quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Estupro é estupro: Veja aqui o guia oficial dos tipos de estupro.

Estupro é estupro:  Veja aqui o guia oficial dos tipos de estupro.

Deputado americano afirma que estupro ‘legítimo’ não engravida. Veja aqui o guia oficial dos tipos de estupro.

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No domingo passado, Todd Akin, deputado do Missouri, candidato a senador republicano e membro do comitê do Ministério da Ciência, Espaço e Tecnologia, afirmou que gravidez resultante de estupro era “algo raro” porque “se o estupro é legítimo, o corpo feminino consegue interromper a possível gravidez”. Akin rapidamente disse que “se enganou”, mas não rescindiu suas afirmações de que mulheres possuem poderes mágicos em seus ovários para combater esperma de estuprador — ou de que há uma hierarquia referente a “níveis” diferentes de estupro.
Se você não está familiarizada com esse conceito maravilhoso que é seu útero poder escolher entre vários tipos de estupro, não se apavore. Temos aqui o guia perfeito para você.
Estupro Que Não Engravida
Por décadas, os conservadores afirmaram que mulheres não podem engravidar de estupros “legítimos” graças aos seus sábios úteros, fluidos mediúnicos e “secreções” com senso apurado. (Hum, se legisladores podem aplaudir o poder onisciente de nossas vaginas, como não conseguimos controlá-los com elas?)
Em 1988, um deputado republicano da Pensilvânia chamado Stephen Freind disse que a chance de uma mulher estuprada engravidar era “uma em milhões e milhões e milhões” porque o ato do estupro faz com que a mulher “produza uma certa secreção” que mata espermatozóides do mal. Eu não sei vocês, mas minhas “secreções” são tão criteriosas que elas começam a ser produzidas assim que um desses fãs de Ayn Rand se aproxima de mim em um bar, antes mesmo dele conseguir terminar a palavra “Objetivismo”. Acho que minha vagina é muito evoluída.
Em 1995, Henry Aldridge, deputado da Carolina do Norte, falou ao comitê do Tesouro que “os fatos mostram que pessoas que são estupradas — estupradas de verdade — seus fluidos não são produzidos, suas funções corporais falham e elas não engravidam. Autoridades médicas concordam que isso é uma raridade, se é que alguma vez aconteceu”. Plano B: Se suas secreções não conseguem matar o esperma do mal, você se “resseca por dentro” e dá uma sacudida nas partes depois de ser estuprada. Sem neném, sem problema!
Aí, houve esse famoso caso do Christian Life Resources  , em 1999, onde John C. Willke, um médico que foi presidente do Comitê Nacional do Direito à Vida, em que ele basicamente inventou umas baboseiras:
Finalmente, o trauma físico é certamente uma das razões mais importantes pela qual uma vítima de estupro raramente engravida. Toda mulher tem noção de que estresse e fatores emocionais alteram seu ciclo menstrual. Para ficar e permanecer grávida, o corpo da mulher precisa produzir uma mistura sofisticada de hormônios. A produção de hormônios é controlada por uma parte do cérebro que é facilmente influenciada pelas emoções. Não há trauma emocional maior para uma mulher do que o estupro. Isso pode radicamente mudar a possibilidade de ovulação, fertilização, fecundação e até o desenvolvimento da gestação. Então qual é a porcentagem de redução de gravidez neste caso? Ninguém sabe, mas este fator certamente corta o último número em pelo menos 50% ou mais.
Entenderam, moças? Se você for normal, você nunca vai se recuperar emocionalmente de um estupro porque é “o maior trauma emocional” pelo qual você pode passar. Mas pelo menos você vai estar tão instável que não poderá ter um bebê! Se seu corpo permite que a biologia básica aconteça ali dentro, quer dizer que seu estupro nem foi lá tão traumático. Vamos tentar de novo?
Estupro Relaxa e Goza
Em 1990, um candidato republicano ao governo do Texas, Clayton Williams disse a fazendeiros que vítimas de estupro deviam encarar  o fato no tranco e tentar aproveitá-lo — tipo como quando você planeja um piquenique, mas aí chove e você decide ver um filme ao invés, e percebe ao fim do dia que foi uma tarde gostosa, afinal! Sim, Williams literalmente comparou estupro ao mau tempo que tomou de assalto seu discurso, arrematando com a máxima “se é inevitável, relaxe e goze”.
Williams não é o único conservador a dizer que estupro é comparável a uma mudança climática infeliz; em 1997, um juiz federal nomeado por Bush, James Leon Holmes, disse em um artigo que “se preocupar com vítimas de estupro é irrelevante, porque concepções decorrentes de abuso ocorrem com a mesma frequência que neva em Miami”. Por causa dos fluidos! E das secreções! E da CIÊNCIA.
Estupro Político
Há alguns dias, Dave Catanese, do Politicotuitou que é “impossivel” saber se Todd Akin realmente quis dizer o que disse quando afirmou que “estupro legítimo” não engravida. “Talvez”, supôs Catanese, Akin “não quis dizer ‘legítimo’. Talvez ele tenha tentado dizer que se ‘alguém É realmente estuprada’ ou ‘se um estupro de fato acontece’.” Aí Catanese ficou todo furibundo quando as pessoas o acusaram de apologia ao estupro, tuitanto, “A Esquerda é a geralmente primeira a encerrar o debate dizendo que o assunto é “zona proibida” quando interessa. Esses momentos não devem servir para abrir um debate maior?”
É, Dave tem muitas perguntas a fazer! Temos aqui mais algumas: Por que é errado pensar que Akin quis dizer “legítimo” quando ele literalmente disse “legítimo”? Por que deveríamos perder um milissegundo do nosso tempo analisando os pensamentos profundos de Akin sobre a “ciência” por trás da habilidade do corpo feminino em “parar de funcionar” durante um estupro? Por que Akin merece o benefício da dúvida? Por que um repórter do Politico está mais preocupado com as doidas mitológicas que afirmam falsamente terem sido estupradas do que com o fato de um representante de Estado com cadeira no Comitê da Casa de Ciência não saber como funciona uma gravidez?
Estupro Forçoso e/ou Estupro por Ataque
No ano passado, O Grande Protetor das Mulheres Todd Akin uniu forças com o candidato à vice-presidência republicano Paul Ryan para copatrocinar o “Ato para o Fundo de Aborto ao Não-Contribuinte”, que introduziu o incrível novo termo “estupro forçoso” ao nosso vernáculo. Fundos federais só podem ser usados para aborto em casos de estupro; o “Ato para o Fundo de Aborto ao Não-Contribuinte” procurou se distanciar dessa exceção deixando claro que apenas gestações resultantes de “estupro forçoso” se qualificariam para abortos patrocinados pela federação. O significado real de “estupro forçoso” nunca foi claramente definido, e o termo foi eventualmente retirado do projeto de lei.
Há alguns dias, a campanha de Romney e Ryan disse que homens discordavam da afirmação de Akin e que “a administração Romney-Ryan não se oporia a abortos nas circunstâncias de estupro”. Engraçado, já que Ryan foi um dos copatrocinadores originais do projeto de “estupro forçoso”e andou dizendo que aborto deveria ser ilegal em todos os casos, exceto quando a mãe corre risco de morte.
Estupro Marital, ou Estupro “de Brincadeirinha!”
No começo deste ano, o senador por Idaho Chuck Winder fez bom uso de seu tempo no senado ao avisar a todos sobre aquelas donas de casa matreiras e perigosas que obviamente não leram as letras do contrato que dizem que casamento = estupro nunca mais. “Eu gostaria que quando uma mulher fosse ao médico, com um problema de estupro, que esse médico perguntasse a ela sobre seu casamento, se essa gravidez foi causada por relações normais ou se por estupro”, disse ele. Medo da “esposa acusadora de estupro” não é novidade; como um legislador do Estado, Akin votou uma única vez a favor de uma lei anti-estupro-marital depois de se questionar se ela poderia ser usada em “um divórcio complicado como uma ferramenta legal para destruir o esposo”.
“Estupro” Estupro
Lembra quando a Whoopi Goldberg disse que o Roman Polanski, assim, não “estuprou-estuprooou” aquela adolescente? “Eu sei que não foi um “estupro-estupro”, ela disse no The View. “Foi alguma outra coisa, mas não acredito que tenha sido estupro-estupro. Ele foi preso e aí quando foi liberado disse ‘você sabe que esse caras vão me dar um século na cadeia e eu não vou ficar’ e foi por isso que ele saiu”. Esse “alguma outra coisa” que não é estupro-estupro é alguma coisa parecida com…
Estupro Cinzento
Jovens leitores podem pensar que “estupro cinzento” tem alguma coisa a ver com um livro popular aí, mas é um termo que oficialmente tem sido usado desde os anos 90. Muitas pessoas pensam que aCosmopolitan inventou o termo “estupro cinzento” em 2007, quando Laura Session Stepp o definiu como “sexo que fica entre o consentido e o negado e é mais confuso que o estupro que acontece em encontros, porque na maioria das vezes nenhum dos dois sabe quem queria o quê”. Mas Katie Roiphe vergonhosamente alegou que “Há uma área acinzentada em que o estupro de uma pessoa a noite ruim de outra”, em seu livro de 1994 “The Morning After: Fear, Sex and Feminism”.
Quando o artigo da Cosmopolitan apresentou um painel sobre os perigos do “estupro cinzento”, Linda Fairstein, a antiga chefe da unidade de crimes sexuais na promotoria de Manhattan, disse ao New York Times que esse conceito já existia antes mesmo da revista torná-lo uma tendência. “Certamente, no sistema de justiça criminal, não existe algo como estupro cinzento”, disse. “Estupro cinzento não é um novo termo e nem uma nova experiência. Talvez seja para jornalistas, mas para nós que temos trabalhado com advocacia e prática da lei, esta descrição de algo que fica em uma área cinzenta, indefinida, sempre esteve aí. Tem sido meu trabalho no uso da lei separar os fatos”.
Estupro no ‘date’
Estupro no “date” ou “encontro” é o oposto do estupro praticado por estranhos, que é o tipo favorito de estupro das pessoas, porque se quem ataca é um selvagem desumano que pula de um arbusto e nunca mais é visto (a menos que leve um tiro fatal por um príncipe encantado portando uma arma especialmente designado para situações como estas), não há necessidade de reconhecer a cultura do estupro e educar as pessoas sobre as complicações de consentir.
O termo passou a fazer parte da consciência nacional em 1985, quando a revista Ms. publicou um estudo de três anos patrocinado pela federação feito pela psicóloga Mary P. Koss sobre estupro decorrente de encontros nos campus de faculdades. O estudo descobriu que uma em quatro universitárias foram vítimas de estupro ou tentativa de, e uma em quatro passou sofreu ataque sexual que se encaixava nas definições legais de estupro à época. No artigo, Koss encorajava as mulheres a reconsiderarem suas experiências passadas e perguntarem a si mesmas se elas de fato haviam consentido, mesmo se a pessoa em questão fosse um amigo.
Quando colocamos a palavra “encontro” como um modificador da prática de estupro, o termo se torna mais brando e menos violento; ele implica que o atacante e a vítima tinham uma relação amigável, tornando a situação ainda mais contorcida. O que pode até ser. Mas o “estupro no encontro” é muito mais comum que o “estupro por estranhos”. De acordo com o RAINN , rede nacional de estupro, abuso e incesto, aproximadamente dois terços de estupros foram cometidos por algum conhecido da vítima, 73% dos ataques sexuais foram cometidos por nã0-estranhos, e 38% dos estupradores eram amigos ou conhecidos.
Por que temos necessidade de especificar quando um estupro é feito “em um encontro” se esta é só uma norma infeliz?
Estupro
A ong RAINN define estupro como “intercurso sexual forçado, incluindo penetração vaginal, anal ou oral. Penetração pode ser por um membro físico ou por um objeto”. Para esclarecer: “vítimas de estupro podem ser forçadas por ameaças ou de forma física. Em oito de 10 estupros, nenhuma arma é usada além da força física. Qualquer um pode ser uma vítima de estupro: mulheres, homens ou crianças, hetero ou homossexuais”.
(E aqui vai mais uma informação adicional para o Senhor Cientista Akin: de acordo com este artigo de 1996 no American Journal of Obstetrics and Gynecology, “entre mulheres adultas é estimado que 32.101 gestações sejam decorrentes de estupro a cada ano”. De acordo com o Planned Parenthood , mais de 5% de todos os estupros resultam em gravidez).
Vamos parar de diferenciar os tipos de estupro como se eles fossem sabores diferentes na sorveteria. Políticos precisam superar esse medo de adotar uma atitude de tolerância zero em relação ao estupro por medo das pessoas sairem gritando “fui estuprada” cada vez que tiverem um dia ruim. Isso não vai acontecer. Sabe o que é mais perigoso? Permitir que legisladores como Akin façam declarações inquestionavelmente falsas. Se você não sabe nada de biologia básica, você não deveria ostentar uma posição política governamental que te dá poder sobre o corpo de milhares de mulheres.
Claro, seria muito mais fácil se nossos úteros pudessem definir estupro por nós. Mas eles não podem, e é loucura fingir que sim.

Jezebel

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