A
novidade nas eleições municipais do Rio de Janeiro pode se chamar Marcelo
Freixo. Como justificativa de suas pretensões à Prefeitura, ele
apresenta um elenco de ações políticas com posturas de
valorização das minorias,tendo-se destacado na condição de
presidente, na Assembleia Legislativa, da CPI das milícias, uma
tentativa de desmantelamento de um expressivo setor do crime organizado em
terras cariocas. Mas será que ele reunirá mesmo as condições mais
adequadas para o Rio? Confesso que, apesar da simpatia que a candidatura
me inspira, fica difícil qualquer certeza a respeito, dado o emaranhado
em que se transformou o nosso quadro político.
Com
todos os percalços – e não são poucos - e as muitas críticas que a ela se
possam fazer, a dobradinha Sérgio Cabral / Eduardo Paes desenvolveu entre nós
algumas ações positivas do poder público - as UPAs e UPPs,
por exemplo – e, ao contrário de seus antecessores, os dois tiveram a
sabedoria de não bater de frente com o Governo Federal , logrando recursos e
apoios daquela esfera maior, do que resultou, entre outros aspectos, uma
cidade menos violenta e que vem recuperando o seu prestígio planetário como
polo turístico . Agora mesmo acabou de ser nomeada pela UNESCO como Patrimônio
Mundial como Paisagem Cultural Urbana. E notícias dão conta que ela é a cidade
mais procurada pelos turistas do mundo inteiro.
Mas o
Rio de Janeiro ainda está bem longe de atingir os níveis de qualidade de vida
que o operoso povo carioca merece. O partido a que pertencem Cabral e
Paes tem bem a cara centrista dos dois, não se podendo
esperar mais do que o que estão fazendo: um misto de algumas
providências necessárias com outras de pouca efetividade social, amparado em
vigoroso marketing promocional, expressivo apoio financeiro e vinculações que
alguns consideram questionáveis , uma das quais envolvendo uma suposta ligação
– até aqui não comprovada, diga-se - entre o Governador e o pessoal da
Delta.
Ainda
assim, se o parâmetro de comparação para a reeleição do Eduardo Paes for a
administração anterior de César Maia, não há dúvida de que evoluímos: ficamos
livres dos factoides e da verborragia pouco produtiva do ex-prefeito, cada vez
mais sustentando posições direitistas, a ponto de – quem diria? –
terminar no DEM .
Rodrigo
Maia, filho de Cesar, e Clarissa, filha de Garotinho - em parceria inimaginável
em outros tempos, mas bem de acordo com a época em que vivemos - compõem
chapa de oposição declarada à reeleição de Paes. Vão contar certamente com a
quase totalidade de votos da direita carioca e com uma parcela ponderável
do grande fisiologismo que existe entre nós (a outra parcela estará com o atual
Prefeito) , além, é claro, de grande parte dos votos evangélicos.
Mas a eleição dos dois “herdeiros” seria, a meu ver, um retrocesso catastrófico
para a cidade.
No
sistema eleitoral brasileiro, panoramas assim provocam realmente alguma
perplexidade e muitas indagações na cabeça dos eleitores. Princípio por
princípio, o chamado voto da esquerda deveria se encaminhar para
Freixo. Não há deslizes conhecidos em sua trajetória política, até agora.
Freixo também se opõe a Eduardo Paes e tem sérias críticas à forma
como se tem tentado equacionar os problemas do Rio – alega que a
Prefeitura virou um balcão de negócios e que a segurança tem problemas não
revelados, afirmando, inclusive, que as milícias continuam crescendo na
cidade com uma certa complacência das autoridades. Sua posição deve
carrear significativa carga de votos, amparados pelo prestígio de um grupo
de artistas e intelectuais de notoriedade, como Vagner Montes, Marcelo
Cerrado, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros , além de dissidências do PT,
que apoia Eduardo .
Há,
contudo, problemas nesse processo eleitoral. Aonde poderá chegar a
candidatura Freixo, que pertence a um partido de pouca representatividade
e mínima visibilidade – o PSOL? Considerando que, hoje, infelizmente,
sistemas de alianças definem eleições e governabilidades, que apoios
adicionais terá Freixo em sua caminhada? E que papel acabará por
jogar nas eleições? Dissidente do PT em 2005, não estaremos
diante de um quadro muito parecido com o da candidatura presidencial de Marina
Silva, que acabou propiciando sobrevida ao candidato Serra?
É
óbvio que, se nos contentarmos em sempre optar pelo “menos pior” entre os
“possíveis” , o processo político não será jamais enriquecido com a seiva
das novas ideias. Mas sempre se corre o risco de acabar no pior
cenário. Marcelo Freixo parece ser um socialista de pés no chão:
não pretende a revolução impossível, mas acena em mexer nas mazelas
sociais do Rio com maior efetividade, a partir da visão ideológica que
possui. Rodrigo Maia e Clarissa dispensam comentários sobre o que (não)
esperar dessa parceria. Eduardo Paes é a continuidade de quem, a
despeito de um DNA político-ideológico muito discutível, funcionou, para
muitos, melhor do que os antecessores, principalmente pelo apoio
federal, que continua a ter. Há ainda as candidaturas de Aspásia Camargo (PV) e
Otávio Leite (PSDB), mas tudo indica que os verdes e os tucanos não terão
protagonismo nas eleições cariocas.
São
essas as peças desse intrincado jogo político que o eleitor carioca vai
ter que encarar.
No Direto da Redação
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