No Mulher Alternativa
![]() |
do site Amigos da Vila Mariana |
Uma das militantes do movimento negro com quem fiz um curso, certa vez, me disse a mesmíssima coisa: aquele samba da Vila Madalena com caipirinha de Smirnoff a R$18, sabe? Então, não é samba.
Samba é, pelo que fui aprendendo a ver, uma manifestação cultural que vai além do compasso dois-por-dois, de um pandeiro, um atabaque, um surdo, um cavaquinho. Samba é negritude - e negritude, por mais que eu me esforce, jamais terei.
O mito da democracial racial não passa de... um mito, oras. O fato de meu bisavô ser filho de um casal de escravos, muito provavelmente fruto da Lei do Ventre Livre, não faz com que eu tenha sido jamais tratada como negra. Minha pele é mais clara do que a maioria das peles claras do Brasil (só não mais que minha irmã, que consegue ser ainda mais branca), meus olhos são esverdeados, meu nariz tem um quê de nórdico, bem retão e pontudo, tenho sardas, meu cabelo é algo entre liso e ondulado. Por mais que eu reconheça e celebre minha negritude genética, no Brasil ela parece não importar muito. Acho uma agressão me dizer "negra" sem nunca ter sabido o que é ser tratada "como negra" por uma sociedade racista. Pelo contrário, sei que o fato de eu ser branca é que me deu muitos privilégios na vida como por exemplo a polícia sempre acreditar em mim, não pedir meus documentos e nem me revistar em blitz na rua. Pra ficar num dos mais corriqueiros.
Dizer que uma manifestação cultural complexa como o samba pode simplesmente ser importada por grupos de universitários brancos na USP ou na Vila Madalena, reproduzida, que aquilo ali é igualmente uma roda de samba, é coisa de quem certamente não vive o racismo na pele. Porque pra quem vive o racismo todos os dias e é rejeitado nas manifestações culturais tipicamente brancas (fico na literatura; vamos lá, você consegue citar 10 escritores ou escritoras negros/as de cabeça?), parece que está bem claro que vivemos num Brasil altamente racializado.
Tweet
0 comentários:
Postar um comentário