Mônica Bérgamo e a arte de desnudar deslumbradas
Da Folha
Elas colecionam Barbies, bebem champanhe em taça de ouro, usam R$ 700 mil em joias num dia -e vão mostrar tudo isso num reality show que estreia amanhã
"Você demorou e começamos a beber! (risos)", diz a socialite Valdirene Marchiori, 36, champanhe na mão, em seu apartamento de 850 m² nos Jardins. O look é vermelho: vestido Valentino, sapatos Christian Louboutin, "pra não perder o costume", e bolsa Louis Vuitton. Está acompanhada da amiga, a arquiteta e decoradora Brunete Fraccaroli, 48, de branco: vestido Reinaldo Lourenço, bolsa Chanel e salto Louboutin. E gorros de Papai Noel.
*A partir de amanhã,* Val, paranaense que se tornou célebre em SP depois de estampar a capa da "Veja SP" afirmando gastar até R$ 75 mil em uma tarde de compras, e Brunete, colecionadora de Barbies que enche de espelhos e cristais os ambientes que decora, vão brilhar em rede nacional. Estarão no ar no reality show "Mulheres Ricas", da TV Bandeirantes. Terão a companhia da socialite carioca Narciza Tamborindeguy, 45, da joalheira Lydia Sayeg, 44, e de Débora Rodrigues, 43, que deixou para trás a militância no MST para virar piloto de Fórmula Truck. Em dez episódios, a atração mostrará o dia a dia e a convivência dessas mulheres bem de vida.
Val, ex-apresentadora de um quadro no programa "Amaury Jr.", diz que usará modelitos próprios. "Hellooo! Você acha que eles têm dinheiro? Por isso querem mulheres ricas. Porque atriz não tem dinheiro! Hahaha", diz à repórter Lígia Mesquita.
Ela conta que foi "pobrinha" e vendeu Avon. Hoje é dona de uma transportadora. Foi casada com Evaldo Ulinski, dono do frigorífico Big Frango, que fatura cerca de R$ 1 bilhão. Os dois têm filhos gêmeos e se separaram há um mês.
Antes de descer para a garagem, ela pede para a empregada colocar uma champanhe Veuve Clicquot na bolsa térmica, além de uma taça de ouro. E garrafas de água com gás da marca francesa Perrier para Brunete. "Tive pedra no rim e precisei beber muita água. Me falaram que tinha que ser Perrier. Só tomo essa", diz a arquiteta.
Dos Jardins, seguem para um heliponto no Jaguaré, em um Porsche Cayenne blindado. Lá, pegam um helicóptero para ir até a escola de samba Unidos de Vila Maria, na zona norte, onde vão realizar um "dia de princesa", com manicure e cabeleireiro, para meninas carentes.
Na aeronave, falam do programa. "Vamos mostrar que não é feio tomar champanhe às 10h, ou alugar um jato para ir almoçar no Rio. O dinheiro trocou de mão. A classe C quer ver onde gastar", diz Val.
Brunete não gosta do nome da atração. "O brasileiro detesta gente rica. Sou poderosa, batalhadora. Não sou milionária. O que eu ganho, gasto. A gente não pode ser o defunto mais rico do cemitério." "Qual o problema de ser chamada de rica? Melhor do que de pobre!", fala Val.
A decoradora conta que nasceu "milionária", mas o pai perdeu tudo. "Já vivi a vida de milionária, de ter champanhe na minha chupeta, mas também muita dureza."
As duas elegem Narciza a mais "louca" do programa. "Ela é loooouca! A gente é normal", diz Val. Brunete interrompe: "Ela é doce, quer carinho". Val completa: "Ela quer é outras coisas".
E conta que durante a gravação de um voo de helicóptero no Rio, Narciza pediu ao piloto para desligar o motor da aeronave e ficar em queda livre por alguns segundos. "Eu gritava: 'Sua ordinária! Vou dar na sua cara. Gosto de helicóptero grande, não dessa porcaria aqui'. Eu falava pra ela: 'Sei que você é louca por causa de outras coisas. Tenho dois filhos pra criar'." Brunete pede: "Para, cachorra! Ela não é mais! Ela não bebeu uma gota de álcool nesse programa inteiro".
Narciza concorda que é louca. Mas de "alegria, bom astral, originalidade", diz, por telefone, da ilha de Ivo Pitanguy, em Angra dos Reis (RJ). "Topei participar do programa porque minha vida é divertida. Vim ao mundo para provar que a vida é bela." Ela interrompe a conversa: "O barco vai sair agora? Não posso ir!", avisa a alguém que a chama. E volta ao papo.
Diz que ficou "triste" com a declaração de Val à coluna Outro Canal, da Folha, há dias, dizendo que ela é "louca falida". "A Valdirene diz que sabe de sociologia, quem é ou não rico. Ela que pergunte ao IBGE o que sou. O IBGE é que vai dizer se sou rica."
Para Narciza, que afirma ter feito duas faculdades e falar quatro idiomas, quem nasce sem nada dá valor às coisas materiais. "Já eu nasci com tudo. Gosto de andar descalça, abraçar árvores." E também de "cultivar amigos. Você sabe que eu namoro o escritor Guilherme Fiuza, né? Ele escreveu 'Meu Nome Não É Johnny'. Sabe?" Encerra com um pedido: "Fale bem de mim, tá? Diz que tenho o orfanato 'Lar de Narciza'".
O voo de helicóptero do Jaguaré ao campo de futebol da escola Vila Maria, improvisado como heliponto, dura 11 minutos. Elas desembarcam. Débora, a ex-MST, já está na quadra. "Tia, você é rica?", pergunta Thais, 11, que vive em um abrigo de crianças em Santana e vai virar "princesa" por um dia.
A ex-sem-terra também diz que se incomoda com o nome do programa. "Não sou rica. Vivo de patrocínio, da minha oficina de carro."
Depois do evento, Val e Brunete retornam aos Jardins de carro, pois o helicóptero está em uso comercial.
Fred, motorista-segurança da paranaense, tem a missão de cuidar da taça de ouro na qual ela bebe champanhe. Um funcionário da escola de samba pergunta se "dá pra sentir gosto de ouro quando você bebe". "Não bebo. Só seguro [a taça]."
"As pessoas não entendem que quando o rico faz 'pou' [barulho da rolha saindo da garrafa], faz o cara que fabrica vidro ganhar [dinheiro], o garçom, o cara do rótulo. Quer que eu continue a cadeia de pessoas que ganharam dinheiro com um 'pou' da champanhe?", diz a joalheira Lydia Sayeg em sua loja, no Jardim Paulistano, com uma taça borbulhante nas mãos. E mais anéis, pulseira e brincos de diamantes. "Hoje tô com uns R$ 700 mil [em joias]." Sayeg afirma que ela e suas colegas de programa não são "peruas" e que a atração vai mostrar "o luxo e o desejo de ter coisas bonitas".
Quase em casa, Val revela que um partido a convidou para ser candidata a deputada. O slogan ela já tem: "Não vote mal, vote na Val". Se eleita, garante que vai "dar uma limpada no Planalto. E só quero fazer creches lindas e rosas". Brunete assina embaixo: "A gente faria muitas coisas boas pro Brasil".
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