sexta-feira, 11 de maio de 2012

Estupros em série: Uma carta escrita em 30 de julho de 1997, por uma menina de 11 anos, condena suspeito

Estupros em série: Uma carta escrita em 30 de julho de 1997, por uma menina de 11 anos, condena suspeito

 (Pedro Ferreira/EM DA Press) 

Uma carta escrita em 30 de julho de 1997 por uma menina de 11 anos, ainda sob o trauma da violência sexual, é a principal prova da polícia para pedir, após quase 15 anos, a condenação do ex-bancário Pedro Meyer Ferreira Guimarães, de 55, pelo crime. O depoimento que descreve o ataque e a aparência do criminoso ficou durante todo esse tempo arquivado. Ontem, o acusado foi indiciado por estupro e atentado violento ao pudor e o inquérito, de 150 páginas, seguiu para a Justiça. 

A vítima, hoje com 26 anos, foi atacada no prédio onde morava, no Bairro Cidade Nova, Região Nordeste da capital, e na delegacia não teve condições de falar, devido ao seu estado emocional. Um policial a orientou a expressar seu drama no papel, quando chegasse em casa, e o relato foi anexado ao inquérito antigo, onde recebeu a denominação de Folha 6. Nenhum suspeito foi preso na época e o caso acabou arquivado pela Justiça.

Em 28 de março deste ano a vítima reconheceu Pedro Meyer na Avenida Francisco Deslandes, no Bairro Anchieta, Centro-Sul de BH. Ela chamou a polícia e o ex-bancário foi preso. Depois de ter a imagem divulgada, ele foi reconhecido por outras 15 vítimas de estupro na década de 1990, quando  eram crianças ou adolescentes.

Na semana passada, a delegada de Mulheres Margaret Rocha, a mesma que acompanhou a apuração de 97, conseguiu desarquivar o inquérito antigo. Para sua surpresa, a adolescente havia citado o nome Pedro, três vezes, na carta. 

A carta também descreve o homem fisicamente, citando inclusive o “bigode mais cheio”, uma das características marcantes de Pedro Meyer. Os traços coincidem com os do ex-bancário, principalmente com a foto dele de 1995, anexada aos autos. A menina também desenhou o modelo de óculos que o criminoso usava, semelhante ao que foi apreendido mês passado na casa do suspeito, juntamente com uma coleção de bonés que completariam o disfarce.

Diante das provas, Pedro confessou ter estuprado a menina, assumindo outros dois crimes, também na década de 1990, ocorridos na Praça da Estação e no bairro em que ele vivia. Esses ataques, diz a delegada, não têm ligação com os outros 15 em investigação.

ROUPAS SOMEM Em 1997, a polícia recolheu também o vestido e a roupa íntima da menina, na qual foi detectada a presença de esperma, mas a polícia ainda não tinha a prática de arquivar material biológico. As roupas foram anexadas encaminhadas à Justiça, mas desapareceram. “Fui pessoalmente ao Fórum Lafayette procurar essas peças, mas elas não se encontram lá. Se aparecerem, ainda é possível fazer o teste de DNA. Isso se Pedro Meyer concordar em fornecer material genético”, disse a delegada. Ela não considera que a polícia falhou em 1997, lembrando que o próprio pai da criança pediu a paralisação do inquérito, para não expor a filha. Mesmo assim, todas as diligências foram feitas.

Na avaliação da delegada, a vítima se revelou muito inteligente e descreveu na carta todos os seus passos na data do estupro, do momento em que acordou até quando foi abordada no hall do seu prédio, a caminho da padaria. “Não resta dúvida de que o documento liga Pedro ao crime. É o passado que se liga às investigações presentes. A vítima nesse caso é uma menina muito inteligente.”

'Ele disse que voltaria para me eliminar' 

Publicação: 11/05/2012 04:00


Na carta anexada ao inquérito, a menina conta que Pedro tinha a voz rouca, dizia ser do Rio de Janeiro e afirmava ter uma amiga na rua da vítima, uma empregada que o teria “indicado” a garota. “Ele disse que ela (a empregada) ia me eliminar ou senão ele (Pedro) voltaria em três meses para me eliminar”, diz o texto manuscrito. Em ambas as citações, a palavra “eliminar” aparece com inicial maiúscula, em letras destacadas, contrastando com o padrão do restante do manuscrito. 

Para a delegada, a descrição revela uma forma de Pedro coagir e ameaçar suas vítimas. “Ele dizia: ‘Eu sei que seus pais estão aqui em cima no prédio’. Era uma ameaça muito grande às vítimas, que ficavam com muito medo de ter seus pais mortos”, disse a policial. Consta ainda na carta que Pedro usava óculos escuro, estilo aviador, e que aparentemente havia outros óculos de lentes claras por baixo. “Isso também leva ao Pedro, que tem uma deficiência visual.”, lembra Margaret.

A delegada conta que já ouviu várias testemunhas nos outros inquéritos, mas que eles não têm provas materiais como as do crime de 1997. “À época, ainda não se fazia como hoje, em que mantemos um banco de DNA dos criminosos sexuais. Mas isso não compromete as investigações e reconhecimentos. Todos esses crimes têm uma ligação profunda entre si, pelo modo de agir, pelas características, as roupas que Pedro usava e pelo disfarce (óculos escuros e boné). Não tenho dúvida de que Pedro Meyer tenha cometido todos esses delitos e, ao fim, vou encaminhar também os outros inquéritos à Justiça.”

Margaret esclarece que o crime de 1997 está dentro do prazo para ser julgado. “A prescrição ocorreria no ano que vem, quando se completam 16 anos”, disse Margaret. O ex-bancário pode pegar de seis a 10 anos de prisão pelo estupro e a mesma pena pelo atentado violento ao pudor. Ele será julgado com base na lei em vigor na época. 

RECONHECIMENTO A menina atacada em 1997 chegou a ser colocada diante de outros dois suspeitos na época, entre eles o ex-porteiro Paulo Antônio Silva, de 66, mas não os reconheceu. Ao contrário dela, outra vítima de 1997 apontou Paulo como sendo o homem que a teria atacado. Ele foi condenado a 16 anos de prisão por dois estupros e somente no mês passado, com a prisão de Pedro Meyer, a vítima retificou a acusação, dizendo que o estuprador, na verdade, é o ex-bancário.

Sem querer diferenciar a menina de 11 anos das outras vítimas de Pedro Meyer, a delegada Margaret Rocha diz considerá-la uma heroína. “Sempre a achei muito inteligente. Ela sempre falava que não importava onde fosse, o tempo que fosse, mas conseguiria apontar a pessoa que praticou tamanha violência com ela”, conta a delegada. 

No Conteúdo Livre

..

0 comentários: