Desabafo de uma professora
Eu não estou ofendida, estou decepcionada e a decepção é pior que a ofensa. Minhas forças estão se esgotando em todos os sentidos que me cabe... É um descaso tão grande com a educação no nosso país que me deixa fragilizada e desanimada com a situação que só tem piorando nos últimos dias.
Venho de uma família humilde e numerosa, mas que sempre acreditou que a educação era o melhor caminho para se tornar um cidadão melhor. Estudei a minha vida inteira em escolas públicas e ainda assim tive os melhores profissionais que me deram o suporte que precisava para obter conhecimentos e crescer intelectualmente, professores que me lembro até hoje. Fiz o ensino fundamental no colégio Dr. João Pedro dos Santos, ali na Avenida Bonocô, saí dali direto para o Colégio Central em Nazaré, tive ótimos mestres que me incentivaram a prestar o vestibular e nunca parar de estudar, porque era o caminho para se construir um futuro melhor e com mais dignidade.
Não tinha dinheiro para fazer cursinho, estudei em casa com afinco durante um ano e conseguir ser aprovada no curso de História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Não foi fácil me manter nela, foi um percurso com muitas dificuldades e sacrifícios. Trabalhava pela manhã em uma escolinha onde lecionava para o maternal com uma turma de 23 crianças, que variava de 1 ano e 6 meses aos 5 anos e havia crianças com necessidades especiais, tudo isso sem nenhum auxílio de classe, foi muito difícil, mas precisava me manter na faculdade. Era o trabalho com as crianças pela manhã, a faculdade à tarde e um curso de extensão à noite, era um corre corre danado, mas não esmorecia porque sabia que aquilo era temporário e acreditava que os benefícios viriam no decorrer do trajeto. Com o tempo as coisas foram melhorando e conseguir concluir no tempo justo os 4 anos de graduação. Mas, assim que terminei o curso sentir a necessidade de continuar a pesquisa e lá fui eu, sem respirar tentar a seleção para o curso de mestrado da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Fui aprovada e entrei para cursar o mestrado, mais 2 anos de dedicação e estudo, mais luta, sacrifícios para defender a dissertação no prazo e finalmente ter um diploma de Mestra. Tudo concluído, mais luta para adentrar no espaço do funcionalismo público. Mais e mais estudo, concurso público, trabalho temporário, serviço prestado ao estado. Trabalhei feito louca em duas escolas estaduais, pois o salário de 20h deixa a desejar para se sobreviver com dignidade e o mínimo conforto. Então o jeito é lecionar 40, 60 h, aff!!!
Os colegas da área de educação que me conhece sabem do meu comprometimento e preocupação com a educação. Sou uma profissional séria, que respeita seus alunos e procura levar o melhor de si para sala de aula. Me preocupo com as questões sociais e principalmente com as necessidades do meu alunado e por isso, tento tornar minhas aulas dinâmicas, criativas, dialogando as intervenções deles, sem perder os conteúdos que se faz necessário a cada série\ano.
Infelizmente a educação não é algo prioritário em nosso país e essa constatação tem me deixado tão machucada, é como se estivessem chicoteando meu corpo, me doem a nunca, a boca, os olhos, o cérebro! Estou cansada de acreditar que as coisas vão melhor a cada eleição, que nossos governantes vão fazer jus aos seus compromissos feitos em suas candidaturas, que vão colocar em primeiro plano a educação no país, que vão reconhecer a importância do nosso trabalho como educador, que vão se preocupar com o nosso desgaste, o corre corre e as dificuldades inúmeras que enfrentamos em uma sala de aula super lotada e no conjunto do espaço escolar. Quem é professor sabe do que estou falando, não é nada fácil a nossa jornada diária! Quando é que vão nos valorizar e nos respeitar como profissionais em excelência para o futuro de uma nação realmente preparada para enfrentar o mundo e o mercado de trabalho!
Estudei muito para me profissionalizar e poder ser um profissional atuante e qualificado no mercado, tenho plena consciência do meu papel como educadora, portanto exigo RESPEITO. Sinto-me enojada com as propagandas em que o senhor governador do nosso estado gasta rios de dinheiro (verba pública dos nossos bolsos) para contar mentiras, dizendo que somos nós, professores, os responsáveis por milhões de alunos fora da escola, que não aceitamos as negociações, somos os “radicais”, como ouvir o senhor Varela da Rede Record falar em um dos seus comentários na Tv. Me sinto insignificante e massacrada por esse bombardeio que a mídia faz sobre nós e perante as demais estratégias sujas e hipócritas desse governador que nos envergonha como educadores e eleitores.
Ele disse que é para ensinarmos apenas por amor! E o pior é que a maior parte da população que assiste a esses noticiários tendenciosos acreditam no que ouvem e tem aqueles que ainda saem por aí repetindo essa frase: “Professor tem que ensinar por amor”, para estes eu rebato: Amo a minha profissão e exerço com muito prazer e comprometimento, pois ainda acredito que é através da educação que somos transformados e conseguimos melhorar o mundo e as pessoas ao nosso redor, mas não faço isso só por amor, ninguém o faz; afinal precisamos nos alimentar, nos vestir, educar nossos filhos, ter uma boa saúde, qualidade de vida e lazer e para conseguir gozar dessas ações que são no mínimo, de primeiras necessidades básicas de qualquer ser humano. Necessitamos de dinheiro sim! Portanto, precisamos receber pelo serviço prestado, o pagamento é pela e para a nossa sobrevivência, por favor, entendam isso de uma vez por todas, reflitam e parem de repetir essa idiotice, pois meus ouvidos não suportam mais essa insensatez. Fico grata pela atenção ao meu desabafo e espero que ele possa conscientizar ou pelo menos fazer pensar aqueles que não estão do nosso lado!
Silvana Oliveira- Professora da Rede Estadual de ensino.
No Correio Nagô
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segunda-feira, 18 de junho de 2012
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