Para você, pode ser que cachorra signifique, além da fêmea do cachorro, aquelas funkeiras que faziam “au au” lá pelos idos dos anos 2000. E princesa, nada mais que uma descendente da linhagem do rei, que pode tanto ter dotes de Diana quanto de Stéphanie de Mônaco. Para o Culto dos Príncipes, uma espécie de “Clube do Bolinha Casto” que acontece na Igreja Celular Internacional, cachorras e princesas são os tipos de mulheres que eles encontrarão pela vida, e cabe a eles evitar o primeiro grupo e fazer vida com o segundo.
Liderado pelo missionário Claudio Brinco, o culto teve sua segunda reunião na terça passada, dia 31/07, e surpreendentemente reuniu duzentos participantes do sexo masculino (mulheres não são admitidas no local) que desejam encontrar princesas de Deus para uma vida próspera e longe de pecado. “A ideia é estimular uma nova cultura comportamental entre os seguidores da Igreja Celular Internacional (ICI), no que se refere a namoro e, claro, sexo”, afirma o líder, que é casado com Nãna Shara, filha de Baby Consuelo e irmã da pastora-princesa Sarah Sheeva. Sim, essa mesma, que abdicou do sexo há dez anos e afirmou, dia desses, que “ter uma vagina faz de você o ser mais precioso da Terra“.
Mas quem frequenta este culto num mundo tão cruel e machista e sexualizado?, você se pergunta, descrente. Saiba que muitos moços jovens, na casa dos vinte anos, procuram no culto uma forma de encontrar uma boa moça com quem possam se casar – e prover, como varões da casa. Solteiros, alguns nem mesmo tiveram namoradas no decorrer da vida, e estão mais do que dispostos a aceitar as regras: sexo, nem pensar. Beijo na boca? O pastor explica: “Beijo de língua não é pecado. Mas comida também não é e te leva à gula”. Portanto é melhor evitar. Aliás, o culto se vale de muitas metáforas para esclarecer a seus fiéis como deve ser o comportamento do príncipe:
“Beijo é igual a forno elétrico. Liga em cima e esquenta embaixo”
“A merenda é só depois do recreio. Príncipe aguarda as ordens do Rei”
“Se você semeia morango, vai colher morango. Se você semeia dinheiro, vai colher dinheiro”
E a masturbação, pergunta um fiel ao final do culto? “Por que é pecado se temos braços tão grandes? Porque Deus te deu o direito de decidir”. Banho frio e oração ajudam a seguir no caminho do Senhor. Mas e se seus amigos não-fiéis te criticarem pela escolha, te chamando de frutinha? O pastor prontamente responde: “A sociedade pode até te chamar de gay, mas Deus vai te chamar de Príncipe homem”. Não há o que temer. Bombardeados pela cultura pop, os fiéis tem até uma forma de encarar as recentes perguntas geradas por títulos de filmes brasileiros. Em outras palavras, é deselegante perguntar a um “irmão” se, “e aí… comeu?” – “Não se pergunta isso, em nome de Jesus!”, afasta Claudio.
A dedicação, por fim, se paga. Como quem alcançou os portões do paraíso, o pastor dá um golpe de esperança a seus fiéis castiços contando uma passagem bem íntima entre o próprio e sua esposa. “Por falta de dinheiro, a Light cortou a luz da minha casa. Quando cheguei, encontrei minha esposa me esperando com um jantar à luz de velas. Aquela noite foi tremenda! Quase mandei uma carta agradecendo à Light por ter cortado a luz”. Se a plateia for aplicada, entenderá que o que pega aqui é se manter puro e não cair em tentação, mas pode continuar pagando as contas de casa.
Foto: Paulo Marcos
Jezebel
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