sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Eleger Russomano seria eleger a parte demo da democracia

Eleger Russomano seria eleger a parte demo da democracia

O melhor e o pior da democracia

Marcelo Carneiro da Cunha  - Terra Magazine


Churchill disse que a democracia é o pior sistema que existe, tirando todos os outros. 
Nos melhores momentos a democracia nos trouxe o Sócrates e aquele Corinthians dos estranhos anos 80, com seus cabelos enormes e shortinhos mínimos. Nos ótimos momentos, nos traz fenômenos como essa menina em Florianópolis, Isadora Faber, que criou a sua página no Facebook para questionar a escola pública onde estuda e trouxe a casa abaixo, no melhor sentido.
 
Isadora se beneficiou de uma época na qual os direitos dos cidadãos se mostram consolidados ao menos o bastante para eles poderem dizer o que pensam sem consequências trágicas, no varejo. E se beneficiou ainda das novas tecnologias e das redes sociais. Menina de escola pública, e portanto não pertencente às classes mais abastadas, ela tem o seu computador, internet e sabe o que fazer com um e outro. O resultado deve ter sido as piores noites de sono para quem praticou incompetências na escola onde estuda. E que, aliás, já começou a ser reformada.
 
Isadora afirma que simplesmente usou o seu direito democrático e cidadão de expor a realidade a que era submetida. Os seus colegas também sofriam com as mesmas condições de não-ensino, mas, diferentemente de Isadora, não pensaram nas possibilidades que a democracia nos traz e ficaram em silêncio. Isadora, uma daquelas pessoas que puxam o tapete e produzem mudanças, não se acomodou e, com isso, mudou o mundo, ao menos na sua escola.
 
Passando do melhor para o pior do que a democracia tem para oferecer, as últimas pesquisas mostram o crescimento do pior candidato possível que essa eleição em SP tem para nos oferecer: um populista teocrático.
Qualquer uma das metades já seria um desastre em potencial, mas as duas unidas nos levam para Teerã. Uma amiga minha está vivendo em Teerã e, acreditem, aquilo é lugar para aiatolás e malucos, não para gente e, especialmente, não para mulheres.
 
Nosso nobre candidato da Igreja Universal veio informar que o seu plano de governo inclui a maravilhosa solução de colocar uma igreja em cada esquina.
Já imaginaram, caros leitores? Uma Universal em cada esquina, cobrando dízimo para você atravessar a rua? Com aqueles pastores com cara de quem não leu e não gostou – livro algum, eu quero dizer – e com aqueles ternos de qualidade pra lá de duvidosa, mandando no que a gente pode ou não pode fazer? Um prefeito propondo decretos e leis que permitam a igrejas fazer o que elas ainda não possam, e com apoio do poder público?
 
Já imaginaram a Parada Gay num governo desses? A Virada Cultural em um deserto de cultura? Já imaginaram o mico de a gente ter que explicar pro mundo que a maior cidade do Brasil virou um templo e um bingo, ao mesmo tempo? Já imaginaram o prefeito querendo ensinar criacionismo nas escolas de São Paulo? Imaginaram a escuridão absoluta se instalando no comando da Educação?
Se alguém tem dúvida do que nos espera, basta olhar pra aquela monstruosidade ali no Brás, acho que da Deus é Amor. É isso, caros leitores, e por conta de democracia.
 
A democracia diz que a maioria dos cidadãos vota e leva. Mas isso não quer dizer que a maioria esteja com todos os parafusos no lugar na hora em que escolhe o seu candidato e o nosso governante. A maioria, por muitas e muitas vezes, quer mais é alguém que prometa o incumprível, o mais fácil, e por isso mesmo impossível. O mais preconceituoso, e por isso mesmo mais simples. 
Assim, movidos a petismo x antipetismo, podemos, todos os bravos paulistanos de origem ou adoção, nos descobrirmos a partir de outubro governados pelo século 12.
 
Já aconteceu antes, não é mesmo? Já tivemos Jânio Quadros, Paulo Maluf, Pitta, e a cidade mergulhou no pântano. Agora mesmo, com Kassab, vivemos um desses maus momentos, a partir de uma má escolha feita em uma má eleição. Acontece.
A democracia também diz que se  coisa não for bem, em quatro anos teremos a chance de desfazermos o erro elegendo outra forças e isso é verdadeiro.
O problema é que eleger forças tão primitivas pode, simplesmente pode, criar um ambiente tão contaminado que leve o sistema ao seu limite e além dele. São Paulo aguenta muita coisa, e os prefeitos listados acima são um bom exemplo. Mas tanta escuridão reunida, acho que nunca tivemos que enfrentar. 
Essa eleição vai ser um teste para uma cidade que precisa desesperadamente de uma série de bons governos para entrar no século 21 sem afundar no processo.
 
Eu sou um democrata e confio nas pessoas. Acredito que na hora do vamos ver a lucidez predomine. Por via das dúvidas melhor ir pensando nos cenários agora mesmo, e, de todas as formas possíveis. Melhor que o nosso bravo representante do capeta fique por aqui mesmo, no primeiro turno, de onde nunca deveria sair, e onde nunca deveria ter entrado.
A democracia é a melhor forma de fazer escolhas, na comparação com todas as outras. O que não quer dizer que ela, como todas as outras, não possa também nos trazer grandes e enormes frases, e grandes e enormes desastres.

1 comentários:

francisco martins dos anjos filho disse...

ficou dificil para sampa, russomano com os neopentecostais e serra com a opus dei, tfp, carismaticos , os dois são a teocracia, a alienação, o sucateamento e a entrega do patrimonio publico