segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

“Delícia, delícia, assim você me mata…” Ano novo, “Ai se eu te pego?!”



“Delícia, delícia, assim você me mata…” Ano novo, “Ai se eu te pego?!”


Ricardo Giuliani Neto no Última Instância



Trocamos o ano e recomeçamos a vida; Michel Teló foi acessado 94 milhões de vezes no YouTube, gravado em inglês, polonês, grego e hebraico, dançado pelos maiores craques do esporte mundial e, tá bem, “assim você me mata”!

O lixo cultural toma conta do planeta e discutimos uma sociedade balizada pelos 140 caracteres do Twitter. Somos o que somos porque nos expressamos por intermédio de 140 caracteres(?!), ou não conseguimos ler mais do que os tais 140 caracteres?  
Os jornais vivem de notas e esquemas gráficos, informação?, conteúdos… coisas do passado. O mundo entra pelos olhos ou pelos ouvidos. Cérebro? Juízo crítico? Reuniões nas praças? Espaços (físicos) públicos?

Sim, lembro Woodstock. Rock and roll e beat generation mudando o mundo, aniquilando guerras ou simplesmente transando em carne, aroma e osso entre as barracas de Woodstock; pinturas soçobradas nas retinas saudosas de homens e mulheres pelados por crua poesia humana. As opulentas tetas de Wall Street sugadas por românticos anticapitalistas, é realidade.
Os engajados do Facebook, Tumblr, Foursquare ou Path descobrindo-se em linguagens construtoras “d’outro” mundo, o mundo das “redes-ficcionais-sociais”, é realidade. As massas atomizadas, ignaras por suas individualidades artificiais, patéticas, pueris, relacionamentos  concreto-ficcionais, nossa realidade?

Ao contrário de Woodstock, quando as bundas brancas desconstruíam padrões massificantes e o amor com paz convidava ao sexo e ao prazer grupal,  nós outros enfurnamos nossas brancas bundas nas “confortáveis” poltronas-molde, onde o social das redes vomita alienação das meias-mentes, da ciberfornicação e do pensamento pré-moldado.

Diria um dos expoentes do colossal “sertanejo universitário”: “vida boa/ oh, oh/ o sapo caiu na lagoa”. Desculpas jogo ao Vitor… e ao “Léu”: a vida do sapo vai dura, come moscas para sobreviver; não é bom e nem boa é a poesia que gera idiotia e  esconde genialidades negociais.

Saudades do  velho samba de raiz, bênção aos orixás e à mãe menininha. E a vida vivida na subida dos morros? E os dias nascidos todos os dias às 4 da manhã para às 11 da noite, lá em Jaçanã, despencarem em sono profundo de calos, suor de trabalho?

Eu vou de Beija-flor, de baião, de Vital Farias, com poesia e gosto: “não se admire se um dia/ um beija flor invadir/ a porta da sua casa/ te der um beijo e partir/ fui eu quem mandei o beijo/ que é pra matar meu desejo/ faz tempo que eu não te vejo/ ai que saudades de ocê.”

Pois é, “fada querida”, o Adoniran disse que “o Arnesto nos convidô” pra ver o lixo que há por todos os cantos e que no Brás, inda tem vida, com sangue, suor e cerveja.

Esta “arte nova” esculpe em não mais que 140 caracteres; os “infográficos” midiáticos e os “polígrafos” padrão não-pensar dos professores doutores das gloriosas universidades brasileiras, formam os novos e desengonçados cidadãos, desenham, nos castelos de caras, as nossas próprias caras.

Sim, enterramo-nos e entretemo-nos – “delícia, delícia… assim você me mata” – na simplificação do mundo cibernético, nos rsrsrsrsrsrs, das risadas desajeitadas, nos bjkssssss, estilizando carinhos sem olhos ou pele, ou nos ueahueahueah, das alegrias e satisfações cobertas de formalidades iníquas e pré-formatadas.

A internet transmite instantaneamente o mundo, mas não reproduz o cheiro da carne assada do homem-tunisiano-concreto que, auto-imolado na praça-físico-pública, encandeceu de mobilização social-real o norte da África e incendiou seu povo com letras e almas e tripas; não há cibermortes nas redes sociais, nela, deletamo-nos. Na vida vivida, partimos para nunca mais voltar.

Não temos consciência do emburrecimento e da dominação a que vamos submetidos. Ueahueahueah, resposta provável num twitter-diálogo. Rsrsrsrsrsrsrsrs, o epílogo! Seguramente, um prêt-à-porter significativo.

Venha o ano novo e vivas às bundas brancas de Woodstock,  penas às bundas enfurnadas nos moldes da nova ciber-cultura-global. Vivas ao lixo cultural dos nossos dias. Já que trocamos de ano, encerro-me nas próprias calças. Leciona o filósofo: “o jeito… é dar uma fugidinha”.

1 comentários:

Jesus Divino Barbosa de souza disse...

O menor dos equívocos de Túlio Isac ( aquele do "exiJimos com G" http://www.youtube.com/watch?v=HHZ0ynZvR4A&feature=related ) foi no português

http://www.aredacao.com.br/coluna.php?colunista=33