Triste realidade: No caminho da Rio+20, exemplos de descaso com o meio ambiente
Ao desembarcarem no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio, com destino à Rio+20 - Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável, líderes ambientais e chefes de Estado de todo o mundo vão se deparar com um cenário bem diferente do que esperam garantir para o planeta nos próximos anos. E o cenário vai se repetir no trajeto até o Riocentro, na Barra da Tijuca, principal palco do megaevento. Por ironia do destino, o caminho expõe problemas ambientais de longa data e evidencia que a cidade sede da conferência está longe de ser referência em termos de preservação do meio ambiente.
Ao lado do aeroporto se encontra a comunidade de Tubiacanga que, por sua localização, às margens da Baía de Guanabara, tem a pesca como principal atividade local. Quem segue para o aeroporto pela Estrada do Galeão pode notar a constante presença dos pescadores à beira da via, cena característica do local. Ali, eles se esforçam para conseguir o pescado em meio à sujeira que se concentra na orla da baía e reclamam da falta de limpeza na região.
“O lixo é trazido pela maré e se acumula nas pedras. O problema é que ele nunca é recolhido. Ou vai ficar nas pedras, ou acaba voltando pra água”, reclama o pescador Elias Mariano, 44 anos.
Saindo do Galeão, a comitiva irá seguir pela Linha Amarela, via expressa que termina na Barra da Tijuca. Ao fim da Linha Amarela, na junção com a Avenida Ayrton Senna, se encontra o Rio Arroio Fundo. Totalmente poluído em razão dos anos de despejos irregulares vindos de comunidades próximas, como a Cidade de Deus, o local recebeu em 2009 uma Unidade de Tratamento de Rios (UTR) para amenizar os danos ao sistema lagunar. No entanto, a situação ainda é crítica.
Nos arredores da sede da Rio+20 é possível notar os exemplos da degradação. O ambientalista Sérgio Ricardo cita a situação das três lagoas que envolvem a região como exemplos do descaso com o meio ambiente.
“Nem sequer a lagoa ao lado do Riocentro está despoluída. É um símbolo de que as coisas estão erradas”, criticou.
Nos últimos anos, megaempreendimentos têm sido desenvolvidos no Rio de Janeiro. É o caso do Comperj, do Porto de Açu e da Companhia Siderúrgica do Atlântico. Esta última vai sozinha aumentar em 76% a emissão de gases no município, de acordo com o ambientalista.
“Somos palco de um evento sobre sustentabilidade, mas na prática o Rio de Janeiro está rasgando o compromisso internacional de reduzir suas emissões”, afirma Sérgio.
Para o biólogo Mario Moscatelli, falta seriedade na aplicação dos recursos públicos.
“A gente está numa situação dramática. Não falta dinheiro nem tecnologia. Precisamos efetivamente de ação e utilização correta dos recursos públicos”, explica.
Moscatelli diz que o Rio é exemplo de desenvolvimento sustentável que fica somente no papel.
“O tempo está passando e as lagoas continuam morrendo. Fala-se muito, gasta-se muito e o que eu encontro é a piora da situação”, lamentou o biólogo.
Apuração: Renan de Almeira
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