Mulher Alternativa
Danilo Verpa/Folhapress |
Não é segredo que cultivamos em nossa sociedade uma série de dispositivos de controle do corpo de homens e mulheres. Não é segredo que, no caso das mulheres, um dos dispositivos mais eficazes é a repressão da sexualidade. Não é segredo que uma das manifestações mais frequentes deste são os códigos de vestimenta(além dos de comportamento). Funciona assim: as mulheres não devem ser sensuais nem ter sua sexualidade livre se quiserem ser levadas a sério e serem respeitadas. As mulheres que têm sua sexualidade livre ou exibem a sensualidade são xingadas (periguete! biscate!), desqualificadas, assediadas (Ô, princesa!) e, pasmem, até estupradas em muitos casos ("ela pediu", "ela provocou", etc). Pois esse pensamento machista e desumano foi resumido num episódio esta semana, no último lugar em que deveria (na minha opinião) acontecer.
Na entrada da Escola Dr. Alarico Silveira, na Barra Funda, a diretora Raquel e alguns professores cometeram um ato ilegal: impediram alunas de entrar na escola "por estarem vestidas de forma sexy". Independentemente da discussão sobre o que é sexy (já que a maioria estava de camiseta e jeans, vejam vocês), a mentalidade da diretora é de qualquer forma arcaica, opressiva, desumana. Ela pensa como um estuprador: as mulheres "provocam" os homens, as mulheres naturalmente têm uma tendência a despertarem o "mal", a se tornarem o próprio demônio. Não tenho muito estômago pra dizer mais que isso por enquanto, mas a reportagem da jornalista Talita Bedinelli, da Folha, deixa claro o absurdo da situação, que extrapola a questão legal envolvida. Leiam a seguir:
TweetBlusas justas e sutiãs coloridos foram argumento usado por diretora para punir estudantes de colégio estadual. Meninos também foram vetados, 3 deles porque usavam camisetas coloridas e um porque usava camisa justa.
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULONa manhã de ontem, um grupo de aproximadamente 60 estudantes de 15 e 16 anos, na maioria mulheres, foi impedido de entrar na escola estadual onde estudam.O motivo: estavam vestidas de forma "muito sexy e provocativa", disseram os alunos, na opinião da diretora da Dr. Alarico Silveira, escola que fica na Barra Funda (zona oeste de São Paulo), identificada só como Raquel.Os alunos afirmam que foram surpreendidos ao chegar à escola, às 7h. Segundo eles, professores e a diretora estavam no portão, avaliando quem seria autorizado a entrar."A diretora dizia: você está sexy. Não vai entrar", afirmava, em coro e indignadas, um grupo de barradas.Segundo elas, houve bate-boca e confusão. Uma professora teria empurrado uma aluna e outra estudante cortou a mão, ao tentar forçar o portão enquanto ele era fechado em sua cara, disseram.Na discussão, uma aluna acusou a diretora, que usava vestido regata na altura dos joelhos, de estar "pelada".BLUSAS JUSTASÀs 11h, parte do grupo ainda estava na porta da instituição, sentada na calçada. Eram cerca de 20 alunos, sendo quatro meninos -três barrados por estarem com camisetas coloridas e outro porque usava camisa um pouco mais justa.As blusas justas também foram a causa de punição da maioria das meninas vistas pela Folha. Nenhuma vestia blusa decotada ou que deixava a barriga de fora. Só uma estava de regata. Todas usavam calça, duas delas do tipo legging (mais justas).SUTIÃS COLORIDOSDuas meninas que usavam camisetas com o logotipo da escola foram barradas porque os sutiãs eram muito coloridos, fato admitido pelos próprios professores e gestores, que pediram para não ter seus nomes identificados."A diretora falou que só poderia vir para a escola usando um sutiã cor da pele", afirmou Maria Aparecida Mendes, avó de uma aluna."Minha filha estava de calça jeans e camiseta. Mas, se a blusa for mais justinha no corpo, já é sexy para a diretora", disse Jassiara Aragão, 34, mãe de outra estudante.DECENTESEm conversa gravada pela reportagem, os professores e gestores negaram agressões.Mas afirmaram que a prática foi uma espécie de "basta". Segundo eles, há um mês os alunos estavam sendo orientados sobre as regras -só pode entrar de calça jeans e camiseta com o logo da instituição ou branca. Roupas "indecentes" serão vetadas na porta."Eles têm que vir decentemente vestidos. Está fazendo calor e as meninas acham que podem vir de qualquer jeito", ressaltou um deles."Estamos estabelecendo valores morais. Se a gente deixar, as alunas vão vir de top curto com short", disse outro. "Pode até ser que um aluno tenha ficado para fora injustamente", afirmou um.A diretora disse que não poderia dar entrevistas.Impedir a entrada de estudantes que não estejam de uniforme (mesmo que seja de camiseta branca simples) é ilegal, conforme a própria Secretaria Estadual de Educação."
1 comentários:
O mais ridículo!! No fundo, o que (imagino eu) que a escola quer é impedir a molecada de namorar ou flertar dentro do ambiente escolar - o que também é ridículo e impossível de conseguir, mas enfim. O que se torna muito pior por esse pensamento medieval de que as garotas sãos as únicas culpadas de que os jovens se entreguem aos instintos que, nesse idade, afloram naturalmente por tanto por elas quanto por eles, mas não, eles acham que só as meninas vivem de provocar os pobres meninos, que só querem saber de estudar... e ainda por cima é uma mulher diretora a que toca esse absurdo.
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