fora, né? O faxineiro me disse que já tinha pegado tudo que prestava, mas quis ver mesmo assim.
– Tudo que prestava?, pergunto, curiosa.
– É, ele achou uns CDs.
Me lembro então de ter mesmo botado no lixo três ou quatro CDs de instalação de programas de computador do final dos anos 1990.
De repente, me bate um senso de realidade. Uma realidade que não é, mas também é, a minha.
Continuo ouvindo o porteiro:
– Minha filhinha queria comer no Mc Donalds esse final de semana, acho que vou levar ela lá com os R$ 10,00. Minha esposa reclamou, lógico, porque só a menina vai comer e a gente não. Mas vou levar mesmo assim.
Sorrio, amarelo, e desejo então um bom almoço — seria de Natal? — e uma boa virada de ano.
Sigo pela rua com cara de tacho, pensando no governo e no Brasil, o país do futuro-presente. Acesso ao crédito, salários maiores, desemprego menor do que nas grandes potências, PIB relativamente alto, apesar da crise global.
Quem sabe, para 2012, seria bom deixarmos a euforia um pouco de lado e olharmos para a abismal desigualdade de renda que continua existindo em nossa sociedade.
No Viva Mulher
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