segunda-feira, 23 de julho de 2012

Quando beber, dirigir e matar não dá cadeia

Quando beber, dirigir e matar não dá cadeia



"Eu quero ela presa", diz pai de Vitor Gurman.
Quem clama por justiça é Jairo Gurman, pai do jovem de 24 anos assassinado numa calçada da Vila Madalena pela Land Rover de Gabriella Guerrero, exatamente um ano atrás.
A motorista responsável pela tragédia estava alcoolizada e dirigia em velocidade acima do permitido, segundo a polícia. Deveria estar presa para não matar mais ninguém. Como de costume, porém, Gabriella continua livre, leve e solta, sem nenhum perigo de ir para a cadeia.
"O sentimento é de indignação, revolta, dor e até de vergonha. Não dá para se conformar que, um ano depois, nada aconteceu", desabafou Jairo Gurman em entrevista a Giba Bergamim Jr., da "Folha", publicada na edição desta segunda-feira.
A impunidade virou lei. Ou o caro leitor do Balaio conhece um só motorista que tenha sido preso por matar alguém no trânsito ao dirigir depois de beber?
Até hoje, o Ministério Público não emitiu sequer um parecer e não se acha na obrigação de dar qualquer satisfação à sociedade. Enquanto a Justiça segue seus velhos e lerdos rituais, sem punir ninguém, pessoas continuam morrendo atropeladas todos os dias em São Paulo.
Ficam discutindo eternamente se crime de trânsito deve ser denunciado como homicídio doloso, que prevê pena de prisão, ou culposo (sem intenção de matar), que recomenda penas alternativas.
Claro que ninguém sai do bar, por mais que tenha bebido, com a intenção de matar um pedestre na calçada. Mas este será sempre um risco previsível, uma consequência muitas vezes inevitável. É como alguém brincar com um revólver carregado e depois pedir desculpas: "Ah, doutor, foi azar, matei o cara sem querer..."
Na semana passada, por exemplo, não aconteceu uma coisa nem outra com o jovem Thor, filho do megaempresário Eike Batista, que a bordo do seu carrão atropelou e matou recentemente um ciclista em rodovia do Rio de Janeiro. Ao contrário: a Justiça mandou devolver a sua carteira de motorista, antes mesmo do julgamento do caso.
Para se ter uma ideia do drama vivido pelas famílias das vítimas do trânsito, recomendo ver na internet o depoimento dado pela psicóloga Gradyz Ajzemberg, mãe de Vitor, ao programa Papo de Mãe, apresentado por Mariana Kotscho e Roberta Manreza, na TV Brasil, no último domingo (www.papodemae.com.br).
Só para lembrar o caso de Vitor Gurman aos senhores juízes e promotores, familiares e amigos do jovem assassinado organizam um ato para o próximo sábado, na mesma rua Natingui, onde ele morreu, no dia 28 de julho de 2011.
Jairo Gurman, que até hoje toma remédios para "segurar a dor", quer apenas que se faça justiça:
— O que a família quer é a Gabriella presa. Ela merece a pena em função de ter assassinado meu filho. É o justo, porque ela matou. Houve um assassinato. Ele foi atropelado de costas, andando na calçada. Foi morto covardemente. Se não houver punição, será uma tragédia.
De fato, à tragédia da morte costuma-se seguir, infelizmente, a tragédia da impunidade. Até quando?
Até o dia em que alguém for para a cadeia e as pessoas deixarem de dirigir seus carrões depois de beber, não por medo da Lei Seca, mas pela certeza de que serão presos se matarem alguém.

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